Novas estratégias, medicamentos e abordagens personalizadas prometem maior controle da doença e mais qualidade de vida para pacientes.
Por Paloma de Sá | GNEWSUSA
O câncer de mama é o tipo de câncer que mais mata mulheres no Brasil e no mundo. Só em 2025, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima mais de 73 mil novos casos no Brasil. E, mesmo com todos os avanços da medicina, ainda são mais de 15 mil mortes por ano só no país.
Mas há esperança no horizonte! No maior congresso de oncologia do mundo, o ASCO 2025, realizado em Chicago (EUA), especialistas apresentaram três avanços que prometem mudar o tratamento do câncer de mama, principalmente nos casos mais graves, quando a doença já se espalhou para outros órgãos.
O que há de novo?
As novidades envolvem exames que ajudam a decidir o melhor tratamento antes que a doença avance, além de medicamentos mais modernos, que atacam diretamente o tumor e causam menos efeitos colaterais.
A seguir, veja quais são esses avanços:
1. Um exame de sangue que ajuda a escolher o melhor tratamento antes que o câncer avance
Chamado de biópsia líquida, esse exame analisa pedaços do DNA do tumor que circulam no sangue da paciente. Com isso, é possível identificar uma mutação chamada ESR1, que aparece quando o câncer começa a resistir ao tratamento hormonal tradicional.
O que os médicos fizeram foi testar se trocar o remédio assim que essa mutação aparece no exame de sangue, antes mesmo de surgir qualquer sintoma, poderia trazer benefícios. E a resposta foi sim!
- Quem mudou o tratamento logo no começo manteve o câncer sob controle por cerca de 16 meses.
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Quem esperou o câncer avançar para trocar, conseguiu apenas 9 meses de controle da doença.
O novo remédio testado se chama camizestranto, que ainda está em fase de testes, mas já mostrou ser promissor.
2. Um novo remédio que destrói o câncer de mama resistente ao tratamento hormonal
Outra grande novidade é um medicamento oral chamado vepdegestrant. Diferente dos remédios atuais, ele não só bloqueia, mas também destrói dentro da célula o receptor que faz o câncer crescer.
No estudo, pacientes que tomaram o vepdegestrant tiveram o câncer controlado por 5 meses, mais que o dobro das pacientes que fizeram o tratamento comum, que segurou a doença por apenas 2 meses.
Além de ser tomado por via oral, ele teve menos efeitos colaterais e se mostrou mais prático e eficaz para pacientes que desenvolveram resistência ao tratamento anterior.
3. “Drogas inteligentes” já podem ser usadas no início do tratamento de câncer de mama agressivo
Se você já ouviu falar em HER2 positivo, sabe que esse é um dos tipos mais agressivos de câncer de mama. Para esses casos, uma nova estratégia tem dado resultados incríveis.
É o uso das chamadas “drogas inteligentes”, ou anticorpos conjugados a quimioterapia (ADC). Na prática, é como se a quimio fosse colocada dentro de um “míssil” que vai direto no tumor, sem atingir tanto as células saudáveis.
O remédio que faz isso se chama trastuzumabe deruxtecano (ou Enhertu), combinado com outro, o pertuzumabe.
- O estudo mostrou que essa combinação fez a doença ficar controlada por mais de três anos (40 meses).
- Isso é bem melhor do que o tratamento antigo, que controlava por cerca de 2 anos (26 meses).
- Além disso, o risco de a doença avançar ou de morte caiu em 44%.
Esse avanço deve, em breve, mudar o tratamento padrão em vários países, inclusive no Brasil.
O maior desafio ainda é o acesso
Mesmo com essas boas notícias, o grande obstáculo é fazer esses tratamentos chegarem à maioria das pessoas.
Muitos desses remédios ainda não estão disponíveis no SUS, e mesmo quem tem plano de saúde pode encontrar dificuldades, já que os custos são altos. Por exemplo, só o trastuzumabe deruxtecano custa cerca de 166 mil dólares por ano nos Estados Unidos, o que equivale a mais de R$ 900 mil por ano.
Além disso, exames como a biópsia líquida ainda são pouco disponíveis no Brasil.
Segundo a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), cerca de 70% dos pacientes com câncer no Brasil dependem exclusivamente do SUS.
O futuro é promissor
Mesmo com todos os desafios, os especialistas estão otimistas. A cada ano, os tratamentos se tornam:
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Mais eficazes
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Menos agressivos
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Mais personalizados, ou seja, feitos sob medida para cada tipo de câncer e cada paciente.
Segundo o oncologista Rafael Kaliks, do Hospital Albert Einstein, “O câncer de mama, que já é uma doença altamente curável, vai se tornar ainda mais curável. E, no futuro, até pacientes com câncer de mama metastático — que hoje é considerado incurável — poderão ter chances reais de cura.”
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