
Mais de 40 mil imigrantes chegaram ao arquipélago, enquanto centenas perderam a vida na travessia pelo Atlântico.
Por Ana Mendes | GNEWSUSA
As Ilhas Canárias, território espanhol no Atlântico, enfrentaram um fluxo migratório sem precedentes em 2024. De acordo com o Ministério do Interior da Espanha, mais de 41.400 pessoas chegaram ao arquipélago em embarcações vindas da África Ocidental, marcando o maior número já registrado em um único ano.
Além do aumento expressivo no número de chegadas, o ano também foi marcado por um crescimento trágico no número de mortes durante a travessia. El Hierro, uma das ilhas do arquipélago, enterrou até agora 33 vítimas, três vezes mais que no ano anterior.
Entre as homenagens às vidas perdidas, uma cerimônia recente prestou tributo a Bathie Barry, que faleceu pouco após desembarcar na ilha em outubro. “Não se trata apenas de uma questão de fé ou religião; é algo muito maior. É uma questão de humanização”, declarou Haridian Marichal, moradora local que participa ativamente dos funerais de imigrantes, muitas vezes sem nome.
Um barco de papel repleto de flores foi levado por Joke, um artista holandês que vive em El Hierro. Para ele, esses gestos simbolizam “a perigosa jornada da pessoa falecida” e honram aqueles que arriscam tudo por uma vida melhor.
Uma rota mortal
A rota do Atlântico é considerada a segunda mais perigosa do mundo, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM). Entre janeiro e outubro deste ano, 891 pessoas morreram ou desapareceram ao tentar chegar às Canárias, segundo dados oficiais.
O único patologista em El Hierro apontou que a desidratação e a hipotermia são as principais causas de morte entre os imigrantes que chegam à ilha. “Essas são as pessoas que não puderam continuar com seus projetos de vida e, infelizmente, são o outro lado da rota migratória das Canárias”, reforçou Haridian Marichal.
O naufrágio mais letal do ano aconteceu em setembro, quando uma embarcação com 84 pessoas naufragou. Apenas 27 sobreviveram. Autoridades locais recuperaram nove corpos, sendo que sete deles foram enterrados de forma anônima em El Hierro.
Desafios de identificação e resgate
A identificação de desaparecidos é um desafio constante. Andrea Garcia Borja, coordenadora interina do Projeto de Imigrantes Desaparecidos da OIM, explicou que o processo envolve complexidades como desaparecimentos em águas internacionais ou a travessia de fronteiras.
“Estamos sempre lidando com um quebra-cabeça”, lamentou Haridian Marichal. “Talvez eles não tenham morrido nem sobrevivido, mas, como em tantos casos, possivelmente desapareceram no Atlântico e não temos notícias.”
Além das condições climáticas adversas, que tornam a rota do Atlântico extremamente perigosa, as balsas precárias utilizadas pelos imigrantes contribuem para a alta taxa de fatalidade.
O contraste europeu
Enquanto as Ilhas Canárias enfrentam um aumento recorde no fluxo de imigrantes, o restante da União Europeia registrou uma redução no número de chegadas irregulares. Segundo o Ministério do Interior da Espanha, o arquipélago teve o crescimento mais acelerado de imigração irregular na UE entre janeiro e outubro de 2024.
Mesmo diante de esforços para intensificar a fiscalização costeira, o cenário dramático das Canárias reflete as dificuldades de milhares de pessoas que, na busca por segurança e oportunidades, enfrentam a perigosa travessia do Atlântico.
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