Pesquisa da Unicamp avalia perfil de pacientes, adesão ao tratamento e causas de sintomas persistentes — meta é atualizar diretrizes clínicas no Brasil
Por Paloma de Sá | GNEWSUSA
Depois de mais de uma década sem avanços expressivos no tratamento do hipotireoidismo no país, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) iniciou um novo estudo que promete redefinir o cuidado com pacientes que convivem com disfunções da tireoide. A pesquisa, conduzida pelos endocrinologistas Danilo Villagelin e Laura Sterian Ward, tem apoio da Merck Brasil e busca entender, de forma inédita, o perfil dos brasileiros em tratamento, suas dificuldades e as razões pelas quais muitos não conseguem alcançar o equilíbrio hormonal, mesmo seguindo a reposição prescrita.
O estudo vai analisar informações clínicas, níveis hormonais, adesão ao tratamento e, em casos selecionados, investigar fatores moleculares relacionados à persistência de sintomas. A proposta é gerar evidências capazes de subsidiar futuras atualizações das diretrizes clínicas e melhorar a conduta dos profissionais de saúde em todo o país.
Um problema comum, mas pouco visível
Apesar de ser uma das doenças endócrinas mais prevalentes do mundo, o hipotireoidismo ainda carece de visibilidade pública. Estimativas apontam que cerca de 7,4% da população brasileira convive com a doença, número que sobe para 12,8% quando incluída a forma subclínica — mais discreta e frequentemente ignorada.
Os impactos, no entanto, são significativos: humor instável, fadiga crônica, alterações metabólicas e aumento do risco cardiovascular. A forma subclínica, embora muitas vezes silenciosa, pode dobrar as chances de eventos cardíacos e está associada à dislipidemia, hipertensão e resistência à insulina.
Desafios no diagnóstico e no tratamento
O cenário brasileiro evidencia uma série de gargalos que dificultam o controle adequado da doença. Estima-se que:
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Cerca de 16 milhões de brasileiros convivam com hipotireoidismo clínico.
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Outros 10,6 milhões tenham a forma subclínica.
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Apenas 62% dos diagnosticados recebem tratamento; no hipotireoidismo subclínico, esse número cai para 5%.
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Entre 30% e 40% dos pacientes tratados não conseguem atingir metas hormonais, por falhas de absorção, interações medicamentosas ou uso incorreto da medicação.
Mesmo com a eficácia já conhecida da levotiroxina — hormônio sintético usado na reposição — muitos pacientes permanecem sintomáticos, o que reforça a necessidade de estudos mais profundos sobre as particularidades genéticas, metabólicas e comportamentais dos brasileiros.
O que a pesquisa da Unicamp vai investigar
A equipe da Unicamp pretende responder a perguntas que podem redefinir o cuidado com a tireoide no país. Entre os objetivos estão:
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Descrever a realidade do paciente brasileiro em tratamento.
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Avaliar os níveis de controle hormonal e a qualidade da adesão terapêutica.
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Identificar causas para sintomas persistentes mesmo com reposição adequada.
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Analisar fatores moleculares e possíveis variações genéticas que influenciam a resposta ao tratamento.
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Reunir dados que sirvam de base para revisão e atualização das diretrizes clínicas.
A expectativa é que os resultados ajudem a orientar novos fluxos de diagnóstico, acompanhamento e educação em saúde.
Um passo importante para a saúde pública
A iniciativa reforça o protagonismo da ciência brasileira no estudo das doenças da tireoide, área em que o país já se destaca pela produção científica robusta e sua rede de centros especializados. Para especialistas, o estudo chega em um momento crucial, em que cresce a necessidade de estratégias mais eficientes para diagnóstico precoce, gestão dos sintomas e adesão ao tratamento.
Além de ampliar a compreensão sobre o hipotireoidismo, o trabalho pode contribuir para melhorar políticas públicas, treinamento de profissionais e campanhas de conscientização — essenciais para uma doença que, embora comum, ainda é negligenciada por grande parte da população.
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