
Relatório mostra que mais de 60% dos médicos e 72% dos enfermeiros na Europa foram formados fora da região, revelando risco de crise nos sistemas de saúde locais até 2030
Por Paloma de Sá | GNEWSUSA
A Organização Mundial da Saúde (OMS/Europa) alertou que a crescente dependência de médicos e enfermeiros formados no exterior ameaça a sustentabilidade dos sistemas de saúde europeus. Segundo relatório divulgado nesta sexta-feira (26), mais de 60% dos médicos e 72% dos enfermeiros que atuam na região vieram de fora da Europa, e a escassez de profissionais pode ultrapassar 950 mil até 2030 se não houver políticas eficazes de retenção e formação local.
Um novo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS/Europa) expôs a crescente dependência da Europa de profissionais de saúde estrangeiros, destacando impactos preocupantes nos sistemas nacionais. Com base em dados das Contas Nacionais de Força de Trabalho em Saúde e nove estudos de caso, a análise mostra que, entre 2014 e 2023, o número de profissionais qualificados de outros países que passaram a atuar na Europa aumentou 58%.
O crescimento foi particularmente expressivo entre médicos e enfermeiros: o número de novos médicos formados no exterior triplicou, enquanto o de novos enfermeiros quintuplicou no mesmo período. Essa dependência está ligada a desafios na formação e retenção de profissionais dentro da própria Europa.
A diretora da Divisão de Políticas e Sistemas de Saúde Nacionais da OMS/Europa, Natasha Azzopardi-Muscat, destacou:
“A migração dos profissionais de saúde é uma realidade do mercado de trabalho interligado da Europa e deve ser gerida de forma mais justa e sustentável.”
Impactos regionais
O relatório mostra que países da Europa Oriental, como Romênia e Bulgária, sofrem perdas significativas de profissionais para nações vizinhas, agravando a escassez local. Já na Europa Ocidental, cresce a dependência de médicos e enfermeiros estrangeiros.
A Irlanda é um exemplo dessa situação: atualmente, 43% dos médicos e mais da metade dos enfermeiros que atuam no país foram formados fora do território nacional. Essa dependência, segundo a OMS, cria desafios transfronteiriços, com países mais pobres perdendo mão de obra qualificada para sistemas de saúde mais ricos.
Exemplos de soluções
Alguns países têm adotado medidas para conter a crise. A Romênia, por exemplo, conseguiu reduzir a migração de médicos nos últimos anos ao investir no aumento dos salários e na melhoria das condições de trabalho.
A Irlanda, por sua vez, ampliou as vagas em cursos de medicina e enfermagem para estudantes nacionais, buscando diminuir a dependência de profissionais vindos do exterior.
Segundo Tomas Zapata, Conselheiro Regional da OMS/Europa para a Força de Trabalho em Saúde, essas experiências mostram que:
“É essencial apoiar os governos na implementação de estratégias de retenção, planejamento de longo prazo e reformas educativas que tornem os sistemas mais autossuficientes.”
Chamado à ação coordenada
A OMS pede que os países europeus desenvolvam políticas conjuntas que incluam:
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Estratégias de retenção de profissionais locais;
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Planejamento eficaz da força de trabalho, com metas de formação e distribuição equilibrada;
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Financiamento sustentável a longo prazo para o setor de saúde;
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Reformas educacionais que incentivem jovens a ingressar e permanecer na área.
A Dra. Azzopardi-Muscat ressaltou que a troca de experiências entre os países é fundamental:
“Os países podem aprender uns com os outros, mas é preciso gerir a mobilidade com base em princípios de equidade e sustentabilidade.”
O relatório da OMS evidencia que, sem mudanças estruturais, a Europa poderá enfrentar uma crise de saúde pública devido à falta de médicos e enfermeiros locais, tornando-se cada vez mais dependente da migração internacional para suprir necessidades básicas.
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