Deputado Luis Miranda coleciona escândalos e denúncias de estelionato no Brasil e EUA

02/06/2021 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. CB.Poder entrevista o Deputado Federal Luis Miranda.

Nos últimos dias, o nome de Luis Miranda, deputado federal eleito pelo DEM, ganhou espaço após envolver o nome do presidente Jair Bolsonaro em supostas compras superfaturadas de vacinas. Vale lembrar, porém, que o parlamentar ficou conhecido por diversas denúncias da época em que morava nos Estados Unidos.

Miranda é acusado de aplicar golpes milionários em quem aceitasse se tornar sócio dele em supostos negócios no Estados Unidos. O caso chegou a ganhar espaço no Fantástico, que entrevistou 25 pessoas que se dizem ter sido vítimas do deputado. Algumas, inclusive, preferiram não gravar a entrevista por medo dele.

Um empresário, que não quis se identificar, disse que acreditou em Luis Miranda quando ele começou a vender franquias da Fitcorpus — clínica de estética criada em 2008 pelo deputado. “Ele ficava com todo o lucro, praticamente. A gente dependia dele para o aluguel de máquinas e era onde realmente se ganhava dinheiro, que era com os equipamentos de laser”, afirmou. Segundo o empresário, depois de quatro meses, a franquia fechou, e até hoje, Luis Miranda não pagou o que lhe devia, deixando um prejuízo de R$ 200 mil.

Outra empresária comprou uma franquia da Fitcorpus, mas desistiu no mesmo dia, ao ler o contrato com mais atenção. Ela exigiu a devolução do dinheiro (também cerca de R$ 200 mil), mas também disse que não recebeu nada até hoje.

Depois dos processos, Luis Miranda se mudou, em 2014, para os Estados Unidos. Em um vídeo gravado na chegada ao país, ele explicou assim a saída de Brasília: “Fui muito prejudicado pela desonestidade das pessoas no Brasil”.

Para ostentar o dinheiro, Miranda chegou a gravar um vídeo em uma concessionária comprando um dos carros mais caros do mundo, pagando por ele mais de R$ 1 milhão.

Nos tempos em que morou nos Estados Unidos, o número de seguidores nas redes sociais de Luis Miranda foi aumentando. Nos discursos de motivação, dizia que “qualquer um pode ter uma casa na beira do mar, é só querer, é uma decisão”. Também afirmou que cresceu “absurdamente” nos Estados Unidos “não é porque eu sou cara mais inteligente do mundo, é que eu aprendi que o meu dinheiro pode trabalhar para mim”. Assim, chegou a 4 milhões de seguidores.

Prometendo ensinar seus segredos para ganhar dinheiro fácil, ele achou uma forma de ganhar dinheiro com os seguidores: vendendo cursos on-line. “Imagina você ganhar R$ 180 mil dentro de casa, com seus filhos, com seus amigos, tomando cerveja. Botar R$ 180 mil no bolso fazendo simplesmente, absolutamente, nada”, afirmou em um dos vídeos.

O empresário Sandro Silveira Antonalia acreditou no curso e disse que pagou por ele R$ 1.200, custo dividido em 12 vezes. Se cada um dos 18 mil alunos anunciados por Luis Miranda tiver pago o mesmo valor, ele teria recebido R$ 21,6 milhões em 18 meses. “Ele demonstrava ali como se fosse uma coisa muito fácil, muito garantida, que daria muito certo. É um estelionatário, um quadrilheiro”.

Além dos cursos, Miranda encontrou outra fonte de renda: oferecer sociedade aos seus seguidores nas redes sociais na compra e venda de mercadorias dos EUA, principalmente carros. Ele afirmava aos seguidores que compraria veículos batidos em leilões, faria reformas em oficinas — inclusive na dele, em Miami — e os colocaria à venda por um preço bem maior. Para isso, os sócios teriam de mandar dinheiro para ele. Segundo as vítimas, Luis Miranda dizia que ficaria com a metade do lucro e o sócio, com a outra metade. Um brasileiro que não quis se identificar enviou US$ 60 mil (cerca de R$ 240 mil) para a compra de dois carros. Como não teve lucro, pediu a devolução, pelo menos, do valor investido.

Em dezembro de 2017, Luis Miranda teve outra ideia — um grupo de investimento. De acordo com ele, os lucros seriam maiores do que os da caderneta de poupança e do Tesouro Direto, por exemplo. Em um vídeo, Miranda disse que quem investisse US$ 1 mil teria US$ 150 mil após cinco anos.

Alguns brasileiros foram para os Estados Unidos, para conversar pessoalmente com Luis Miranda. Entre eles, Sandro Antonalia. Depois de fazer o curso on-line, ele queria ser um dos investidores. Para isso, vendeu dois carros e a empresa que tinha no Brasil. “Convivendo na empresa dele todos os dias, depois de um tempo, eu vi que acabei caindo num golpe. Ele é um vendedor de sonhos”, disse.

Depois de três meses, um encontro com investidores, Antonalia disse que tudo não passava de um golpe. Segundo ele, Luis Miranda teria feito ameaças. “Ele queria me bater com um taco de beisebol que ele tinha no escritório. Tinha arame farpado.”

Um brasileiro que mora nos Estados Unidos investiu US$ 30 mil e não recebeu nenhum retorno. Outro, que mora no Brasil, investiu US$ 50 mil e convenceu um parente a usar o mesmo valor. “Raspei a poupança e coloquei tudo na mão dele. Me separei, perdi família. Tive que tirar meus filhos da escola.”

Em 2018, Luis Miranda anunciou que voltaria a Brasília, onde nasceu, para se lançar candidato a deputado federal. Se apoiou totalmente no movimento a favor do presidente Bolsonaro para poder se eleger.

Durante a campanha, ele disse que não queria “salário do governo, verba de gabinete, nada disso”, pois pretendia dar o exemplo. Ele não cumpriu o que disse na campanha: por mês, recebe R$ 33.700 do salário de deputado e mais R$ 111 mil de verba de gabinete.

Os próprios senadores da CPI da Covid já analisam as segunda intenções do deputado. Tanto que se preparam para dedicar muito mais perguntas a Luis Ricardo Miranda, técnico do Ministério da Saúde, do que ao irmão dele, o deputado Luis Miranda.

Muitos estão desconfiados de que pelo menos parte da fala do parlamentar não está diretamente relacionada à vontade de proteger o Brasil da corrupção e, sim, à ânsia de levar vantagem eleitoral. A alguns integrantes do partido, inclusive, o deputado já revelou que, se essa sua guerra contra o Planalto der resultado positivo, poderá surgir um espaço para buscar um mandato de senador no ano que vem. Por isso, avaliam parlamentares, é preciso ter cautela.

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