
Facção amplia presença em ao menos 15 setores da economia formal, de combustíveis a fintechs, e aumenta riscos para a sociedade
Por Ana Raquel |GNEWSUSA
O Primeiro Comando da Capital (PCC), uma das maiores organizações criminosas do Brasil, expandiu seu controle para pelo menos 15 setores da economia formal, utilizando negócios legais para lavar recursos obtidos de atividades ilícitas, principalmente do tráfico de drogas, e para gerar lucros adicionais por meio de fraudes. Entre os ramos identificados estão postos de combustíveis, empresas de ônibus, imóveis, construção civil, fintechs, fundos de investimento, casas de câmbio, mineração, agenciamento de atletas e até organizações sociais de saúde pública e limpeza urbana.
A descoberta faz parte da megaoperação conjunta da Polícia Federal, Receita Federal e Grupos de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), realizada no final de agosto, que mapeou o vínculo da facção com setores estratégicos, incluindo a Faria Lima e o setor de combustíveis.
Consumidores já relatam prejuízos diretos: donos de postos de gasolina afirmam que foram obrigados a vender combustíveis adulterados, enquanto clientes de fintechs e bancos digitais denunciam movimentações irregulares em suas contas.
“Perdi cerca de R$ 8 mil em um investimento que pensava ser seguro. Depois descobri que a empresa tinha ligação com uma facção criminosa”, disse um investidor que preferiu não se identificar. Usuários de transporte público em São Paulo também relataram atrasos e mudanças inesperadas em linhas de ônibus geridas por empresas controladas pelo PCC.
Segundo Lincoln Gakiya, promotor de Justiça do Ministério Público de São Paulo,
“As empresas que eles estão administrando não são mais empresas de fachada como há alguma década atrás. São empresas que existem, que estão prestando serviço, às vezes até prestando um bom serviço. Mescla-se nelas o dinheiro do tráfico de entorpecentes, do tráfico internacional, com o efetivo lucro que as empresas dão por ano”.
O uso de fintechs e fundos de investimento é apontado por especialistas como um avanço na forma de organização do crime. Para o ex-secretário da Segurança Pública do Paraná e delegado da PF, Wagner Mesquita, as facções buscam cada vez mais atividades na economia formal, especialmente aquelas com menos regulamentação, maior anonimato e movimentação rápida de recursos.
“Quando menos vemos, estamos interagindo com essas empresas, muitas vezes conhecidas, que você jamais imaginaria que teve sua origem em atividades criminosas”, destaca o delegado.
O dinheiro ilícito é incorporado a essas empresas e multiplicado de forma legal, tornando-se cada vez mais lucrativo e difícil de rastrear. No setor de combustíveis, fraudes e adulterações já vinham sendo detectadas, prejudicando consumidores e postos honestos.
“Tive prejuízo na compra de combustível adulterado. Não podia imaginar que isso vinha de uma quadrilha tão estruturada”, relatou um frentista de São Paulo.
Além das operações nacionais, o MP-SP firmou acordo de cooperação técnica com a Procuradoria Nacional Antimáfia e Antiterrorismo da Itália (DNA) para compartilhar informações e capacitar agentes no combate ao crime organizado transnacional. A iniciativa permite intercâmbio direto de dados e experiências, seguindo protocolos da Convenção de Palermo, promovendo investigações conjuntas e ações coordenadas para enfrentar organizações criminosas internacionais.
A infiltração do PCC na economia legal não só amplia os lucros da organização, como cria riscos diretos para consumidores, investidores e empresas legítimas. Especialistas alertam que a combinação de crimes tradicionais com negócios legais sofisticados torna a facção cada vez mais difícil de combater e monitorar.
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