Com hospedagem inacessível, falta de planejamento logístico e críticas internacionais, a COP 30 ameaça se tornar uma conferência elitista e antitética aos próprios objetivos ambientais
Por Paloma de Sá | GNEWSUSA
A COP 30, sediada pela primeira vez na Amazônia, transformou-se em um palco de contradições. Altos preços de hospedagem, obras atrasadas e dificuldades de participação de países mais pobres colocam em xeque a “inclusividade” defendida pelo governo Lula. Em vez de reforçar o protagonismo climático do Brasil, o evento tem sido marcado por elitização, especulação imobiliária e falta de estrutura — prejudicando sua própria legitimidade.
O “vexame” da COP 30: altos custos e exclusão
A decisão de realizar a COP 30 em Belém trouxe uma série de problemas que vêm sendo amplamente criticados por organizações ambientais, delegações estrangeiras e veículos de imprensa internacionais.
1. Hospedagem inacessível e especulação imobiliária
Segundo o Observatório do Clima, os preços da hospedagem chegaram a patamares tão altos que podem tornar esta “a COP mais excludente da história”.
Relatos de jornalistas e delegações apontam que plataformas de aluguel por temporada exibiram valores considerados “surreais”, com casos de pacotes de estadia chegando a centenas de milhares de reais para os 11 dias da conferência.
No setor hoteleiro, estabelecimentos chegaram a cobrar até 10 ou 15 vezes mais que o valor usual praticado em Belém. Um caso emblemático foi o antigo “Hotel Nota 10”, que passou a se chamar “Hotel COP 30” e elevou sua diária para a faixa de R$ 7 mil.
2. ONU critica e pede subsídio de hospedagem
A explosão nos preços chamou a atenção da própria ONU. A organização solicitou ao governo brasileiro apoio financeiro para viabilizar a participação de delegações de países mais pobres, que estavam encontrando dificuldades para garantir hospedagem.
O governo brasileiro anunciou uma plataforma com cerca de 1.500 acomodações destinadas a cerca de 100 países em desenvolvimento, com limite diário de aproximadamente US$ 220 para hospedagem subsidiada. Ainda assim, representantes internacionais afirmaram que os custos continuam elevados e representam um obstáculo real.
O presidente da COP 30, André Corrêa do Lago, reconheceu publicamente que os valores estão altos e afirmou que o governo buscava soluções.
3. Planejamento e infraestrutura insuficientes
Belém não possui rede hoteleira compatível com a demanda de um evento global como a COP. Especialistas afirmam que a cidade tem menos leitos do que o necessário para receber chefes de Estado, diplomatas, pesquisadores, jornalistas e organizações da sociedade civil.
Além disso, obras importantes foram atrasadas por greves de trabalhadores da construção civil, entre elas o “Leaders’ Village”, estrutura projetada para hospedagem de autoridades internacionais.
4. Falta de inclusão e risco à legitimidade da conferência
Organizações ambientais e especialistas afirmam que a COP precisa assegurar a participação plural de países, povos indígenas, cientistas, jovens e movimentos sociais — especialmente aqueles mais vulneráveis às mudanças climáticas.
Com os preços tão elevados, a presença desses grupos fica prejudicada, colocando em risco a legitimidade das decisões que forem tomadas no encontro.
O Observatório do Clima chegou a alertar que delegações de países pobres poderiam simplesmente deixar de comparecer por falta de recursos.
5. Contradições e simbolismos que viraram críticas
A realização da COP na Amazônia foi pensada como um gesto simbólico importante. Entretanto, diversas contradições acabaram se tornando munição para críticos do governo.
Entre elas:
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Delegações relatando hospedagens poluentes ou luxuosas em meio a um evento ambiental.
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Falta de diálogo consistente com comunidades locais.
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Problemas de acesso por infraestrutura limitada.
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Explosão de preços que contraria o discurso de “conferência inclusiva”.
Para analistas, a narrativa do governo — centrada em justiça climática e protagonismo indígena — contrasta fortemente com a realidade enfrentada por visitantes e participantes menos abastados.
Lições e desgastes
A COP 30 tinha o potencial de ser um marco histórico para o Brasil: o primeiro evento mundial sobre clima no coração da Amazônia. Porém, problemas estruturais, contradições políticas, preços abusivos e falta de planejamento acabaram transformando o encontro em motivo de desgaste nacional e internacional.
Ao invés de reforçar a imagem do país como líder climático, a conferência tornou-se símbolo de elitização, caos logístico e distância entre discurso e prática.
O desafio agora é garantir que o evento não reproduza — ou amplifique — as mesmas desigualdades que pretende combater.
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