Decisão provoca choque político e evidencia ofensiva sistemática contra conservadores nas instituições estratégicas
Por Ana Raquel |GNEWSUSA
O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, assinou nesta quarta-feira (3/12) as portarias que determinam o desligamento de Alexandre Ramagem e Anderson Torres da Polícia Federal. Embora apresentadas como medidas administrativas, as decisões operam, na prática, como demissões políticas de dois dos nomes mais associados ao grupo conservador aliado de Bolsonaro dentro da corporação. Os atos serão publicados no Diário Oficial da União nesta quinta-feira (4), seguindo determinações do Supremo Tribunal Federal (STF).
A ação reacende críticas dentro da oposição e de especialistas que enxergam uma escalada sem precedentes de interferência, tanto do Executivo quanto do Judiciário, sobre agentes ligados à direita. O episódio é visto como mais um capítulo da série de decisões duras — e muitas vezes contestadas — do STF no contexto das investigações sobre a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023.
Nomes ocultados e transparência questionada
As planilhas da Polícia Federal no Portal da Transparência trazem os nomes dos servidores mascarados “por segurança”. Na prática, isso impede qualquer verificação pública sobre a remuneração que Ramagem e Torres teriam direito, levantando suspeitas sobre falta de transparência num momento em que o governo afirma prezar pela abertura de dados.
Mesmo com o desligamento, ambos continuam respondendo a processos administrativos disciplinares (PADs) dentro da corporação.
Ramagem: condenado, perseguido e declarado foragido
Alexandre Ramagem — hoje deputado federal pelo PL do Rio de Janeiro e ex-diretor da Abin no governo Bolsonaro — foi condenado pela Primeira Turma do STF a 16 anos de prisão. Para aliados, a pena desproporcional evidencia o que chamam de justiça de exceção aplicada a figuras da direita.
Pouco antes do julgamento, Ramagem deixou Brasília rumo a Boa Vista. De lá, seguiu por via terrestre para a região de fronteira com Guiana ou Venezuela. Atualmente, é considerado foragido por supostamente estar em território norte-americano. Para parlamentares oposicionistas, a perseguição é tão intensa que “qualquer movimento vira prova de fuga”, enquanto a defesa sustenta que não houve descumprimento deliberado de ordem judicial.
Anderson Torres: a maior pena e a prisão imediata
Anderson Torres — ex-ministro da Justiça de Bolsonaro e ex-secretário de Segurança do DF durante os atos de 2023 — recebeu pena ainda maior: 24 anos de prisão. Após o trânsito em julgado, ele foi preso e levado ao complexo da Papuda, no prédio conhecido como “Papudinha”.
Entre juristas críticos ao STF, a detenção imediata de Torres reforça a tese de que a Corte tem atuado mais como agente político do que jurídico, adotando punições que ultrapassam a razoabilidade penal tradicional.
Escalada de poder e ambiente de tensão
A oposição denuncia que o governo Lula, apoiado por decisões cada vez mais expansivas do STF, promove uma limpeza interna ideológica em órgãos estratégicos como a PF e a Abin, removendo figuras ligadas ao antigo governo enquanto mantém intocados aliados do petismo — mesmo em casos de investigações ou escândalos que envolvem o atual governo.
O clima no Congresso é de crescente tensão. Parlamentares do PL, PP e Republicanos afirmam que a perda do vínculo de Ramagem e Torres com a PF é simbólica: demonstra que qualquer ligação com Bolsonaro virou suficiente para transformar adversários políticos em alvos preferenciais do sistema.
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