
Documento histórico foi encontrado por voluntária que revisava jornais do século 18 e 19 armazenados no arquivo de uma igreja.
Por Tatiane Martinelli | GNEWSUSA
Um marco perdido da luta abolicionista nos Estados Unidos acaba de ser reencontrado. Uma resolução assinada por 116 ministros batistas contra a escravidão, datada de 2 de março de 1847, foi descoberta intacta por uma voluntária em um arquivo esquecido de uma igreja em Massachusetts.
A responsável pelo achado foi Jennifer Cromack, que fazia uma revisão de jornais antigos armazenados há décadas. Entre papéis e caixas empoeiradas, ela se deparou com um rolo de aproximadamente 1,5 metro, em perfeito estado de conservação. O documento, intitulado “Uma Resolução e Protesto Contra a Escravidão”, havia sido procurado por historiadores por décadas em instituições renomadas como Harvard e Brown — sem sucesso.
A última vez que o manifesto havia sido citado foi em 1902, dentro de um livro de história. O original, porém, nunca havia sido localizado.
Um achado raro e simbólico
Diane Badger, administradora dos arquivos da Igreja Batista Americana de Massachusetts, classificou a descoberta como o “Santo Graal” dos registros batistas do período abolicionista. O texto foi assinado 14 anos antes da Guerra Civil Americana e reflete o crescente incômodo dos líderes religiosos da Nova Inglaterra diante da escravidão — sentimento que viria a dividir profundamente o país.
“Fizemos uma descoberta que tem algo a dizer ao nosso estado e à nação”, disse Cromack, emocionada com a relevância histórica do rolo. O documento, segundo ela, é uma declaração firme de compromisso com a justiça e a dignidade humana.
“Não podemos mais nos calar”
Na época, muitos norte-americanos ainda se mostravam indecisos ou indiferentes à escravidão, especialmente por considerarem a questão um problema do Sul. Os ministros signatários, no entanto, deixaram claro que não compactuavam com o sistema escravocrata. A resolução afirma: “Sob essas circunstâncias, não podemos mais nos calar”.
O texto condena a escravidão como uma violação aos direitos fundamentais e à felicidade dos seres humanos, e afirma: “Com tal sistema não podemos ter simpatia”.
Um movimento que ecoa até hoje
A reverenda Mary Day Hamel, ministra executiva das Igrejas Batistas Americanas de Massachusetts, destacou que esse documento representa o início de um movimento de resistência dentro da igreja, cujos efeitos ainda se fazem sentir. “Essa posição firme em favor da justiça ajudou a moldar o papel da igreja na história dos direitos civis”, declarou.
A declaração foi emitida dois anos após a divisão entre batistas do Norte e do Sul sobre a escravidão — que resultou na fundação da Convenção Batista do Sul, a maior denominação protestante dos EUA.
Desde a redescoberta do rolo, Diane Badger tem catalogado os nomes dos ministros e suas igrejas de origem. Entre eles estão figuras como Nathaniel Colver, pastor do histórico Tremont Temple, uma das primeiras igrejas integradas do país, e Baron Stow, militante da sociedade anti-escravidão de Massachusetts.
Preservação e legado
Agora, o documento está sendo avaliado para futura preservação e digitalização. A expectativa é que cópias sejam compartilhadas com as mais de 230 igrejas batistas americanas em Massachusetts.
Para o reverendo Kenneth Young, líder de uma igreja fundada por ex-escravizados em 1871, a descoberta tem enorme valor simbólico: “É inspirador ver como o apoio dos ministros à liberdade dos oprimidos continua sendo uma fonte de esperança na luta contra o racismo.”
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