Perseguição a cristãos é denunciada durante megaoperação de segurança na China

Prisões em massa, bloqueios a igrejas e repressão digital são descritos por fontes locais na província de Zhejiang

Por Ana Raquel |GNEWSUSA 

Centenas de cristãos teriam sido detidos durante uma ampla operação de segurança realizada na cidade de Wenzhou, na província chinesa de Zhejiang, em meados de dezembro. As informações foram divulgadas por fontes locais à organização internacional China Aid, entidade que monitora e denuncia casos de restrição à liberdade religiosa na China.

De acordo com os relatos, a ação ocorreu na noite de 15 de dezembro, quando moradores da cidade de Yayang foram surpreendidos por um espetáculo incomum de fogos de artifício na praça administrativa local.

Inicialmente interpretado como parte de algum evento oficial, o show pirotécnico teria servido, segundo testemunhas, para distrair a população enquanto forças de segurança avançavam simultaneamente sobre comunidades cristãs da região.

Mobilização de forças especiais e prisões coletivas

Ainda segundo a China Aid, desde o dia 13 de dezembro, mais de mil agentes — incluindo policiais regulares, equipes da SWAT, forças antimotim e até bombeiros vindos de cidades vizinhas como Hangzhou e Pingyang — foram deslocados para Yayang. O objetivo seria conduzir prisões em larga escala, interrogatórios e bloqueios preventivos.

No decorrer da operação, uma igreja local conhecida como Assembleia de Yayang teria sido cercada e posteriormente invadida por forças especiais. Estradas de acesso ao templo foram bloqueadas, fiéis impedidos de entrar e pertences pessoais teriam sido confiscados durante as abordagens, conforme relatos colhidos pela organização.

Entre os dias 16 e 17 de dezembro, novas detenções teriam ocorrido, ampliando o número de pessoas levadas para interrogatório. A campanha policial, segundo fontes locais, se estendeu por aproximadamente cinco dias, criando um clima de forte tensão na comunidade.

Controle de informações e repressão digital

Além da presença física das forças de segurança, moradores relataram que houve controle rigoroso das informações nas redes sociais durante o período da operação. Comentários que mencionavam detenções, buscas em residências e apreensão de bens teriam sido removidos rapidamente das plataformas digitais chinesas.

Esse tipo de controle é apontado por especialistas como parte de uma estratégia recorrente do regime do presidente Xi Jinping para limitar a circulação de narrativas que contrariem a versão oficial do governo, especialmente em temas sensíveis como religião.

Lideranças religiosas entre os principais alvos

Segundo a China Aid, a operação teria como foco duas figuras conhecidas da comunidade cristã local: Lin Enzhao, de 58 anos, e Lin Enci, de 54. Cartazes espalhados pela cidade os apresentavam como “procurados”, com acusações de envolvimento em atividades ilegais e oferta de recompensas que variavam entre 1.000 e 5.000 yuans por informações sobre seu paradeiro.

Documentos oficiais citados pela organização descrevem Lin Enzhao como alguém ligado a grupos criminosos. No entanto, entre os fiéis, ele é visto como um líder religioso que, há mais de uma década, se opôs à demolição de símbolos cristãos, como cruzes, e à exigência de exibição de símbolos do Partido Comunista em igrejas locais.

Histórico de tensão entre Estado e comunidades cristãs

A cidade de Yayang abriga uma das comunidades cristãs mais organizadas da região, fator que, segundo analistas internacionais, contribuiu para o endurecimento das ações estatais nos últimos anos.

Desde 2014, quando o governo chinês iniciou uma campanha para remover cruzes de igrejas na província de Zhejiang, fiéis locais têm promovido manifestações pacíficas e ações coletivas em defesa de seus templos. Em 2017, confrontos entre cristãos e forças policiais foram registrados durante tentativas de instalação obrigatória de câmeras de vigilância, deixando feridos de ambos os lados.

Preocupação internacional com a liberdade religiosa

Organizações de direitos humanos e grupos cristãos ao redor do mundo acompanham o caso com apreensão. Para esses observadores, os relatos vindos de Zhejiang reforçam preocupações já antigas sobre os limites impostos à prática religiosa na China, especialmente a comunidades que não se submetem integralmente às diretrizes do Estado.

Embora o governo chinês alegue agir em nome da ordem pública e da legalidade, líderes cristãos internacionais defendem que liberdade de fé e de consciência são direitos fundamentais, que não deveriam ser tratados como ameaça à estabilidade política.

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