
Foi preso, na noite dessa sexta-feira (29), Abinadab Costa, de 24 anos, pelo assassinato da esposa Ângela Rocha Pereira (22 anos), no Estado do Mato Grosso. Ele estava foragido, desde a terça-feira (26), quando a Justiça decretou a prisão preventiva em razão do feminicídio em Colniza. Ele foi capturado em um estacionamento de Várzea Grande, na região metropolitana de Cuiabá, a mais de mil quilômetros do local do crime.
Após o crime, Abinadab conseguiu fugir com a filha do casal, de quase dois anos. A intenção, segundo investigação da Polícia Civil, era sair do país, o que motivou a inclusão do nome dele na lista vermelha da Interpol.
A suspeita era de que o ele seguiria com a filha para os Estados Unidos através da fronteira com o México. A previsão era de que Abinadab deixaria o país neste fim de semana, o que fez as polícias Civil e Militar adiantarem a operação para a noite de ontem, logo após confirmarem o paradeiro dele.
Já a criança foi resgatada pela polícia na madrugada deste sábado (30), em Sapezal, a 560 quilômetros de Cuiabá, na casa da irmã do suspeito. A intenção é deixar a menina sob a guarda da avó materna até que a Justiça defina o destino dela.
Brutalidade do crime chocou população
O crime ocorreu no fim da noite do último sábado, e chocou toda a população pela brutalidade com que foi cometido. Ângela foi morta com 14 facadas, teve o corpo queimado e depois jogado no lixo, onde foi encontrado por um por um catador de material reciclável na manhã de domingo.
O delegado Bruno França explicou que assim que chegou no local, percebeu que se tratava de um crime de feminicídio “pela brutalidade em que se encontrava os ferimentos na vítima”.
“Analisando as câmeras de segurança da casa, é algo inacreditável. Eles estavam no maior amor, em momento de romance, mas o negócio desandou de uma hora para outra. Alguém deve ter falado alguma coisa para o outro para acontecer essa tragédia”, contou o delegado Bruno França.
Abinadab está indiciado pelo crime de feminicídio, com as qualificadoras de uso de meio cruel, ocultação de cadáver e prática na presença de descendentes, pois a Polícia Civil diz acreditar que o assassinato aconteceu em frente à criança.
Um vídeo feito por vizinhos mostra a jovem desesperada e gritando em uma discussão com o marido na noite anterior, antes de ser morta.
E em um áudio que que circulou em grupos de WhatsApp, Abinadab descreve a noite do feminicídio e, em seguida, diz ter “feito besteira”. Na gravação, ele narra uma discussão com a jovem e afirma que ela teria “dado uns tapas” na cara dele. Abinadab conta que chegou a dizer para Ângela parar pois ela “não sabia o peso da mão de um homem”.
“Ela foi no mercadinho, quebrou notebook meu de venda, quebrou impressora, tentou quebrar as câmeras.Ficou doida, alucinada. Segurei ela, falei ‘cara, para’. Segurei ela e joguei ela no chão. Ela falou ‘juro para você que vou parar’. Ela me deu um empurrão, saiu correndo para a área e falou que ia se matar. Bateu a faca nela. Veio com a faca para cima de mim, foi onde acho que fiquei doido. Fiz besteira”, diz o suspeito na gravação.
Irmão nega ajuda
No inquérito, o delegado citou que Willian Costa, irmão de Abinadab o teria ajudado, junto com um líder religioso, e que ele estaria se preparando para fugir para os Estados Unidos, onde Willian mora. Chegou, inclusive, a enviar um relatório a David Hodge, cônsul geral dos Estados Unidos da América em São Paulo, para pedir que aumentasse a segurança quanto a entrada de Abinadab no país.
Mas em entrevista exclusiva ao repórter investigativo Thathyanno Desa, Willian negou ter mudado o irmão. “Jamais eu vou ajudar, abrigar, é lamentável o que aconteceu e eu não apoio isso jamais. A minha vontade é que ele já tivesse se entregado ou capturado”, disse na entrevista que foi feita pouco antes da captura de Abinadab.
Abinadab morou na cidade de Melrose, nos Estados Unidos, onde já vivia uma relação conturbada com Ângela. “Desde o começo da relação, ha dois anos, a relação foi conturbada. A família sabia, a gente falava, mas uma semana depois eles estavam juntos de novo e quem ficava com a cara no chão era a gente”.
Para Willian, Abinadab resolveu voltar ao Brasil porque não aguentou a vida de trabalho pesado nos Estados Unidos, tendo mais facilidades no país natal, onde tinha um mercado. “Ele não é acostumado a trabalhar no serviço igual a gente é acostumado. Ele vivia uma vida fácil, e tinha as coisinhas dal. Acredito que foi isso que levou ele para o Brasil”.
Depois disso, Ângela ficou nos Estados Unidos, mas ele teria dito que a filha deles estava doente para convencê-la a voltar. “Ela tinha ficado, ficou com carro, com o dinheiro. Aproveitou o instante dela, e estava trabalhando, e veio a bater o carro dela. Com o decorrer do tempo, meu irmão ligou e perguntou se eu queria comprar o carro. O carro valia cerca de 4 mil dólares. E lá estava só a bagaceira. E a finada Angela falou pra mim que estava indo embora, que a bebê estava doente, que queria ficar perto da filha, e eu falei que não tinha como ficar com o carro. Ele passou pra ela que a bebê estava doente, e por isso ela acabou voltando ao Brasil. No fim, eles venderam esse carro por 400 ou 500 dólares para ela ir embora”, contou Willian.
Ele também falou sobre os contatos que recebeu do irmão. “Eu acredito que foi um dia depois, ou dois, ele mandou mensagem, e eu nem imaginava que ele ia falar comigo. A gente é brigado. Eu influenciei ele para ir embora daqui, pelo fato dele e a Ângela sempre brigarem aqui em casa. E eu disse que ele fosse embora, ou que na próxima briga eu ia chamar a polícia porque não era brincadeira. Meu pai tem pressão alta. Quando ele veio me mandar a mensagem, pediu para não divulgar para a família. Ele achava que ninguém sabia, mas todo mundo já sabia. Foi um choque muito grande. O último contato, eu acredito que foi há dois dias, quando ele mandou para mim não dar mais entrevistas, não falar com ninguém, que o padrasto da finada havia me denunciado à Polícia”.
Willian revelou também que o irmão bebia, e quando isso acontecia, ele brigava com Ângela. As brigas, inclusive, comuna com outras pessoas. “Ele brigava com outras pessoas, inclusive comigo mesmo, até ao ponto de me ameaçar, mas eu nunca imaginei que ele seria capaz de fazer uma coisa dessas”
Ele ainda disse que ficou dias sem dormir depois do crime, e falou sobre a acusação de que estaria ajudando o irmão. “Eu acredito que o delegado está procurando fama denegrindo a minha imagem. Mesmo sendo meu irmão, eu jamais ajudaria. Ele merece mesmo é pagar pelo que ele fez”.
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