
Com gastos obrigatórios em alta e pouca margem de manobra, governo pode chegar a 2027 sufocado por dívidas e sem espaço para investimentos
Por Paloma de Sá |GNEWSUSA
O Brasil se aproxima de um ponto de estrangulamento nas contas públicas. A promessa de equilíbrio fiscal feita em Brasília esbarra na realidade: as despesas obrigatórias continuam crescendo, enquanto a arrecadação não acompanha o mesmo ritmo. Projeções técnicas apontam que 2027 pode marcar um divisor de águas — ano em que o Estado brasileiro poderá se ver encurralado, com pouco espaço para manter serviços e investir.
Orçamento engessado e risco crescente
A rigidez do orçamento não é novidade, mas vem se agravando. Gastos com previdência, salários do funcionalismo, transferências constitucionais e precatórios consomem grande parte do caixa federal. Com isso, sobra cada vez menos para áreas como saúde, educação, infraestrutura e programas sociais.
Estudos do Tesouro Nacional indicam que, sem mudanças significativas na trajetória das despesas ou das receitas, a margem para gastos discricionários — aqueles que o governo pode ajustar conforme a necessidade — ficará cada vez mais estreita. Em termos práticos, o Estado tende a perder flexibilidade para gerir as próprias políticas públicas.
O fator precatórios
A pressão fiscal deve se intensificar a partir de 2026, quando entram em vigor as mudanças da Emenda Constitucional 136, que alterou as regras para o pagamento das dívidas judiciais do governo.
Pelas novas regras, os precatórios deixarão de contar integralmente dentro do limite de despesas primárias da União, o que dá certo alívio imediato. Mas, a partir de 2027, 10% do estoque dessas dívidas volta a ser incluído nas metas fiscais, reativando a pressão sobre as contas públicas.
Especialistas destacam que essa medida apenas posterga o problema. Segundo avaliações técnicas, o governo ganhou tempo, mas não resolveu o desequilíbrio estrutural das contas públicas.
A fatura do descuido fiscal
O alerta sobre o descontrole das contas não é novo e atravessa gestões de diferentes partidos. Apesar disso, o atual governo tem flexibilizado regras para abrir espaço no orçamento, sem apresentar medidas consistentes para conter o avanço das despesas obrigatórias.
Se não houver reformas estruturais nem aumento da arrecadação, o país pode enfrentar, nos próximos anos:
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Compressão drástica do espaço fiscal, sufocando investimentos em infraestrutura, saúde e educação;
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Dificuldades para honrar compromissos com fornecedores e servidores;
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Aumento do risco-país e desconfiança dos investidores, pressionando os juros e dificultando o crescimento econômico.
Para economistas, o chamado “apagão fiscal” não é uma metáfora exagerada, mas um alerta sobre a crescente incapacidade do Estado de financiar políticas essenciais sem comprometer sua estabilidade financeira.
Reformas adiadas e impasse político
A solução passa por medidas conhecidas: rever incentivos fiscais, reformar a previdência, redesenhar o sistema tributário e controlar melhor os gastos públicos. Entretanto, tais propostas seguem paradas no Congresso, travadas por disputas políticas e resistência de setores beneficiados.
Enquanto isso, a dívida bruta do governo continua subindo e deve alcançar novos recordes até 2027, ampliando a fragilidade fiscal do país. Avaliações de consultorias e organismos independentes apontam que, sem ação imediata, o Brasil poderá entrar na segunda metade da década com espaço orçamentário severamente comprimido.
Um futuro de escolhas difíceis
Especialistas concordam que a trajetória atual não é sustentável. O país corre o risco de ficar preso a um ciclo de cortes improvisados, juros elevados e baixo crescimento econômico.
A partir de 2027, a conta do descuido fiscal tende a se impor. Para analistas, não se trata de uma crise inesperada, mas da consequência de anos de adiamentos e de decisões políticas voltadas apenas para aliviar a pressão imediata — sem enfrentar as causas do problema.
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