Juros futuros sobem e incerteza fiscal cresce com propostas de Lula

Proposta de isenção do IR para R$ 5.000 gera dúvidas no mercado e pressiona taxas de juros futuros.

Por Gilvania Alves|GNEWSUSA 

Os juros futuros registraram um aumento significativo nesta semana, refletindo as incertezas fiscais que preocupam os investidores. As taxas se aproximaram de 13% ao ano para os contratos com vencimento em 2027, 2028 e 2029. A causa principal foi a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que anunciou a intenção de aumentar a isenção do Imposto de Renda para R$ 5.000, sem apresentar uma proposta clara de como financiar essa renúncia fiscal.

Incertezas no mercado e elevação das taxas

Na última sexta-feira (11), Lula afirmou que a isenção do Imposto de Renda será elevada para R$ 5.000. Porém, a falta de detalhes sobre como essa medida será financiada fez com que o mercado reagisse de forma cautelosa. De acordo com dados registrados às 16h30 do mesmo dia, as taxas de juros futuros para janeiro de 2027 e 2028 atingiram 12,85%, e para janeiro de 2029, 12,82%.

O aumento da taxa Selic para 10,75% pelo Banco Central em setembro também contribuiu para esse cenário. “Não pode ter perda de arrecadação nem ganho de arrecadação no sentido de buscar, pela reforma do imposto de renda, resolver um problema que está sendo resolvido de outra forma”, afirmou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Economistas avaliam as falas do presidente

Para Luís Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, as declarações de Lula foram um fator decisivo para a elevação dos juros futuros. Segundo ele, “todo mundo sabia que o Lula queria que fosse até R$ 5.000 a isenção do Imposto de Renda, só que uma coisa é o mercado só precifica quando é um perigo ou notícia boa concreta.”

Leal também alertou que há um receio de que o governo “rasgue a fantasia” e abandone as regras fiscais, devido à promessa de campanha de Lula. “Talvez esses R$ 5.000 [de isenção] seja um catalisador para isso, porque são R$ 50 bilhões [de impacto fiscal]. Enquanto não tem no papel qual vai ser a medida para compensar [a medida], o mercado fica especulando”, disse.

Reações do mercado internacional e comparações

Gabriel Mollo, analista de investimentos do Banco Daycoval, destacou que o discurso de Lula pode sinalizar um aumento de gastos públicos, algo que preocupa em um momento de fragilidade fiscal. “O mercado vê esse tipo de fala como uma falta de comprometimento com a disciplina fiscal e arcabouço que o próprio governo elaborou”, comentou Mollo.

Ele comparou a situação brasileira com a dos Estados Unidos, onde a Bolsa alcança novos recordes, ressaltando que a questão é mais local do que global. “Nos Estados Unidos, a situação econômica está mais sólida, enquanto aqui enfrentamos desafios fiscais sérios”, concluiu.

Moody’s e a mudança de nota de crédito

A agência de risco Moody’s elevou a nota de crédito do Brasil de Ba2 para Ba1, mas essa mudança não foi suficiente para impedir a alta dos juros futuros. Segundo Leal, “tem muito mais dúvidas do que certezas com relação à trajetória econômica do Brasil daqui para frente”. Para ele, a Moody’s pode ter se precipitado, pois outras agências, como a S&P e a Fitch, não indicaram melhorias na classificação do Brasil.

Pressão sobre a dívida pública

O cenário de juros elevados também impacta a dívida pública, que atualmente está em 78,6% do PIB e é projetada para alcançar 80,01% até dezembro, segundo a Instituição Fiscal Independente do Senado. Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, enfatizou que será necessário um “choque fiscal” para conter a trajetória ascendente da dívida.

O mercado financeiro segue apreensivo diante da falta de clareza sobre como o governo planeja financiar suas promessas, especialmente em um contexto de necessidade de controle da inflação e manutenção do equilíbrio fiscal.

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