Gedeão Pereira, com a mão no queixo, durante fala do ministro Luiz Marinho (Trabalho). Foto: Reprodução.
Declarações de Gedeão Silveira Pereira geram indignação entre representantes de trabalhadores e são refutadas pelo ministro do Trabalho durante evento em Genebra.
O empresário Gedeão Silveira Pereira, segundo vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), fez declarações polêmicas durante a Conferência Internacional do Trabalho em Genebra, Suíça, realizada nesta segunda-feira (10/6). Ele afirmou que não há trabalho escravo no Rio Grande do Sul e criticou o programa Bolsa Família, alegando que ele reduz a oferta de mão de obra.
As declarações de Pereira causaram indignação entre os representantes dos trabalhadores presentes e foram contestadas pelo ministro do Trabalho, Luiz Marinho. Pereira, que participava do evento como representante dos empresários, está programado para participar de um jantar nesta terça-feira (11/6). Alguns líderes sindicais, que representam os trabalhadores, ameaçam não participar do jantar se não houver uma retratação por parte de Pereira.
Durante seu discurso, Pereira mencionou um resgate de trabalhadores em condições análogas à escravidão na colheita de uva no Rio Grande do Sul em fevereiro do ano passado. Ele questionou se esses casos não seriam uma distorção da aplicação da legislação trabalhista.
Pereira admitiu a possibilidade de trabalho escravo na mineração da Amazônia, mas negou sua existência nas regiões mais desenvolvidas do Brasil, assim como nas vinícolas Salton, Garibaldi e Aurora.
Ele argumentou que a burocracia necessária para contratar trabalhadores temporários na colheita de uvas é excessiva e contraproducente, afirmando que esses trabalhadores recebem salários acima do mínimo exigido no país. Pereira enfatizou que o Brasil é uma potência agrícola, ambiental e de energias limpas, e que não teria alcançado essa posição se houvesse trabalho escravo ou infantil.
Em relação ao Bolsa Família, Pereira declarou que o programa prejudica a relação entre empregadores e empregados ao reduzir a disponibilidade de mão de obra.
Em resposta, o ministro Marinho mencionou um caso de 2006, no qual apresentou evidências de trabalho escravo no Mato Grosso ao então governador Blairo Maggi, que posteriormente se desculpou por ter negado a existência dessa exploração. Marinho ressaltou que as empresas envolvidas nos casos do Rio Grande do Sul assinaram um Termo de Ajustamento de Conduta.
Antonio Neto, presidente da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), presente no evento, criticou as declarações de Pereira, afirmando que o Brasil avançou superando o negacionismo na ciência, mas que no mundo do trabalho ainda há negacionistas que insistem em negar a realidade do trabalho escravo, infantil e da precarização.
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