Com levedura geneticamente modificada, pesquisadores produzem hidroxiapatita — mineral presente em ossos — a partir da urina humana.
Por Tatiane Martinelli | GNEWSUSA
Um novo avanço científico promete transformar algo descartado diariamente por bilhões de pessoas em um recurso de alto valor: a urina humana. Pesquisadores desenvolveram uma técnica pioneira que converte esse resíduo em hidroxiapatita — um mineral naturalmente presente nos ossos e no esmalte dentário. A descoberta, publicada em maio na revista Nature Communications e financiada pela agência de pesquisa do Exército dos EUA (DARPA), pode gerar impactos significativos nas áreas da saúde, construção civil, meio ambiente e até arqueologia.
O diferencial do processo está no uso da Saccharomyces boulardii — uma levedura comum em frutas tropicais e conhecida por seu uso como probiótico. Após ser geneticamente modificada, ela se tornou uma “osteolevedura”, com capacidade de quebrar a ureia (principal componente da urina) e produzir hidroxiapatita em menos de 24 horas. Os cientistas estimam que um litro de urina pode gerar até um grama do mineral.
“Com isso, atingimos dois objetivos ao mesmo tempo”, explicou o professor David Kisailus, coautor do estudo e pesquisador da Universidade da Califórnia, em Irvine. “Removemos resíduos biológicos que poluem os ecossistemas aquáticos e, ao mesmo tempo, geramos um material com aplicações valiosas.”
Solução sustentável
A hidroxiapatita já é amplamente usada em implantes médicos por sua compatibilidade com o corpo humano e por estimular o crescimento ósseo. Contudo, seu método de produção tradicional é caro e gera impactos ambientais. A nova abordagem se apresenta como uma alternativa limpa, econômica e de fácil escalabilidade — uma espécie de biofábrica natural, comparável aos processos de fermentação da cerveja.
A descoberta pode inaugurar uma nova era de reaproveitamento de resíduos biológicos, tornando a ciência uma aliada ainda mais direta na sustentabilidade.
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