COP30 em Belém: muito discurso, pouca ação — e um ritual que se repete

Foto: Sergio Moraes/COP30
A Cúpula na Amazônia transforma-se em símbolo de uma conferência marcada por promessas grandiosas — mas pelo que efetivamente falta entregar
Por Paloma de Sá | GNEWSUSA

A COP30 — que terá início em Belém (PA) em 10 de novembro — revive um rito conhecido: discursos inflamados, promessas de escala global e, ao fim, resultados bem aquém do necessário. A Cúpula de Líderes que antecede o evento, iniciada em 6 de novembro, já evidencia que o Brasil recebe o mundo em meio a contradições — e que o risco é o de repetir o espetáculo internacional sem que haja a ação decisiva que a crise climática exige.

Uma agenda que resvala

O local escolhido, a cidade de Belém, simboliza tanto o protagonismo natural do país na agenda climática — por sediar a maior floresta tropical do mundo — quanto o peso da insegurança internacional e da falha coletiva em transformar discursos em resultados. A sede da conferência remete ao contexto de 1992, quando a Rio-92 parecia marcar o início de uma era de cooperação. Hoje, dezenas de países com grandes emissões não entregaram novos compromissos e muitos relatórios apontam lacunas profundas na implementação.

Enquanto isso, o anfitrião brasileiro assume papel duplo: ao mesmo tempo em que defende o fim dos combustíveis fósseis, eleva a exploração de petróleo e gás — inclusive na foz do Amazonas — gerando dissonância entre discurso e prática.

Promessas financeiras e a amarga realidade

Em preparação para a COP30, foi lançado o plano “Baku to Belém Roadmap”, que prevê alcançar US$ 1,3 trilhão por ano em financiamento climático. Apesar da grandiosidade, críticos alertam que o plano não diz como será concretizado o salto — e que segue sendo mais um exemplo de “boa intenção” do que de compromisso mensurável.

Além disso, um relatório da Transparência Internacional Brasil aponta graves lacunas em transparência nas obras de infraestrutura de Belém ligadas ao evento — sem divulgação de licenças ambientais, sem dados abertos e com consultas públicas praticamente ausentes. Isso reforça a crítica de que o ritual da conferência se sobrepõe à cultura da prestação de contas e do controle que um evento desse porte exige.

O maior paradoxo: palco da Amazônia, cenário de dúvida

A Amazônia parecia cenário ideal para uma COP que simbolizasse viragem: biodiversidade, povos indígenas, florestas que armazenam carbono e justiça climática. Há trabalhos que indicam que a agenda de adaptação — que era para estar no centro — segue estagnada.

Entretanto, Belém transmite outra mensagem: de urgência não atendida, de participação simbólica que carece de poder real e de uma infraestrutura que ainda gera mais dúvidas do que confiança. O local põe em xeque se, de fato, existe coercibilidade ou responsabilidade vinculante nos compromissos, ou se seguimos com um grande evento diplomático onde “falar muito” prevalece sobre “fazer de fato”.

E agora? Checklist para o jornalismo que acompanha a COP30

O que monitorar nos próximos dias:

  • Que países entregaram ou atualizaram suas “Contribuições Nacionalmente Determinadas” (NDCs) e como isso se traduz em metas concretas.

  • Como será operacionalizada a já mencionada “Baku to Belém Roadmap”: quais fontes, mecanismos e garantias de implementação.

  • Transparência das obras preparatórias em Belém: se as recomendações da Transparência Internacional serão atendidas ou serão ignoradas.

  • Participação indígena e comunitária: se a estrutura de decisão conta com vozes desses povos ou se permanece apenas “visível” como símbolo.

  • O nível de ambição real nas decisões de mitigação – especialmente acerca de combustíveis fósseis –, e o quanto isso está à altura da ciência.

A COP30 em Belém tem todos os ingredientes de um grande espetáculo diplomático — cenário emblemático, megaeventos, discursos de liderança global. O verdadeiro teste será se, ao fim, não restará apenas o ritual de prometer, mas sim passos concretos que modifiquem a trajetória do planeta. Caso contrário, soará, mais uma vez, como um espetáculo bem encenado com pouco efeito real.

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