Setores cristãos se tornam alvo após presidente intensificar pressão e ampliar clima de confronto político
Por Ana Raquel |GNEWSUSA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar, em discurso recente, a atuação de igrejas — tanto evangélicas quanto católicas — no cenário político. Segundo ele, as instituições religiosas deveriam “cuidar da fé e da espiritualidade das pessoas”, e não se envolver em campanhas ou apoiar candidaturas.
A fala, considerada por muitos como um recado direto ao segmento evangélico — majoritariamente alinhado à direita — repercutiu imediatamente no meio político e religioso.
“As igrejas têm que cuidar da fé e da espiritualidade das pessoas, e não de candidaturas de falsos profetas ou fariseus, que estão enganando esse povo o dia inteiro.”
A declaração foi vista como uma generalização ofensiva por parte de líderes religiosos e como mais um capítulo da tensão entre o governo Lula e setores cristãos, especialmente aqueles que criticam sua gestão.
Embora o presidente tenha citado o Estado laico, para opositores o discurso soa como tentativa de limitar a atuação de igrejas justamente no período pré-eleitoral, quando seu apoio costuma ter peso decisivo.
Contexto: a relação conturbada entre Lula e o eleitorado cristão
A fala não surpreende quem acompanha a postura do governo. Lula já afirmou em outras ocasiões que igrejas “não precisam ter partido político” e costuma dizer que sua fé é pessoal, sem necessidade de templos ou líderes religiosos.
Esse distanciamento contribuiu para que, nos últimos anos, o presidente acumulasse rejeição crescente entre evangélicos — um segmento que, historicamente, tem expressado preferência por pautas conservadoras e nomes da direita.
Ao afirmar novamente que igrejas não devem se posicionar politicamente, Lula reforça um movimento que muitos enxergam como tentativa de desmobilizar um dos grupos mais fortes da oposição.
Impacto na corrida para 2026
Com as eleições de 2026 se aproximando, a discussão se torna ainda mais estratégica.
A influência de pastores, padres e lideranças cristãs tem sido determinante nas últimas disputas eleitorais. O próprio presidente reconheceu dificuldades da esquerda em dialogar com esse público e classificou 2026 como:
“Um ano sagrado”.
Analistas políticos interpretam essa fala como um sinal de preocupação: o governo tenta recuperar espaço entre evangélicos, enquanto desestimula que líderes religiosos manifestem apoio a candidatos — especialmente adversários.
Críticos afirmam que Lula tenta despolitizar igrejas, mas não aplica o mesmo rigor a sindicatos, movimentos sociais e entidades alinhadas à esquerda, que atuam abertamente na política e recebem apoio governamental.
Repercussão: divisão entre elogios e fortes críticas
As reações à declaração foram imediatas:
Apoio
• Defensores do governo alegam que a fala protege o Estado laico.
• Juristas próximos ao governo afirmam que templos não devem funcionar como palanques eleitorais.
Críticas
• Líderes religiosos afirmam que Lula tenta censurar a participação de cristãos na política.
• Pastores e padres reforçam que todos — inclusive eles — têm direito constitucional de opinar, votar e apoiar quem quiserem.
• Há quem enxergue tentativa de silenciamento político justamente do grupo que mais critica o governo.
Para setores conservadores, a fala de Lula é contraditória: defende Estado laico, mas interfere diretamente no modo como igrejas devem se comportar.
O cerne do debate
A declaração reacende questões fundamentais:
• Quem define o limite entre fé e política?
• Por que apenas igrejas seriam desestimuladas a se manifestar, enquanto outras entidades seguem atuando politicamente?
• É legítimo um presidente dizer o que instituições religiosas “devem ou não devem” fazer?
Embora a Constituição garanta Estado laico, ela também assegura liberdade religiosa e liberdade de expressão — incluindo a de líderes religiosos.
Para a direita, o discurso de Lula representa um alerta: um presidente dizendo como igrejas devem agir politicamente abre espaço para novos conflitos e para interpretações de censura indireta.
Conclusão
Ao reafirmar que igrejas devem “cuidar da fé e não de candidaturas”, Lula retoma um discurso que historicamente afasta milhões de cristãos de sua base.
Em um momento decisivo para o país, o presidente tensiona novamente sua relação com o eleitorado religioso — um dos grupos mais influentes e politicamente ativos do Brasil.
A fala pode ter o efeito contrário ao desejado: em vez de reduzir a atuação das igrejas, pode reforçar a percepção de que o governo tenta controlar ou descredibilizar quem discorda dele.
Leia mais
RD Congo declara fim do surto de ebola na província de Kassai; 45 mortes foram registradas
ICE prende imigrantes condenadas por crimes hediondos contra crianças

Faça um comentário