Forças Armadas reforçam defesas em Caracas, ampliam exercícios em áreas estratégicas e divulgam vídeos de equipamentos militares em operação
Por Paloma de Sá |GNEWSUSA
A Venezuela intensificou, nas últimas semanas, uma ampla demonstração de força diante da crescente presença militar dos Estados Unidos no Caribe. Imagens divulgadas por unidades das Forças Armadas Nacionais Bolivarianas (FANB) mostram movimentações de tropas, reforço de defesas aéreas, exercícios com munição real e ações de preparação em regiões estratégicas do país, incluindo a capital, Caracas.
A escalada ocorre após declarações de Washington sobre a possibilidade de um bloqueio aéreo ao redor da Venezuela.
Fortificação de Caracas e reforço do corredor Caracas–La Guaira
Um dos focos da estratégia venezuelana é o eixo rodoviário Caracas–La Guaira, corredor considerado vital por ser a principal ligação terrestre entre a capital e o litoral caribenho. Imagens recentes divulgadas por autoridades militares mostram a instalação de barreiras antiveiculares de concreto — conhecidas como “ouriços” — ao longo de pontos da rodovia, especialmente próximos a áreas estreitas onde comboios blindados seriam naturalmente forçados a reduzir a velocidade.
Esses obstáculos aparecem próximos a equipamentos pesados com marcação das forças de engenharia venezuelanas, indicando que as estruturas fazem parte de um plano integrado de defesa. Em pronunciamento recente, Maduro afirmou que Caracas está sendo preparada “rua por rua, comunidade por comunidade” para resistir a qualquer tentativa de incursão estrangeira.
Exibição de sistemas de defesa aérea e radares russos
Paralelamente, as FANB têm divulgado vídeos mostrando a mobilização de plataformas antiaéreas de origem russa. Entre os equipamentos apresentados estão:
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Radar P-18-2M de alerta antecipado, instalado na Ilha Margarita;
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Sistemas Buk-M2E, de médio alcance;
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Pechora S-125, de menor alcance, cujos módulos foram exibidos sendo limpos e restaurados por soldados.
Apesar das exibições públicas, especialistas independentes têm apontado dúvidas sobre o estado operacional dos sistemas mais complexos — como os S-300, que não foram vistos em recentes exercícios militares divulgados pelo governo.
Nas últimas semanas, também chamou atenção a chegada a Caracas de uma aeronave sancionada internacionalmente por transportar carga militar sensível. Autoridades russas afirmaram que o avião levou novos sistemas antiaéreos para reforçar a defesa venezuelana, incluindo unidades Pantsir-S1 e Buk-M2E, embora os detalhes da entrega não tenham sido oficialmente confirmados por Caracas.
Treinamentos, exercícios com munição real e simuladores
As forças venezuelanas têm realizado uma série de exercícios de prontidão. Entre eles:
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Treinamentos com drones em campos militares nos arredores de Caracas, utilizando simuladores improvisados baseados em videogames populares;
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Operações com munição real em uma área isolada próxima à costa, a menos de 40 quilômetros de onde navios de guerra norte-americanos estiveram recentemente ancorados em Trinidad e Tobago;
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Mobilização de tropas da milícia bolivariana, força auxiliar composta por voluntários, cuja expansão foi anunciada pelo governo desde agosto.
Embora o governo alegue que a milícia tenha atingido milhões de integrantes, analistas militares contestam tanto o número quanto o grau de treinamento disponível.
Aviões militares voltam a sobrevoar cidades importantes
Civis em diferentes regiões da Venezuela também testemunharam demonstrações aéreas consideradas raras nos últimos anos devido à limitação de recursos e manutenção da frota.
Em cidades como Maracay, caças F-16 sobrevoaram o centro urbano a baixa altitude. Na Ilha Margarita, aeronaves Su-30 — consideradas as mais capazes da Força Aérea venezuelana — cruzaram o céu em formação.
Essas exibições representam uma porcentagem significativa dos aviões de combate ativos do país, cuja disponibilidade é reduzida devido à escassez de peças e às sanções internacionais.
EUA ampliam presença militar no Caribe
As movimentações venezuelanas ocorrem simultaneamente ao aumento da atividade militar norte-americana na região. No fim de novembro, navios dos EUA — incluindo o porta-aviões USS Gerald Ford — foram detectados em operação ao lado de destróieres no Caribe. Aeronaves de reconhecimento, caças e bombardeiros também participaram de exercícios próximos ao território venezuelano.
Apesar da disparidade de capacidades militares entre os dois países, analistas avaliam que, para o governo de Maduro, uma escalada no conflito teria caráter existencial, o que explicaria o amplo esforço de preparação defensiva observado nas últimas semanas.
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