
Quadrilha fraudava programa do governo para financiar tráfico de drogas; R$ 39 milhões em bens foram bloqueados.
Por Ana Raquel|GNEWSUSA
A Polícia Federal (PF) deflagrou, nesta quinta-feira (13), uma operação contra uma organização criminosa suspeita de envolvimento no tráfico internacional de drogas e em um esquema fraudulento no Programa Farmácia Popular. O grupo usava farmácias cadastradas no programa para lavar dinheiro obtido com o tráfico de entorpecentes, movimentando milhões de reais de forma ilícita.
As investigações apontam que os criminosos importavam drogas da Bolívia, Colômbia e Peru e as distribuíam para traficantes que operam no entorno do Distrito Federal. Para esconder os lucros do tráfico e sustentar suas atividades ilegais, os suspeitos montaram um esquema de desvio de recursos públicos através de farmácias de fachada.
A operação ocorre no Distrito Federal e nos estados de Goiás, Paraíba, Mato Grosso, Acre e Minas Gerais. Foram expedidos seis mandados de prisão, 26 de busca e apreensão, além de 28 medidas restritivas e o bloqueio de R$ 39 milhões em bens dos envolvidos.
Como funcionava o esquema de lavagem de dinheiro?
O grupo criminoso encontrou no Programa Farmácia Popular uma maneira de movimentar grandes quantias de dinheiro sem levantar suspeitas. O programa, criado pelo Governo Federal, subsidia a compra de medicamentos essenciais por meio de farmácias privadas. Há duas modalidades de repasse: uma em que os medicamentos são fornecidos gratuitamente e outra em que o governo cobre até 90% do valor do remédio.
A quadrilha fraudava esse sistema para receber pagamentos indevidos do governo. De acordo com a PF, a fraude era organizada em cinco etapas:
1. Aquisição de farmácias fechadas – O grupo comprava farmácias que haviam encerrado suas atividades, mas ainda estavam cadastradas no Farmácia Popular.
2. Uso de laranjas para esconder os verdadeiros donos – Para não serem descobertos, os criminosos substituíam os sócios das empresas por laranjas, que emprestavam seus nomes para ocultar os reais beneficiários do esquema.
3. Regularização da documentação – Para garantir que os estabelecimentos continuassem cadastrados no programa, a quadrilha contratava despachantes especializados na regularização de documentos.
4. Falsificação de registros de venda – Com os estabelecimentos formalmente ativos, os criminosos simulavam a venda de medicamentos e registravam operações fictícias no sistema do Farmácia Popular, incluindo medicamentos distribuídos gratuitamente ou subsidiados.
5. Desvio de dinheiro público – Com os dados alterados, os criminosos conseguiam receber os repasses do governo de forma fraudulenta.
Enquanto farmácias legítimas recebiam cerca de R$ 5 mil mensais pelo programa, as controladas pela quadrilha passaram a faturar entre R$ 60 mil e R$ 90 mil por mês, indicando um aumento desproporcional nas vendas registradas.
Ligação com o tráfico internacional de drogas
A investigação revelou que o dinheiro desviado do Farmácia Popular era utilizado para financiar o tráfico de drogas, ajudando a quadrilha a expandir suas operações. A droga era importada da Bolívia, Colômbia e Peru e revendida no Brasil para traficantes com ligação a facções criminosas de alcance nacional.
Os primeiros indícios desse esquema surgiram em 2022, quando a PF prendeu dois criminosos transportando uma grande quantidade de cocaína para Luziânia (GO), cidade do entorno do Distrito Federal. A partir dessa prisão, os agentes descobriram que a droga pertencia a um grande traficante da região, que chegou a ser candidato a vereador nas eleições municipais de 2024.
Penas podem chegar a 35 anos de prisão
Os investigados poderão responder por uma série de crimes, incluindo tráfico internacional de drogas, organização criminosa, lavagem de dinheiro e fraude contra a administração pública. Somadas, as penas podem ultrapassar 35 anos de prisão.
A Polícia Federal continua investigando o caso para identificar outros envolvidos e apurar o destino final dos valores desviados. Além dos mandados cumpridos, a Justiça determinou o bloqueio de R$ 39 milhões em bens dos suspeitos, incluindo imóveis e veículos de luxo.
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