
Defesa do ex-presidente denuncia tentativa de criminalizar opositor que incomoda o sistema.
Por Gilvania Alves|GNEWSUSA
Sob pressão e no centro de uma disputa política que se arrasta desde 2022, Jair Bolsonaro voltou a ser alvo de mais uma investida do procurador-geral da República, Paulo Gonet, que enviou ao Supremo Tribunal Federal um extenso parecer solicitando a condenação do ex-presidente e de mais sete aliados por suposta tentativa de golpe de Estado.
Na reta final do prazo, o documento de 517 páginas foi protocolado no STF, pouco antes do encerramento determinado pelo ministro Alexandre de Moraes. Para Gonet, “as ações de Jair Messias Bolsonaro não se limitaram a uma postura passiva de resistência à derrota, mas configuraram uma articulação consciente para gerar um ambiente propício à violência e ao golpe”.
Enquanto isso, apoiadores do ex-presidente afirmam que se trata de mais uma ofensiva para calar a principal voz de oposição no país. A lista de acusados inclui nomes de confiança de Bolsonaro, como o general Braga Netto, o deputado Alexandre Ramagem e o tenente-coronel Mauro Cid, delator que enfrenta questionamentos sobre a consistência de seu acordo.
Em detalhes, a PGR aponta cinco crimes imputados a Bolsonaro, que somariam mais de 40 anos de prisão, caso a narrativa acusatória seja aceita na íntegra. O parecer sustenta que Ramagem teve algumas acusações retiradas graças á decisão da Câmara, evidenciando que o Congresso ainda resiste ao que muitos chamam de “justiça de exceção”.
Próximos passos indicam que o STF deve abrir prazos para que Mauro Cid envie seu memorial, seguido das manifestações das defesas dos demais réus. Tudo indica que o julgamento aconteça já em setembro, quando se espera, segundo fontes da Corte, que decisões de condenação ou absolvição sejam anunciadas em meio a sessões extraordinárias.
Nas palavras de Gonet, Bolsonaro seria “líder enaltecido” nos protestos de 8 de janeiro. “O líder enaltecido pelos manifestantes era Jair Bolsonaro e a pauta defendida era fruto do seu insistente e reiterado discurso de radicalização, embasado em fantasias sobre fraudes do sistema eletrônico de votação e em injustas descrenças na lisura dos poderes constitucionais, exatamente nos mesmos moldes da narrativa construída e propagada pela organização criminosa”, escreveu o PGR.
Para reforçar a acusação, a Procuradoria vinculou o ex-presidente à divulgação de supostas fake news. “As evidências revelam que o ex-presidente foi o principal coordenador da disseminação de notícias falsas e ataques às instituições, utilizando a estrutura do governo para promover a subversão da ordem. Portanto, cabe a responsabilização do réu pelos crimes descritos na denúncia”.
Entretanto, para aliados de Bolsonaro, o discurso oficial esconde uma motivação que vai muito além de uma disputa jurídica. Muitos enxergam uma clara tentativa de inviabilizar qualquer possibilidade de retorno do ex-presidente ao centro do debate eleitoral, criminalizando críticas e sufocando a oposição.
Mesmo Mauro Cid, peça-chave do processo, teve sua delação colocada em xeque pela própria PGR, que afirmou que os depoimentos do militar “mostraram-se, em geral, superficiais e pouco elucidativos, especialmente quanto aos fatos de maior gravidade”. No documento, Gonet também rebateu o perdão judicial, alegando omissões. “Diante do comportamento contraditório, marcado por omissões e resistência ao cumprimento integral das obrigações pactuadas, entende-se que a redução da pena deva ser fixada em patamar mínimo”, afirmou o procurador.
De acordo com o Ministério Público, o fracasso do suposto golpe estaria ligado à postura leal das Forças Armadas. “Não se consumou pela fidelidade do Exército – não obstante o desvirtuamento de alguns dos seus integrantes – e da Aeronáutica à força normativa da Constituição democrática em vigor”, destacou o texto.
Em meio a todo o cerco, Bolsonaro reafirmou que é vítima de perseguição, indo além da questão política. Em sua rede social, disparou: “O sistema nunca quis apenas me tirar do caminho. A verdade é mais dura: querem me destruir por completo – eliminar fisicamente, como já tentaram – para que possam, enfim, alcançar você. O cidadão comum. A sua liberdade. A sua fé. A sua família”.
Consciente da dimensão do embate, Bolsonaro reforçou que não deixará de lutar por seus eleitores. “Desde o início sou o principal obstáculo entre eles e o que realmente desejam: o controle absoluto sobre a sua vida. Por isso, mentem, censuram, prendem, distorcem, caluniam, perseguem, agridem – sempre com a mesma narrativa: ‘pela democracia’”, publicou, destacando que o Brasil não deve repetir erros de regimes vizinhos.
Diante desse cenário, a expectativa é que o embate jurídico e político se intensifique nos próximos meses, mobilizando aliados, oposição e milhões de brasileiros que ainda se sentem representados pelo ex-presidente, visto por muitos como barreira contra a escalada de poder de um sistema que, segundo ele, teme a voz da população.
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