
Apesar da redução de casos, desafios como falta de vacinas, estigma e conflitos ainda dificultam o controle da doença no continente.
Por Paloma de Sá | GNEWSUSA
A Organização Mundial da Saúde (OMS), em parceria com o Centro Africano para o Controlo e Prevenção de Doenças (CDC África), coordena desde agosto de 2024 uma ampla estratégia para enfrentar os surtos de Mpox no continente africano. A ação, que envolve governos nacionais, comunidades e entidades parceiras, ocorre em meio a dificuldades persistentes, como escassez de vacinas, déficit de financiamento e estigmatização de pacientes, além do impacto do conflito no leste da República Democrática do Congo (RDC).
Avanços e redução de casos
Um ano após a OMS classificar a Mpox como Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII), os países africanos ampliaram a vigilância, a vacinação e a capacidade laboratorial. Os resultados começam a aparecer: nas últimas seis semanas, os casos confirmados semanais caíram 34,5% em comparação ao período anterior.
Mais de 3 milhões de doses de vacina já foram disponibilizadas no continente, sendo quase 951 mil aplicadas e cerca de 900 mil pessoas vacinadas com ao menos uma dose. Em 2024, a doença infectou 50 mil pessoas em 28 países africanos, em um total de 174 mil casos suspeitos, e provocou 240 mortes.
Países sem novos registros
O fortalecimento da resposta já mostra impacto em várias nações. A Costa do Marfim conseguiu encerrar seu surto após 42 dias sem novos casos. Angola, Gabão, Ilhas Maurício e Zimbábue também ultrapassaram 90 dias livres de infecções confirmadas, sinalizando que as estratégias de vacinação direcionada e vigilância comunitária estão funcionando.
Desafios para a sustentabilidade
Para Otim Patrick Ramadan, gestor de Resposta de Emergência da OMS na África, o foco agora é manter o que funciona: detecção rápida, vacinação em grupos de risco, sistemas laboratoriais robustos e envolvimento comunitário. Mas ele alerta que será fundamental assegurar mais financiamento e ampliar a distribuição de vacinas para regiões críticas.
O CDC África reforça que o êxito depende de uma resposta coordenada com plano, orçamento e monitoramento unificados, especialmente diante de recursos limitados. Hoje, 13 dos 22 países com transmissão ativa já têm planos de distribuição de vacinas e oito iniciaram a imunização de grupos prioritários.
Obstáculos no caminho
Apesar dos avanços, os esforços ainda enfrentam barreiras. Entre elas:
-
Acesso limitado a vacinas;
-
Falta de recursos financeiros;
-
Estigma contra pessoas infectadas;
-
Infraestrutura precária de saúde em áreas críticas;
-
Conflito armado no leste da RDC, que dificulta a chegada de equipes médicas.
Perspectiva
Para a OMS e o CDC África, os surtos de Mpox representam não apenas um desafio imediato de saúde pública, mas também um teste de cooperação continental. O fortalecimento das medidas já reduziu significativamente a curva de transmissão, mas a batalha só será vencida se houver financiamento sustentável, acesso ampliado a vacinas e apoio contínuo das comunidades locais.
- Leia mais:
Faça um comentário