
Grupo de oito parlamentares viajou em missão oficial para tentar reverter tarifas impostas ao Brasil, mas sem qualquer reunião marcada com autoridades da administração Trump
Por Gilvania Alves|GNEWSUSA
Enquanto o Brasil enfrenta o risco de enfrentar um tarifaço de 50% sobre seus produtos, uma comitiva de oito senadores desembarcou nos Estados Unidos em uma missão que, até o momento, já consumiu quase meio milhão de reais dos cofres públicos — e que não inclui sequer uma reunião com integrantes do governo Donald Trump.
A viagem é liderada por Nelsinho Trad (PSD-MS), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, e reúne parlamentares de diferentes partidos com o objetivo declarado de tentar sensibilizar autoridades americanas contra a imposição das tarifas. No entanto, as tratativas estão restritas a reuniões com parlamentares democratas e republicanos e representantes do setor privado, já que não há qualquer encontro confirmado com membros do alto escalão da Casa Branca.
Somente com passagens, o Senado Federal já desembolsou R$ 275,4 mil. O valor das diárias, que cobre estadia de até sete dias, soma R$ 201,4 mil. Ao todo, a conta já chega a R$ 476,8 mil, considerando também o seguro viagem.
O momento da viagem também levanta questionamentos. Os Estados Unidos estão em recesso parlamentar, o que reduz ainda mais a movimentação em Washington e, por consequência, as oportunidades de articulação política. Até agora, o grupo, liderado por Nelsinho Trad (PSD-MS), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, teve encontros apenas com empresários americanos e representantes da embaixada do Brasil nos EUA. O próprio cronograma da missão deixa claro que o foco está em conversas com o setor privado, como a Câmara de Comércio dos EUA e o Brazil-U.S. Business Council, entidade de lobby empresarial.
A missão inclui os senadores Esperidião Amin (PP-SC), Fernando Farias (MDB-AL), Carlos Viana (Podemos-MG), Tereza Cristina (PP-MS), além de Trad, Rogério Carvalho (PT-SE), Marcos Pontes (PL-SP) e Jaques Wagner (PT-BA).
A diária paga pelo Senado para viagens fora da América do Sul é de US$ 629,61, o equivalente a cerca de R$ 3.500, valor reajustado anualmente.
Mesmo com os recursos já consumidos, o impacto prático da missão ainda é incerto. O presidente Trump deixou claro no último domingo (27) que não pretende adiar o início das tarifas, previstas para entrar em vigor em 1º de agosto. Diante disso, o próprio Wagner reconheceu que dificilmente haverá uma mudança de posição. “O que a gente está fazendo é a diplomacia parlamentar. É preciso que os governos se entendam. A gente está aqui para contribuir”, afirmou.
Na última segunda-feira (28), o grupo se reuniu com a embaixadora do Brasil nos EUA, Maria Luiza Viotti, o embaixador Roberto Azêvedo e outros diplomatas. Uma reunião com lideranças empresariais está prevista para ocorrer na sede da Câmara de Comércio dos EUA, seguida por um encontro com parlamentares americanos nesta terça-feira (29).
De acordo com Nelsinho Trad, o sigilo sobre alguns detalhes da agenda se deve ao cuidado para não haver interferência externa. “Outros parlamentares americanos demonstraram interesse na reunião de terça-feira”, disse ele. “Mais informações sobre o encontro estão sendo preservadas para que não haja nenhuma interferência no sentido de inibir ou cancelar qualquer agenda previamente marcada.”
Enquanto o Brasil se prepara para os possíveis efeitos econômicos do tarifaço, a missão parlamentar segue sem garantias de resultados concretos — mas com custos já bastante tangíveis para o contribuinte brasileiro.
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