
Trabalho de cientistas brasileiros demonstrou agilidade, colaboração internacional e atuação diversificada mesmo diante de cortes e resistência política.
Por Paloma de Sá | GNEWSUSA
Durante a pandemia de Covid-19, o Brasil se destacou no cenário científico mundial. Entre os anos de 2020 e 2022, pesquisadores brasileiros publicaram mais de 17 mil estudos relacionados ao novo coronavírus. A informação é resultado de uma análise realizada por especialistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e divulgada em março de 2025 na revista científica Em Questão.
A pesquisa foi conduzida por Ana Maria Carneiro (Núcleo de Estudos de Políticas Públicas), Ana Maria Nunes Gimenez (Lab-GEOPI) e Mariana Ceci, e também publicada na plataforma jornalística The Conversation Brasil. O estudo utilizou dados da base internacional OpenAlex, referência em indexação de publicações científicas, para mapear a produção acadêmica brasileira sobre o tema.
Produção científica intensa e rápida
Logo nos primeiros meses de 2020, ainda no início da crise sanitária global, já haviam sido publicados mais de 500 artigos científicos tratando de aspectos como estrutura do vírus, formas de transmissão e potenciais tratamentos. No Brasil, a resposta da comunidade científica não ficou para trás: os meses de maior produção superaram 500 artigos publicados, mostrando a capacidade de reação imediata do setor.
Ao todo, foram contabilizados 17.409 estudos com autoria de pesquisadores brasileiros, vinculados a 512 instituições, majoritariamente públicas. Embora esse número represente apenas uma fração do total global (mais de 531 mil estudos sobre a Covid-19 foram publicados no mundo), a atuação brasileira se destacou pela qualidade, diversidade de temas e volume.
USP e instituições públicas lideram
A Universidade de São Paulo (USP) liderou a produção científica nacional com cerca de 7,7 mil artigos, seguida pela Fiocruz (2,1 mil), UFMG (1,7 mil) e UFRJ (1,6 mil). No total, 24 instituições concentraram 61% dos artigos brasileiros sobre o tema – todas públicas.
Os temas das pesquisas foram amplos: 90% dos estudos se concentraram em áreas como medicina, ciência política, psicologia, sociologia, ciência da computação, geografia e administração, refletindo o esforço multidisciplinar para compreender não só o vírus e sua disseminação, mas também os impactos sociais, econômicos e políticos da pandemia.
Forte colaboração internacional
Um dos pontos de destaque foi o caráter colaborativo da produção brasileira. Cerca de um terço dos estudos foram desenvolvidos com coautores de outros países, especialmente Estados Unidos (24,1%), Reino Unido (13%), Itália (6%), Espanha (4,1%), Canadá (3,7%), Portugal (3,3%) e Alemanha (3,1%).
Além disso, apenas 18,6% dos artigos foram escritos por autores individuais, o que reforça a tradição colaborativa dos centros de pesquisa brasileiros.
Ciência atuante mesmo sob adversidades
Apesar dos avanços, os pesquisadores ressaltam que o contexto político e institucional não foi dos mais favoráveis. As universidades e institutos de pesquisa que lideraram a produção científica foram, ao mesmo tempo, alvos de ataques políticos, cortes de orçamento e tentativas de interferência em sua autonomia.
Mesmo diante desses desafios, a ciência brasileira se mostrou ágil, produtiva e comprometida com a busca de soluções baseadas em evidências. O estudo conclui que a pandemia foi um testemunho da resiliência e da relevância da ciência nacional, destacando a importância de garantir a autonomia e o financiamento das instituições públicas de pesquisa.
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