França endurece posição sobre imigração e aprova proposta que ameaça acordo com a Argélia

Com apoio da direita e extrema direita, Assembleia Nacional aprova texto que coloca em xeque o tratado de 1968 — base dos direitos de residência e trabalho dos argelinos em território francês
Por Chico Gomes | GNEWSUSA

Nesta quinta-feira (30), a França deu um passo decisivo na mudança de sua política migratória. Por uma diferença de apenas um voto — 185 a 184 —, a Assembleia Nacional aprovou um texto proposto pelo partido de extrema direita Reunião Nacional (RN), de Marine Le Pen, que questiona o acordo bilateral firmado com a Argélia em 1968.

A proposta, que recebeu apoio dos Republicanos (LR) e de parte do partido Horizontes (centro-direita), representa a primeira vitória legislativa do RN e acende o alerta sobre o avanço de pautas anti-imigração na política francesa.

Marine Le Pen classificou o resultado como “histórico”, afirmando que o governo “deve levar em consideração a decisão da Assembleia Nacional”. A votação ocorreu poucas horas antes de o primeiro-ministro Sébastien Lecornu afirmar publicamente que a França pretende “renegociar” o tratado.

O que prevê o acordo franco-argelino

Assinado em 27 de dezembro de 1968, seis anos após o fim da guerra da Argélia, o acordo estabeleceu um estatuto jurídico especial para cidadãos argelinos na França, garantindo condições facilitadas para entrada, residência e trabalho no país.

Entre os benefícios, estão a dispensa de autorização de residência comum, substituída por um certificado especial, e isenção de visto para estadias superiores a três meses. O tratado também permite o reagrupamento familiar e autorizações de residência de longo prazo com mais rapidez do que para outras nacionalidades.

O texto foi criado em um contexto de cooperação econômica, quando a França buscava mão de obra para reconstrução pós-guerra. Por ter natureza de acordo internacional, o tratado se sobrepõe à legislação francesa.

Divisões políticas e debate sobre imigração

A decisão reacendeu o debate sobre os limites e privilégios da imigração na França. Parlamentares próximos ao presidente Emmanuel Macron já haviam criticado o acordo, argumentando que ele cria desigualdade entre estrangeiros.

Enquanto Marine Le Pen comemorou o resultado como uma virada histórica para o RN, partidos de esquerda — como ecologistas, comunistas e a França Insubmissa — condenaram a proposta, acusando a extrema direita de “instrumentalizar o passado colonial” e de estimular discursos xenófobos.

A aprovação evidencia um endurecimento gradual da política migratória francesa, colocando em pauta não apenas o futuro das relações com a Argélia, mas também o rumo da imigração na Europa diante do avanço de partidos nacionalistas.

LEIA TAMBÉM:

Delegado que prendeu o maior traficante do Espírito Santo é rebaixado pelo governo

Após megaoperação, moradores recolhem dezenas de corpos na Penha; mortos ultrapassam 100 no Rio

Ansiedade é a principal causa de dor no peito em atendimentos de emergência

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*