Brasil: foragido ligado ao PCC é flagrado em imóvel de luxo usado para lavar dinheiro com empresa de ônibus

Relatório aponta presença de foragido em imóvel de luxo no Tatuapé; promotores investigam uso de empresa de ônibus para lavar dinheiro do crime organizado. 

Por Ana Raquel |GNEWSUSA 

O Ministério Público de São Paulo (MPSP) intensificou a apuração sobre a possível atuação de integrantes da alta cúpula do crime organizado na capital paulista. De acordo com um relatório do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), um dos principais nomes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), Silvio Luiz Ferreira, conhecido como Cebola, teria frequentado um apartamento de alto padrão no bairro do Tatuapé, na zona leste de São Paulo, quatro dias antes da emissão de um mandado de busca e apreensão no local.

Cebola, que está foragido da Justiça há cerca de 10 anos, é suspeito de atuar diretamente no setor financeiro da organização criminosa. Segundo as investigações, ele seria sócio de uma empresa de transporte coletivo urbano que atua na região leste da capital. O MPSP suspeita que a empresa foi usada como meio para lavagem de capitais oriundos do tráfico internacional de drogas.

Câmeras de segurança instaladas na área externa e interna do imóvel captaram a presença de Cebola, além de um advogado supostamente ligado ao grupo criminoso, entre as 17h e 18h do dia 5 de abril de 2024. As imagens também registraram a entrada de Rosana Aparecida Ferreira dos Santos, esposa de um empresário do setor de transportes investigado por movimentações financeiras suspeitas. O imóvel estaria sendo preparado para uso frequente, segundo o relatório.

Embora não tenha sido confirmado que o local estivesse sendo usado como moradia permanente, uma denúncia recebida pelo MPSP sugeria que o apartamento poderia estar servindo como ponto de apoio para a liderança do PCC, o que motivou a operação de busca. Nenhum dos suspeitos foi encontrado durante o cumprimento do mandado.

As investigações também miram um empresário do ramo de transporte urbano, identificado como ex-sócio da empresa UpBus, que opera linhas na zona leste. A viação é responsável por transportar cerca de 1% dos passageiros da cidade de São Paulo, de acordo com dados da própria Promotoria.

Segundo os promotores, há indícios de que a empresa foi usada para “esquentar” valores obtidos ilicitamente e ocultar o real destino dos recursos. A proximidade física entre a residência do empresário e o imóvel monitorado por Cebola também chamou atenção dos investigadores, pois os dois endereços ficam a menos de um quilômetro de distância.

Silvio Ferreira tem um extenso histórico criminal, incluindo condenações por tráfico de drogas, associação criminosa e envolvimento em operações milionárias de lavagem de dinheiro. Ele chegou a ser preso pela primeira vez em 1998 e, anos depois, foi detido novamente com centenas de quilos de entorpecentes e grandes somas em dinheiro vivo.

Entre 2020 e 2022, o nome de Cebola voltou a aparecer em investigações que apontaram o envio de valores para o exterior, especialmente ao Paraguai, por meio do chamado “dólar cabo”, um método usado para transferir dinheiro de forma clandestina e não rastreável. Nessa época, estima-se que a facção criminosa teria movimentado mais de R$ 1 bilhão em operações desse tipo.

Apesar de ter sido denunciado em diversas ocasiões, algumas acusações contra ele não foram aceitas pela Justiça paulista por falta de elementos suficientes. No entanto, novas provas têm sido reunidas pelos investigadores.

O bairro do Tatuapé, que já foi tradicionalmente associado à classe média paulistana, se tornou, nos últimos anos, um dos principais polos de investimento imobiliário de origem suspeita, segundo apurações do MPSP e da Polícia Federal. O crescimento de empreendimentos de alto padrão na região coincide com o aumento de aquisições feitas por pessoas ligadas ao crime organizado.

Carros de luxo, imóveis sofisticados e empresas de fachada vêm sendo monitorados por agentes federais e estaduais em operações conjuntas com o Gaeco, a fim de desarticular o braço financeiro do PCC — que, segundo autoridades, é responsável por profissionalizar o esquema de tráfico e fortalecer sua estrutura hierárquica.

Nem Cebola nem o empresário do setor de transportes foram localizados até o fechamento desta reportagem. O espaço segue aberto para que suas defesas se manifestem. A Promotoria destaca que as investigações continuam e podem resultar em novas denúncias e mandados.

Leia mais

Fluminense encerra campanha no Mundial de Clubes com prêmio recorde de R$ 331 milhões

Trump afirma que Brasil “não tem sido bom” para os EUA e confirma nova tarifa até amanhã

Justiça dos EUA restabelece condenações por corrupção no escândalo do Fifagate

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*