Demora na extradição permite que acusado do PCC continue operando, mostrando lacunas legais na Argentina e risco à população
Por Ana Raquel |GNEWSUSA
A extradição do argentino Diego Hernan Dirísio, conhecido como o “Mestre das Armas”, permanece sem definição quase dois anos após sua prisão em Buenos Aires, em fevereiro de 2024. Dirísio é apontado pela Polícia Federal (PF) como responsável por abastecer facções criminosas brasileiras como o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o Comando Vermelho (CV) com milhares de fuzis, pistolas e munições.
O caso expõe a fragilidade do controle do crime organizado e a lentidão da diplomacia brasileira, enquanto um dos maiores fornecedores de armas do continente continua fora do território nacional.
Por que a Argentina ainda não extraditou Dirísio
O principal obstáculo é que Dirísio é cidadão argentino. Pela Constituição da Argentina, o país não extradita seus próprios nacionais, exceto em circunstâncias muito específicas e avaliadas pela Corte Suprema.
Segundo o advogado criminalista João Rafael Amorim, mestre em Direito Penal Econômico:
“Mesmo com provas robustas e pedido formal do Brasil, a nacionalidade do acusado pode ser suficiente para barrar a extradição. A Argentina, nesses casos, pode optar por processá-lo internamente.”
Essa proteção legal coloca o criminoso temporariamente fora do alcance da Justiça brasileira, enquanto o processo segue sob análise da Corte Suprema argentina.
Tratado de Extradição entre Brasil e Argentina
O Tratado de Extradição prevê que criminosos podem ser entregues ao outro país quando os crimes tiverem pena superior a dois anos. O artigo 5º permite que a Argentina negue a extradição de cidadãos nacionais, desde que promova julgamento local com base nas provas fornecidas pelo Brasil.
Mesmo que a extradição não ocorra, Dirísio não ficará impune, mas a demora diminui a capacidade do Brasil de controlar a situação e proteger a população do armamento que abastece as facções.
O império do “Mestre das Armas”
As investigações da PF apontam que Dirísio comandava uma rede transnacional de tráfico de armas. Ele mantinha uma empresa de fachada em Assunção, Paraguai, de onde importava fuzis, pistolas e munições do Leste Europeu — especialmente da Croácia, Turquia, República Tcheca e Eslovênia — e revendia para facções brasileiras.
O esquema movimentou R$ 1,2 bilhão em três anos. Em dezembro de 2023, a PF deflagrou a Operação Dakovo, com Dirísio como alvo principal. Ele conseguiu fugir inicialmente, mas foi capturado pela Interpol dois meses depois na Argentina, junto com a esposa, Julieta Vanessa Nardi Aranda.
“Eles precisam responder perante à lei brasileira. É uma resposta essencial que o país pode dar ao crime organizado e às facções”, afirmou o delegado Flávio Albergaria, superintendente da PF na Bahia.
Situação atual e próximos passos
Dirísio segue preso em Buenos Aires, enquanto a Corte Suprema argentina analisa o pedido de extradição. O governo argentino, de orientação de direita, segue rigorosamente a lei que protege seus cidadãos, mantendo o processo dentro de seu território.
O governo brasileiro mostra falta de firmeza diplomática, atrasando a extradição de Dirísio e permitindo que um dos maiores fornecedores de armas do continente continue fora do alcance da Justiça. Para especialistas, essa demora enfraquece a capacidade do país de combater o crime organizado e mantém as facções criminosas abastecidas.
Resumo do caso
• Preso: Diego Hernan Dirísio (“Mestre das Armas”)
• Acusação: Tráfico internacional de armas e associação com facções criminosas
• Armas vendidas: Cerca de 43 mil
• Valor movimentado: R$ 1,2 bilhão
• Prisão: Buenos Aires, fevereiro de 2024
• Principal entrave: Nacionalidade argentina e análise da Corte Suprema
• Situação atual: Preso na Argentina, aguardando decisão judicial
Conclusão
A demora na extradição de Dirísio evidencia a falta de firmeza e eficiência da diplomacia brasileira, dificultando o combate ao crime transnacional. Enquanto o país aguarda definição da Corte Suprema argentina, um dos maiores fornecedores de armas do continente permanece fora do alcance da Justiça, reforçando a necessidade de pressão internacional constante e de cooperação estratégica com outros Estados.
O caso alerta para a vulnerabilidade do Brasil frente ao crime organizado e destaca a importância de ação rápida e articulada para impedir que criminosos transnacionais se aproveitem de brechas legais e continuem atuando com impunidade.
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