
Além da dor pela morte de Lídia Borges, a família da jovem assassinada pelo ex-namorado em South San Francisco, em dezembro, precisou lidar com outro baque. Após criar uma vaquinha no GoFundMe, para ajudar a família, a colega de casa dela, Andressa Moraes, se negou a entregar o dinheiro, com a justificativa de que os valores deveriam ser apenas para pagar a funerária. Felizmente, com o apoio da comunidade brasileira, uma nova campanha foi criada, e arrecadou bem mais do que a de Andressa.
Leidiane, a irmã de Lídia, que foi aos Estados Unidos fazer os trâmites, contou a história com exclusividade ao repórter investigativo Thathyanno Desa, no programa Lado a Lado com a Verdade. “Quero agradecer a todos que colaboraram, que depositaram carinho. Eu agradeço de coração a todo mundo que ajudou. Serei eternamente grata a todo o apoio que tenho recebido”, disse.
Ela já havia desabafado, que um dos momentos mais difíceis, foi quando viu que Andressa e Barbara, que moravam com Lídia, desfizeram o quarto e doaram os móveis. “Houve uma discussão a respeito disso. Eu não me recordo de ter concordado de ter desfeito o quarto da minha irmã. Era uma pessoa viva, alegre, expontânea. Esbanjava alegria, esbanjava positividade. Você conversa com a pessoa e recebe a notícia de que ela não está mais aqui. E você entra em uma situação de total desespero. Para minha mãe foi ainda pior. Acho que ela nunca vai se recuperar. Eu não comia, não dormia. E do quarto, eu não me lembro de nada a respeito disso. E não teria aceitado. Eu vim para cá para resolver isso, resolver o translado da minha irmã. Minha irmã veio sozinha. E em áudio, disseram que eu concordei [em desfazer o quarto] e sinceramente, em não me recordo. Falaram que as coisas já estavam prontas, que o rapaz ia buscar, e eu questionei, eu disse que eu iria ficar no quarto da minha irmã. Não conheço ninguém. E me falaram ‘sinto muito, ja desmanchamos o quarto, já doamos as coisas’. E eu lembro que a minha mãe ficou muito nervosa. Ela já queria pegar o telefone e brigar. Eu disse que não ia resolver nada. Mas elas batem na tecla que eu autorizei. Até ouvi alguns audios de novo, e não teve essa conversa. Eu estava vindo para cá, e até então, não conhecia ninguém. A gente pagou hotel por 10 dias. Depois fui fazendo amizades. Tive que ficar em hotel, porque o quarto da minha irmã foi desmanchado e eu nao tinha onde ficar”, conta Leidiane, que chegou a San Francisco no dia 31.
Ela também contou os detalhes de quando Andressa se negou a repassar o dinheiro do GoFundMe.
“Eu acho que aconteceu algum problema de comunicação. A gente sabia da vaquinha, ela disse que ia fazer para nos ajudar para arcar com as despesas. Eu falei com ela no dia 5, e no dia 6 ela mandou um print, dizendo que estava bloqueado, e que estava previsto para ser liberado no dia 11. Neste meio tempo, uma pessoa com o nome de Janine, de um programa de apoio a vítimas na California, entrou em contato, ofereceu ajuda psicológica e financeira e eu aceitei. Passou um valor para ajudar nas despesas da funerária. Eu falei para a Andressa, que o dinheiro estava demorando, e eu precisava voltar para o Brasil. Paguei a diferença da funerária e pedi para depositar o dinheiro na conta da mãe. E ela disse que não, que fez a vaquinha especificamente para pagar a funerária, e como eu ja tinha feito, não achava certo me passar o valor, e preferia devolver. No texto fala em despesas com translado. E eu entendo que o translado envolve tanto levar minha irmã de volta para o Brasil. Recebi informações da funerária que a minha irmã não vai para Belo Horizonte. Vai para São Paulo, ou seja, a despesa vai ficar maior. A funerária vai ter que ir buscar minha irmã em Brasília ou São Paulo, e vai ficar mais caro. Tem que pagar o sepultamento, o lote no cemitério, mandar as coisas da minha irmã. Estamos passando por uma situação muito difícil. Se eu despachar por navio, vai demorar 2, 3 meses para chegar. Vamos ter o sofrimento de ver minha irmã chegar, sepultar minha irmã, e depois chegar as cosias dela e ter outro sofrimento. Isso vai reabrir a feriada. Minha mãe vai acabar sofrendo tudo isso de novo. Eu não quis mandar por contêineres por isso. Então eu arrumei as coisinhas da minha irmã em malas. Muitas pessoas fizeram doação de malas e quero agradecer muito por isso. Então eu vou mandar as coisas dela comigo. Chegando tudo de uma vez, vai ser mais fácil lidar com a minha mãe. Tem a despesa da funerária no Brasil, despesa do translado, até os gastos com passagem, hotel. Não é só a funerária. A funerária é uma delas. E ela entendia que se me desse esse dinheiro, estava agindo de forma errada. Então eu pedi uma declarado por escrito, dizendo que ela não me repassou o valor, porque senão, as pessoas podem pensar que tive acesso ao dinheiro. E contei para a minha mãe, que ela não iria repassar o dinheiro, que nós íamos ter que nos virar de alguma forma, e a minha mãe se desesperou”, conta.
Em um áudio enviado a Lediane, Andressa confirmou que ela não deveria mais contar com o dinheiro.
“Não adianta mais. A gente já sabe o que aconteceu. Como fui eu que fiz o GoFundMe, eu que decido se eu vou refundar (devolver a quem doou) ou não. Eu já decidi que eu vou refundar. Então não conte mais com esse dinheiro. Peço desculpas. Mas a Lídia com certeza já falou que eu sou muito correta em relação a isso. Então, como fui eu que fiz, eu que decido, estou refundando, já que a funerária já está paga. Até sugeri que para que fizesse um GoFundMe para ajudar vocês e ajudar a família”, disse Andressa, que continuou. “Acho interessante, a gente desconhecia dessa quantidade de amigos que a Lídia tinha aqui. Ela falava para todo mundo que a família dela era a gente, que ela não tinha ninguém, e do nada aparece um monte de gente. Desconheço. E quando estava no perrengue, ninguém ofereceu ajuda. Não mande mais mensagens. Estamos para ajudar no que for, em outros quesitos. Nessa questão, eu gostaria de não entrar mais no assunto. O assunto está encerrado. Não conte com o dinheiro”, disse Andressa.
“Quando disse que a minha irmã nao tinha amizade, ela estava muito enganada. Minha irmã sempre teve muita amizade, onde quer que ela passou”, respondeu Leidiane.
A irmã contou ainda que o fato de Lídia parar de trabalhar com Andressa, e trabalhar por conta própria, causou um mal estar. “Elas tiveram ate uma discussão, por ela ter começado a trabalhar por contra própria e as duas se estanharam. Minha mãe dizia, que se o clima estava ruim, era para sair da casa. Ela já não estava nem cozinhando em casa para não ter contato. Ela estava providenciando para sair da casa em janeiro. O clima não estava muito agradável. Eu não tenho detalhes, porque ela conversava mais com a minha mas, mas ela estava planejando sair em janeiro”, revelou.
Thathyanno lembrou que nas duas entrevistas, Andressa levou informacoes diferentes. Em uma, disse que não conhecia Geraldo, o ex-namorado que matou Lídia, mas em outra, disse que ele frequentava a casa. E depois, se recusou a entregar o dinheiro.
“Foi um desgaste emocional desnecessário. Ela preferiu fazer isso. Disse ‘pede para a sua amiga fazer’ [um novo GoFundM], e nós fizemos, e Graças a Deus, o valor foi até maior do que antes. Tudo que a gente faz de bom na vida, volta. As pessoas falavam que a minha irmã era muito amada, muito querida, e isso me conforta. O que eu posso falar agora é gratidão. Tudo que a gente planta, a gente colhe. E estamos recebendo muito carinho, muito amor”, disse Leidiane.
Thathyanno revelou também que disse para Leidiane colocar o valor de 30 mil dólares no GoFundMe, já que Lidia ajudava a família no Brasil, mas que ela não queria, pois era um valor muito alto. Mas com o apoio da comunidade, o valor passou de 20 mil dólares em menos de 24h.
“A imagem que eu vou levar daqui, é uma imagem muito positiva. Só coisas boas. O que eu tenho pelos brasileiros aqui é gratidão. O bem foi muito maior. Agradecer a todos e que Deus possa abencoar a todos. Uma moça disse que eu não precisava agradecer, porque a gente nunca sabe o dia de amanhã. Que a gente tem que ser um pelos outros. E eu achei muito bonito isso”, completa.
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