
Altas temperaturas aumentam o consumo de bebidas açucaradas e sobremesas, sobretudo entre famílias de baixa renda
Por Paloma de Sá | GNEWSUSA
O aumento das temperaturas está mudando os hábitos alimentares nos Estados Unidos. Um estudo publicado na revista Nature Climate Change revela que o calor já leva os americanos a consumir mais de 100 milhões de libras de açúcar a mais por ano, sobretudo por meio de bebidas açucaradas e sobremesas, com maior impacto entre famílias de baixa renda e menor escolaridade.
Açúcar e calor: a relação direta
Segundo os pesquisadores, quando a temperatura varia entre 54 e 86 graus Fahrenheit (12ºC a 30ºC), o consumo de açúcar adicionado sobe, em média, 0,4 grama por pessoa a cada grau a mais. Isso significa que, em dias mais quentes, a ingestão pode passar de 2 gramas para mais de 15 gramas de açúcar por americano.
O coautor do estudo, Duo Chan, cientista climático da Universidade de Southampton, alerta que a mudança climática está afetando não só o clima, mas também a saúde: “Sob um clima mais quente, as pessoas ingerem mais bebidas açucaradas. Isso é um problema grave quando se trata de saúde pública.”
Impacto acumulado na saúde
Embora o aumento diário possa parecer pequeno — menos que uma barra de chocolate —, os efeitos a longo prazo são significativos. O endocrinologista Robert Lustig, da Universidade da Califórnia em San Francisco, explica que, entre os mais pobres, apenas uma lata de refrigerante a mais por dia eleva em 29% o risco de diabetes.
A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) aponta que a temperatura média anual dos EUA subiu cerca de 2,2 ºF desde 1895, o que contribui para mudanças consistentes nos hábitos alimentares.
Desigualdade no consumo
O estudo analisou dados de compras de 40 mil a 60 mil famílias entre 2004 e 2019 e cruzou as informações com registros climáticos. Os resultados mostram que homens consomem mais refrigerantes açucarados do que mulheres e que famílias de baixa renda são as mais afetadas.
Além disso, trabalhadores ao ar livre e pessoas com menor escolaridade ingerem significativamente mais açúcar em dias quentes. Enquanto isso, entre famílias asiáticas praticamente não houve variação.
A médica Courtney Howard, da Aliança Global para o Clima e a Saúde, que não participou da pesquisa, destacou que os grupos mais pobres já partem de um estado de saúde mais frágil, e o aquecimento global amplia essas desigualdades.
O que esperar para o futuro
Os cientistas estimam que, com o avanço do aquecimento global, a ingestão de açúcar deve aumentar ainda mais nos Estados Unidos, ampliando o risco de obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares.
Para a cientista Kristie Ebi, da Universidade de Washington, os impactos das mudanças climáticas vão além da dieta: “Haverá outras questões de maior importância do que um pequeno aumento nas bebidas açucaradas. Mas esse é um alerta claro de como o clima já está influenciando a saúde.”
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