Pesquisa pioneira usa bactéria geneticamente modificada para transformar resíduos plásticos do tipo PET em paracetamol, com alta eficiência e baixo impacto ambiental.
Por Paloma de Sá | GNEWSUSA
Pesquisadores liderados por Stephen Wallace desenvolveram uma cepa de Escherichia coli geneticamente modificada capaz de converter resíduos de plástico do tipo PET (tereftalato de polietileno) em paracetamol, amplamente utilizado como analgésico e antipirético.
Como funciona o processo?
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Degradação química do PET
O plástico é inicialmente quebrado quimicamente até gerar ácido tereftálico, que serve como combustível para as bactérias. -
Rearranjo de Lossen dentro das células
A E. coli aproveita uma reação química chamada rearranjo de Lossen, historicamente ocorrida apenas em tubos de ensaio, agora realizada internamente às bactérias, ativada pelo fosfato naturalmente presente nelas. -
Síntese de PABA e conversão em paracetamol
A reação converte intermediários em ácido para-aminobenzoico (PABA), essencial para o crescimento bacteriano, seguido de processamento bioquímico — incluindo genes originários de fungos e outras bactérias — para sintetizar o paracetamol. -
Condições eficientes e sustentáveis
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Processo completo em menos de 24–48 horas
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Operação em temperatura ambiente
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Emissões de carbono quase zero
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Rendimento de 90–92%
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Importância e impacto
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Economia circular: reutiliza o plástico PET — responsável por cerca de 350 milhões de toneladas de resíduos anuais —, transformando-o em produto de alto valor.
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Menor dependência de combustíveis fósseis: substitui insumos derivados de petróleo (como benzeno) por fontes recicladas .
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Inovação na biotecnologia: a conjugação inédita de uma reação química não-orgânica (Lossen) em vida microbiana representa um marco científico.
Limitações e próximo passos
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Escala industrial ainda não aplicada: o método foi demonstrado apenas em laboratório; a transição para bioreatores comerciais exige otimização do processo — especialmente da etapa de degradação do PET.
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Produção em pequena escala: nos estudos iniciais, produziram cerca de 10–19 mg/L de paracetamol, com melhorias em rendimento (até 92 %) em condições otimizadas.
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Requisitos regulatórios e segurança: antes de qualquer uso farmacêutico, a técnica deverá passar por testes rigorosos de qualidade, pureza e segurança.
Perspectivas futuras
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Escalar o processo e aumentar produtividade em biorreatores;
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Aplicar a reação Lossen em outras bactérias e resíduos plásticos;
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Expandir o uso da tecnologia para sintetizar outros fármacos a partir de resíduos, promovendo uma indústria farmacêutica sustentável e circular.
A pesquisa representa um passo significativo na transformação de plástico em recurso químico valioso, unindo biologia sintética e química verde. Embora ainda em estágio experimental e com desafios a enfrentar para a produção em larga escala, o estudo abre caminho para uma revolução ambiental e farmacêutica.
- Leia mais:
https://gnewsusa.com/2025/06/cientistas-criam-bacteria-que-transforma-plastico-em-analgesico/

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