
Estudos mostram que o contato inicial com bactérias no nascimento é essencial para o desenvolvimento do sistema imunológico e pode proteger contra várias doenças ao longo da vida.
Por Paloma de Sá | GNEWSUSA
Você já ouviu falar que “nascemos estéreis e rapidamente somos colonizados por bilhões de bactérias”? Pois saiba que isso não é apenas uma curiosidade: a ciência já comprovou que os primeiros microrganismos que entram em contato com nosso corpo, logo no nascimento, desempenham um papel crucial na construção da nossa saúde — e podem impactar nossa vida para sempre.
Essa descoberta vem sendo confirmada por diversas pesquisas realizadas por universidades e centros de pesquisa em todo o mundo, como a Universidade de Stanford, os Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos Estados Unidos e publicações nas revistas científicas de alto impacto como Nature Microbiology e The Lancet.
O nascimento: o momento-chave para a saúde
No momento do parto, especialmente no parto normal, o bebê é exposto às bactérias presentes no canal vaginal, na pele e no intestino da mãe. Esse primeiro contato forma a chamada microbiota inicial, uma comunidade de trilhões de bactérias que começa a colonizar a pele, os olhos, o sistema respiratório e, principalmente, o intestino.
- Essas bactérias são essenciais para:
- Ensinar o sistema imunológico a diferenciar o que é perigoso e o que não é;
- Ajudar na digestão e absorção dos alimentos;
- Proteger contra agentes infecciosos e inflamatórios;
- Regular processos metabólicos e até neurológicos.
O que diz a ciência?
De acordo com um estudo publicado na revista Nature Reviews Microbiology (2020), alterações na formação da microbiota nos primeiros dias e meses de vida estão associadas a um risco aumentado de desenvolver:
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Alergias;
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Asma;
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Obesidade;
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Diabetes tipo 1 e tipo 2;
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Doenças autoimunes;
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Distúrbios intestinais, como a síndrome do intestino irritável.
Outro estudo, da revista científica The Lancet (2019), alerta que nascimentos por cesariana, uso precoce de antibióticos ou ausência de aleitamento materno podem impactar negativamente essa colonização inicial, reduzindo a diversidade bacteriana e aumentando o risco de doenças futuras.
O microbioma inicial funciona como um educador do sistema imunológico. Sem ele, o corpo pode desenvolver respostas exageradas, levando a alergias e doenças autoimunes.
Por que essas bactérias são tão importantes?
Não se trata uma única bactéria, mas sim de um conjunto de espécies benéficas que formam a base do nosso microbioma intestinal. Bactérias do gênero Lactobacillus, Bifidobacterium, entre outras, são fundamentais nesse processo.
Essas bactérias ajudam o sistema imunológico a entender que o pólen, por exemplo, não é uma ameaça — reduzindo o risco de alergias — e também ensinam o corpo a combater infecções de forma equilibrada.
E quando o bebê nasce de cesárea?
Bebês nascidos de cesariana não têm esse contato direto com a microbiota vaginal da mãe e são colonizados inicialmente por bactérias do ambiente hospitalar e da pele. Estudos mostram que essa diferença na colonização pode estar ligada a:
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Maior risco de obesidade na infância;
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Maior propensão a desenvolver asma e dermatite atópica;
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Desequilíbrios na flora intestinal.
Por isso, hospitais de alguns países já estudam ou aplicam a chamada “semeadura vaginal”, onde gazes com secreções do canal vaginal da mãe são passados no bebê de cesariana, simulando o contato que ocorreria no parto normal. A prática ainda está em fase de estudos no Brasil e nos EUA.
O papel do leite materno
O leite materno complementa esse processo, funcionando como um “probiótico natural”. Ele contém prebióticos (açúcares que alimentam as bactérias benéficas) e anticorpos que ajudam a fortalecer o sistema imunológico.
Cuidar da microbiota é cuidar da vida
A ciência é clara: a formação do microbioma humano começa no nascimento e tem impacto profundo na saúde ao longo da vida. Promover nascimentos com menos intervenções desnecessárias, estimular o aleitamento materno e evitar o uso precoce e excessivo de antibióticos são medidas fundamentais.
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