
Apesar de ser alvo indireto das investigações, Alexandre de Moraes permanece como relator do inquérito, após Barroso rejeitar impedimento alegado pela defesa de Eduardo Tagliaferro
Por Redação | GNEWSUSA
O Supremo Tribunal Federal (STF) vive uma crise institucional silenciosa. Alexandre de Moraes segue à frente do inquérito que investiga mensagens vazadas entre seu ex-assessor no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Eduardo Tagliaferro, e auxiliares de gabinete do próprio ministro — situação que a defesa classificou como claro conflito de interesse.
O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, rejeitou o pedido de impedimento por não ver demonstração objetiva das causas legais previstas no Código de Processo Penal e no Regimento Interno da Corte. Críticos, juristas e advogados alertam para o risco que essa permanência representa ao devido processo legal, ao princípio do juiz natural e à confiança pública no Supremo.
O que está em investigação
O inquérito apura o vazamento de conversas de WhatsApp entre Eduardo Tagliaferro, ex-assessor de Moraes no TSE, e Airton Vieira, juiz instrutor auxiliar no gabinete de Moraes no STF.
Argumento da defesa e base legal para o impedimento
A defesa de Tagliaferro argumenta que Moraes não pode ser relator porque teria “interesse pessoal direto” no desfecho do caso, já que foi citado e seus auxiliares estão envolvidos. Sustenta ainda que o inquérito não poderia ter sido instaurado de ofício pelo próprio relator, o que fere os princípios da imparcialidade, da suspeição e do juiz natural.
Os advogados citam dispositivos do Código de Processo Penal e do Regimento Interno do STF que determinam o impedimento de magistrados em casos onde há relação pessoal, interesse direto ou circunstâncias que comprometam a neutralidade do julgamento.
Decisão de Barroso e justificativa oficial
Em agosto de 2024, o ministro Luís Roberto Barroso rejeitou o pedido de impedimento. Ele alegou que a petição da defesa não demonstrou de forma clara e objetiva nenhuma das causas legais previstas para afastar um relator. Para Barroso, alegações genéricas não bastam para configurar impedimento.
O presidente do STF também justificou que a distribuição do inquérito a Moraes se deu “por prevenção”, em razão da conexão com investigações já em curso sob sua relatoria.
Críticas e riscos apontados
Princípio da imparcialidade: críticos afirmam que um juiz não pode investigar, decidir ou relatar um caso em que figure como parte ou seja diretamente afetado. A permanência de Moraes como relator, mesmo quando citado no processo, fere esse princípio fundamental.
Juiz natural e prevenção: a defesa sustenta que o critério de prevenção não justifica a manutenção da relatoria quando há suspeita de conflito de interesse.
Confiança pública: a continuidade de Moraes à frente do inquérito pode minar a confiança social no Supremo, dando margem à percepção de que o tribunal protege seus próprios membros.
Simetria legal: juristas alertam que o STF deveria aplicar as mesmas regras de impedimento e suspeição que exige de juízes de instâncias inferiores, sob pena de violar o princípio da isonomia.
Resposta institucional e próximos passos
Após a decisão de Barroso, a defesa de Tagliaferro informou que pretende recorrer por meio de agravo regimental, para que o plenário do STF analise o pedido de impedimento. Também foi solicitado o trancamento do inquérito, sob alegação de irregularidades na sua instauração.
Contexto mais amplo
O episódio ocorre em meio a um cenário de desgaste da imagem do Supremo, acusado por críticos de concentrar poderes e extrapolar competências constitucionais. A permanência de Moraes em um caso no qual é mencionado diretamente reforça questionamentos sobre os limites de atuação de ministros e sobre a falta de mecanismos de controle interno na Corte.
Além disso, a Comissão de Segurança Pública do Senado recomendou cautela quanto a documentos apresentados pela defesa de Tagliaferro, por suspeita de adulteração — fator que pode agravar ainda mais a disputa judicial.
A decisão de manter Alexandre de Moraes como relator de um inquérito em que é citado direta ou indiretamente desafia princípios basilares do Estado de Direito, como a imparcialidade e o juiz natural.
Embora Barroso tenha sustentado que não houve demonstração objetiva de impedimento, o caso evidencia fragilidades institucionais e a necessidade de maior transparência no funcionamento do STF.
Sem uma decisão colegiada que defina limites claros para situações de conflito, o episódio reforça a percepção de que a Suprema Corte atua sem o devido controle previsto pela própria Constituição.
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