Brasileira denuncia assédio sofrido por um pastor

Um alerta para toda a comunidade. Foi com esse objetivo, que Ana Paula Silva, a Paulinha, como é conhecida, decidiu participar de uma live, onde denuncia um crime de assédio sexual. Ela participou do programa Lado a Lado com a Verdade, apresentado pelo repórter investigativo Thathyanno Desa e contou a história. Ela revelou que já denunciou o caso para a polícia, mas queria inspirar outras vítimas a não se calarem.

Segundo Paulinha, o assédio ocorreu em duas ocasiões: uma no dia 11 de junho, uma sexta-feira, e a outra no dia seguinte. Ela conta que estava a caminho do trabalho junto a um pastor conhecido da comunidade, quando ele começou a fazer perguntas com teor sexual. Em seguida, ele teria colocado a mão dentro da cueca, acariciando o órgão genital.

“Eu tive que me dirigir ao trabalho, em Framingham. E lá, é designada uma pessoa para levar a gente. E nos dias 11 e 12 de junho seria o pastor, que trabalha conosco. Ele chegou na minha casa na sexta-feira, por volta das 17h20. Ele mandou uma mensagem dizendo que chegou. Eu desci, entrei no carro e disse: ‘boa tarde pastor, tudo bem?’. Sempre tratei ele com essa nomenclatura. Estava tudo normal. Até que ele vira para mim e fala assim: ‘e aí Paulinha, qual é a sua posição preferida’. E eu disse que não estava entendendo. Aí ele: ‘mas você acha o que? Que pastor não faz sexo?’ E eu disse que sabia que faz, mas eu não queria saber daquilo. Mas ele insistiu no assunto. Expôs a intimidade sexual dele. E em uma parte da viagem, ele abriu a calça e colocou a mão por dentro da cueca e ficou tocando o órgão genital dele. E falava: ‘olha para ele. Olha como ele fica animadinho falando esses assuntos’. E eu estava olhando para a janela. Virei para ele e falei: ‘pastor, se o senhor tirar isso para fora, eu vou sair desse carro em movimento’. E ele me disse ‘dependendo da sua posição, você tem aumento de salário ou aumento de trabalho’. E eu disse: você não é meu manager. Meu manager é meu irmão. E você não é meu boss. Meu boss também é meu irmão. E ele seguiu a viagem se tocando por dentro da cueca e ele só abotoou a calça novmente quando nós paramos, estacionamos e iríamos adentrar a loja para iniciar o trabalho. Por sorte eu não voltei com ele. Voltei com meu boss”, relatou, sobre o primeiro assédio sofrido.

E Paulinha conta que no dia seguinte, a história se repetiu. “No sábado, fui trabalhar novamente com ele. As pessoas questionaram o porque eu fui novamente com um abusador. Eu não tive escolha. Eu não contei para o meu irmão. Eu senti vergonha. Um líder religioso fazer isso. Eu fui com ele e ele fez a mesma coisa. A única coisa que ele não falou foi no aumento de salário e aumento de trabalho. Só que desta vez ele abriu a calça e avistou um carro. Ele viu um carro branco e disse: ‘acho que é a minha filha’. Ele imediatamente subiu a calça e fechou o cinto. À noite, na hora de ir embora, por volta da meia noite, quase 1 hora, voltamos três pessoas no carro. Eu, o pastor abusador e uma cozinheira que também mora em Everett. E gente seguiu viagem. Ele obviamente não ia fazer isso na frente de ninguém. E quando chegamos em Everett, ele disse: ‘quem eu vou deixar primeiro?’. Ele mesmo respondeu.’Eu vou deixar a fulana de tal, porquê Paulinha, você mora perto da minha casa. E realmente moramos próximos. E quando ela saiu, ele disse que não via a hora de ficarmos sozinhos. Quando ele me deixou em casa, ele disse assim: ‘eu posso voltar mais tarde?’. Mas já era quase uma e meia da manhã. Eu disse que se alguém fosse na minha casa neste horário, seria o meu namorado se eu tivesse. Não ele. E bati a porta. E entrei na minha casa. Eu senti tamanha vergonha por ele. Não por mim”.

Depois de alguns dias, ela finalmente contou para outra pessoa o que havia ocorrido. “E liguei para a minha melhor amiga na terça-feira. Ela falava: ‘fala comigo. E eu disse: ‘você acredita no que aconteceu?’ E ela disse que já sabia. Que ele tem cara que não vale nada. E eu fiquei uma semana sem voz. Na terça-feira seguinte, eu decidi contar para o meu boss o que tinha acontecido e ele meio que incrédulo com aquilo, disse:  ‘meu deus, porque você não me contou?’. E eu disse que não tinha coragem. Disse que estava contando para alertar. Imagina se ele faz isso com outras pessoas. E à noite eu contei para a filha dele. Nós tínhamos o hábito de uma chamar a outra de bebê. E ela gritava no telefone. ‘Bebê, porque você não me contou isso? Eu já passei por isso’. Porque ela já foi vítima de assédio por um pastor ex-sócio de rádio com o pai dela. E eu disse ‘ele é seu pai, como eu vou contar? eu não quero destruir sua família. Eu adoro a sua mãe’. E ela disse: ‘a minha mãe já está acostumada com as safadezas do meu pai’. Ela me ligou várias vezes por chamada de vídeo. Todo mundo sabe que eu trato de depressão. E tinham receio que eu tentasse alguma coisa contra a minha vida. Depois eu acordei cedo, como de costume. Meu horário de trabalho era as 11 às 5. Meu boss foi para a California. Quando deu 5h19 eu ainda estava na loja que eu trabalhava. E meu irmão, meu manager, iniciou uma discussão comigo por eu estar acima do horário. Ele me chamou a atenção na frente de todo mundo. E no final da discussão, ele disse ‘você vai ser demitida e vai tentar o suicídio’. Aquilo veio como uma flecha em mim. E eu tentei suicídio naquela noite. Eu avisei meus irmãos que eu nao queria mais viver. Tomei 10 comprimidos”, revelou.

“Fiquei cinco dias internada no hospital psiquiátrico de Everett. Eu não recebi medicação. Foi ali que eu decidi contar para a minha família. Eu passei a noite toda no state police. E eu jamais iria em um state police falar uma mentira. Eu sou uma advogada no Brasil. Eu sei a importância disso. Na terça-feira eu denunciei, comuniquei meu boss, e na quarta feira tive uma reunião com meu boss, com meu manager e a filha do pastor. Ela me ameaçou. Disse que ia quebrar a minha cara. Eu gravei 40 minutos de reunião. E o Marcos [o irmão manager] disse que o pastor confessou tudo e que estava arrependido”, completou.

Thathyanno perguntou alguns detalhes sobre o caso, e Ana Paula manteve as informações, sem se contradizer.

“Na sexta-feira, 11 de junho, 5h20 da tarde, ele me buscou em casa. Eu dei boa tarde pastor, tudo bem? Perguntei se ele ia passar em casa, ele disse que não. Quando estávamos quase chegando na ponte de Boston, ele começou a fazer perguntas. Perguntou qual minha posição preferida e eu perguntei que posição, e ele perguntou se eu achava que pastor não fazia sexo. E começou a falar da intimidade com a esposa, o que eu fazia, o que ela gostava. Eu disse que não tinha interesse em saber essas coisas. Nisso ele abriu o cinto, e colocou a mão dentro da cueca e dizia, ‘olha ai, olha como ele fica animadinho com essa conversa’. Eu olhei para o vidro e falei ‘se o senhor colocar esse trem para fora, eu vou me jogar do carro em movimento. E ele disse ‘dependendo da sua resposta, você vai ter um aumento de salário ou aumento de trabalho. E eu disse ‘você não é meu boss e nao é meu manager. meu boss é meu irmão e meu manager também’. E seguimos a viagem com ele tocando aquele órgão nojento por dentro da cueca. E no sábado também. E ele só subiu o cinto quando viu um carro e achou que era o da filha dele’, repetiu.

Quando questionada, nos comentários, o porque não gritou ou fez um escândalo, ela disse que quando a pessoa é vitima de um crime de assédio, a pessoa tem várias reações. “Tem gente que demora 20 anos. Por favor, tenha menos julgamento e dê mais suporte. Eu sou vítima”, disse Paulinha. “Temos que ficar alertas, com nossos filhos, pois uma criança que sofre abusos muda toda a história dela. Que denuncie. Tem abusadores que convivem com a vítima há anos. Qualquer tipo de abusos. Não fique calado. Que a minha voz seja ouvida. Qualquer tipo de abuso. Não aceite”, completa.

Paulinha também revelou que soube de outro caso que aconteceu com o pastor. “Há quase 20 anos, mas a menina não teve forças pra denunciar, tentou suicídio e voltou para o Brasil”, disse.

Por meio dos comentários, a filha do pastor negou o que foi dito por Ana Paula. Thathyanno também convidou o irmão de Ana Paula e a filha do pastor a participarem da live.

 

Consulta nega que Paulinha esteja mentalmente doente

 

Jessica Goulart

Antes de contar os detalhes dão assédio que teria sofrido, Paulinha passou por uma consulta com a nurse practitioner especializada em psiquiatria Jessica Goulart. Isso porque algumas pessoas questionaram a sanidade mental de Ana Paula.

“Falaram que íamos entrevistar uma pessoa que estaria doente mentalmente. A Ana Paula possivelmente estaria doente e a doutora Jessica aceitou o meu convite e sem cobrar nada, fez uma consulta com a Ana Paula. Fez uma consulta na quinta”, explicou Thathyanno.

Jessica falou sobre o caso na live. “A Ana Paula me contou sobre, infelizmente, a situação que aconteceu. E durante a consulta, falou sobre o passado dela, sobre o histórico médico dela, e durante a consulta, eu não senti que ela estava com uma doença que podia afetar o julgamento dela e que poderia fazer eu pensar que a história dela não é confiável. Tem dois tipos de doenças principais que podem afetar a habilidade da pessoa ser segura de não poder acreditar totalmente na história dela porque o pensamento não é normal. É a esquizofrenia e o distúrbio bipolar. E na consulta eu não senti essas doenças. Ela sofreu, com certeza um trauma, devido a esse crime que foi cometido. Mas eu senti que a história dela era acreditável”, revelou a profissional de saúde, que apesar de ter nascido nos Estados Unidos, possui pais brasileiros e portugueses, e atende em inglês, português e espanhol.

“Meu escritório fica em Malden. Eu atendo pacientes de segunda a sábado e pode fazer visita com as pessoas no consultório e pelo computador. Se a pessoa está se sentindo triste, ansiosa, com dificuldade de dormir. Tudo na área de saúde mental. Já trabalhei na área de emergência decidi me especializar na área de psiquiatria, porque durante a pandemia, muitas pessoas passaram a ter problemas nessa área”, conta. O número do escritório é o 617-209-7848

Ana Paula também falou sobre o assunto. “A doutora Jessica me atendeu de forma gratuita. Me senti muito a vontade. Por ser a primeira vez que eu me consultei com ela, me senti muito a vontade para falar o que aconteceu. E que não restasse nenhuma dúvida da minha sanidade mental, como algumas pessoas questionaram”, disse.

 

Confira a live completa

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