Paciente alemão permanece há seis anos sem sinais do vírus após transplante de células-tronco, mesmo sem a mutação genética considerada essencial nos casos anteriores
Por Paloma de Sá |GNEWSUSA
Um homem de 60 anos, residente em Berlim, tornou-se o sétimo paciente no mundo a alcançar remissão de longo prazo do HIV após receber um transplante de células-tronco para tratar leucemia mieloide aguda (LMA). O caso, descrito por pesquisadores internacionais em artigo científico publicado nesta segunda-feira (2), representa um marco raro, ao desafiar entendimentos anteriores sobre os mecanismos necessários para eliminar o vírus do organismo humano.
O paciente, apelidado de “B2” pelos cientistas, interrompeu a terapia antirretroviral há seis anos e, desde então, não apresenta qualquer sinal de replicação viral, segundo análises repetidas de sangue e tecidos. A remissão ocorre como efeito indireto do tratamento oncológico — que incluiu quimioterapia intensiva e transplante de medula — e não de uma intervenção direcionada ao HIV.
Por que esse caso é tão diferente
Até agora, todos os casos confirmados de remissão tinham algo em comum: o transplante havia sido feito com células de doadores portadores da mutação genética CCR5 Δ32 em ambas as cópias do gene. Essa mutação torna as células resistentes à entrada do HIV.
No caso B2, porém, o doador possuía apenas uma cópia da mutação, condição considerada insuficiente para bloquear o vírus. Mesmo assim, a remissão se manteve estável ao longo dos anos, surpreendendo os especialistas.
Outro ponto curioso é que o próprio paciente também possui uma cópia da mutação CCR5 Δ32 combinada a uma cópia normal do gene — uma configuração que não o protegeu da infecção inicial, mas que pode ter contribuído de forma ainda não compreendida para a resposta ao transplante.
Como o tratamento funcionou
O procedimento ao qual o paciente foi submetido visava exclusivamente tratar a leucemia. Esse tipo de transplante destrói quase todo o sistema imunológico do paciente, substituindo-o pelas células do doador.
Esse “reinício” profundo do sistema imune, aliado à quimioterapia agressiva, pode ter eliminado os chamados reservatórios virais — células que escondem partículas do HIV e que tornam a cura tão difícil.
Nos exames realizados ao longo de seis anos, não houve qualquer detecção de RNA viral, DNA proviral ou sinais de replicação em áreas tradicionalmente difíceis de testar, como linfonodos e medula óssea.
Limites e alertas: por que isso não significa uma cura universal
Especialistas destacam que, apesar de ser um resultado extraordinário, o método não é aplicável à população geral vivendo com HIV.
Entre os principais motivos:
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O transplante de células-tronco é altamente arriscado, podendo causar rejeição, infecções e outras complicações graves.
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O procedimento é indicado somente para pessoas com câncer hematológico grave, quando o transplante já seria necessário de qualquer forma.
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Ainda não há clareza sobre por que alguns pacientes entram em remissão e outros não, mesmo sob protocolos semelhantes.
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O custo e a complexidade tornam o procedimento inacessível como estratégia de saúde pública.
Assim, os antirretrovirais continuam sendo o tratamento padrão e seguro para pessoas vivendo com HIV.
O que este caso representa para a ciência
A nova remissão abre perspectivas importantes:
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Mostra que a mutação CCR5 Δ32 em dose dupla pode não ser a única via possível para eliminação do HIV.
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Sugere que fatores imunológicos e genéticos antes ignorados podem desempenhar papel decisivo.
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Reforça a necessidade de pesquisas focadas em terapias combinadas, modulação imunológica e abordagens que imitem os efeitos benéficos do transplante, mas com menos riscos.
Pesquisadores afirmam que cada novo caso de remissão funciona como uma peça adicional no quebra-cabeça da cura — ainda distante, mas cada vez mais compreendida.
O caso do paciente B2 representa um avanço científico raro e significativo, trazendo novas pistas sobre como o HIV pode ser eliminado do organismo em condições muito específicas. A comunidade científica recebe o achado com entusiasmo, mas também com cautela: apesar do progresso, uma cura acessível, segura e universal ainda depende de muitos anos de pesquisa.
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