Américas enfrentam escassez de médicos em mais de um terço dos países, alerta OPAS

© Unicef/Odelyn Joseph
Relatório aponta que mais de um terço dos países da região não possui profissionais suficientes para atender à demanda populacional. Déficit pode chegar a 2 milhões de trabalhadores até 2030, ameaçando metas de cobertura universal de saúde.
Por Paloma de Sá | GNEWSUSA

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) emitiu um alerta preocupante: as Américas enfrentam uma severa escassez de profissionais de saúde, incluindo médicos, enfermeiros, parteiras e outros trabalhadores essenciais. Um novo relatório divulgado pela agência revela que 14 dos 39 países da região não possuem pessoal suficiente para atender adequadamente às necessidades de saúde de suas populações.

Segundo o documento, se medidas concretas não forem tomadas com urgência, o déficit pode atingir entre 600 mil e 2 milhões de profissionais já nos próximos cinco anos. A situação compromete seriamente os planos de alcançar a cobertura universal de saúde, meta prioritária da OPAS e da Organização Mundial da Saúde (OMS).

“A força de trabalho da saúde é a espinha dorsal de qualquer sistema de saúde. Sem médicos, enfermeiros e outros profissionais capacitados e bem distribuídos, não será possível garantir acesso universal à saúde na região”, afirmou Jarbas Barbosa, diretor da OPAS e médico brasileiro.

Distribuição desigual e condições precárias agravam o problema

A escassez não é homogênea entre os países. Enquanto algumas nações apresentam níveis razoáveis de cobertura, outras estão em situação crítica. O relatório aponta que a média da região é de 66,5 profissionais de saúde por 10 mil habitantes, número que parece aceitável à primeira vista, mas esconde desigualdades profundas.

Para efeito de comparação, a OMS considera 44,5 profissionais por 10 mil habitantes como o mínimo necessário. Entretanto, países como o Haiti registram apenas 3,8 enfermeiras por 10 mil habitantes, enquanto os Estados Unidos possuem 131,5 para a mesma proporção de população — revelando um abismo nos sistemas de saúde da região.

Além disso, a falta de investimentos em formação, infraestrutura, condições de trabalho dignas e políticas de retenção de talentos contribui para a evasão de profissionais e o agravamento da crise.

Perfis e desafios por categoria profissional

O relatório da OPAS detalha o panorama de oito categorias profissionais consideradas estratégicas: médicos, enfermeiros, parteiras, dentistas, farmacêuticos, psicólogos, terapeutas e agentes comunitários de saúde.

  • Enfermagem é o grupo mais numeroso, com uma força de trabalho predominantemente feminina: 89,7% das enfermeiras nas Américas são mulheres.

  • Medicina apresenta uma distribuição mais equilibrada, com 51,3% de homens. Apenas um terço dos países da região conta com mais médicas do que médicos.

  • Psicologia é uma profissão em expansão, mas ainda com presença limitada. A Argentina lidera com quase 18 psicólogos por 10 mil habitantes, seguida da Costa Rica, com 16,8.

  • Parteiras são mais comuns nos países caribenhos de língua inglesa, como Antígua e Barbuda, e em algumas nações sul-americanas, como o Chile.

Outro dado preocupante é o envelhecimento da força de trabalho. Em países como os Estados Unidos e a Guatemala, quase 50% dos médicos têm mais de 55 anos, o que indica a necessidade urgente de formar novas gerações para suprir futuras aposentadorias.

Cenário para 2030 é desafiador e exige ação coordenada

Com base em projeções demográficas e nas atuais taxas de formação, contratação e migração de profissionais, a OPAS estima que, até 2030, o continente pode enfrentar um déficit inédito de até 2 milhões de trabalhadores da saúde. Essa lacuna impactaria diretamente a capacidade dos países de oferecer serviços básicos, especialmente em regiões rurais e comunidades indígenas ou isoladas.

A agência recomenda uma série de ações imediatas e coordenadas para reverter o quadro:

  • Expansão de programas de formação com foco na qualidade e na distribuição equitativa;

  • Melhoria nas condições de trabalho, incluindo salários justos, segurança e bem-estar emocional;

  • Estímulo à permanência dos profissionais em áreas remotas e desfavorecidas, com incentivos financeiros e sociais;

  • Maior investimento em dados e sistemas de informação, para monitorar e planejar melhor a força de trabalho.

 Um desafio continental com impacto global

A escassez de profissionais da saúde nas Américas é um desafio estrutural, que exige o engajamento dos governos, instituições de ensino, setor privado e organismos internacionais. A pandemia de covid-19 evidenciou a importância dos profissionais da saúde e a fragilidade dos sistemas, acelerando discussões sobre sustentabilidade, equidade e resposta a emergências.

Sem ações urgentes, as promessas de acesso universal à saúde e de sistemas resilientes continuarão fora do alcance de milhões de pessoas nas Américas.

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