Caso Braskem: Estudo de 2022 alertava sobre riscos iminentes de Tragédia por afundamento em Maceió desde 2018

Moradora de bairro afetado em Maceió e engenheira civil Camila Acioli relatam desafios dos 60 mil habitantes afetados após alerta da Defesa Civil

Entrevista exclusiva GNEWSUSA

Por Nicole Cunha | GNEWSUSA

 

Como relatado em matéria anterior do GNEWS USA, a Braskem afirma que continua monitorando a mina 18, concentrando-se na área onde o movimento do solo persiste. A empresa assegura estar tomando todas as medidas necessárias para minimizar impactos e colaborar com as autoridades.

Leia a matéria completa aqui: Crise em Maceió: Autoridades e Justiça entram em Ação Diante do Perigo de Colapso na Mina da Braskem

Nesta sexta-feira, o GNEWS entrou em contato com a engenheira civil Camila Acioli, que também é residente de Maceió.

Como essa situação [a mineração] foi realizada por décadas e apenas exposta agora, o problema está há anos. Então, sendo imparcial, a gestão atual apenas está tomando as consequências de um problema que afeta a região há muito tempo. E precisam buscar a melhor solução para o problema envolvendo essas famílias” – afirmou Camila, autora do documento em entrevista ao GNEWS.

A Defesa Civil de Maceió esclareceu que o recente mapa de expansão não indica riscos imediatos à população. Sua principal função é aprimorar áreas para prevenção e gestão eficiente de situações emergenciais.

Conjunto de poços perfurados pela Braskem, em Maceió. / Imagem disponível em artigo do Letras Ambientais

Iniciativa da Braskem em 2018 e a negligência da responsabilidade

O estudo relata que o caso da Braskem teve início em fevereiro de 2018. No documento é relatado que fortes chuvas levaram a fissuras nos bairros de Maceió. Apesar de estudos científicos apontando a exploração de sal-gema como causa, a Braskem nega responsabilidade pelos problemas.

Caso veio à tona após 5 anos:

Em 2019, a falta de gestão levou à evacuação dos moradores afetados. Em 2020, a situação foi reconhecida como calamidade pública, resultando na desocupação de áreas de risco pela Defesa Civil.

Nenhuma indenização compensará a proporção do que eles fizeram, pessoas que viveram em suas casas por anos, hospitais e escolas tiveram que ser fechados.”, contou a profissional.

A extração de sal-gema pela Braskem provocou afundamento gradual, tremores de terra e rachaduras em edificações. Cerca de 40 mil pessoas foram colocadas em risco, resultando em evacuações e reconhecimento de calamidade pública, em 2023 esse número chega a 60 mil.

 

Indenizações aos moradores dos bairros afetados de Maceió

Camila relatou ainda que, após o Decreto de Emergência, imóveis de áreas anteriormente valorizadas perderam grande valor imobiliário, reduzindo-se a valer praticamente nada, por serem considerados inabitáveis por causa da tragédia.

Os bairros foram decretados inabitáveis, basicamente, e os imóveis que valiam uma grande quantidade acabaram sendo reduzidos a pouco[…]. As pessoas que tiveram suas vidas afetadas pela tragédia acabaram não sendo devidamente ressarcidas.“, completou.

Entrevista exclusivas:

A engenheira civil contou ao GNEWS, que desde 2018, moradores que possuíam comércios e moradia próprios nos bairros acometidos relataram que tiveram diversos prejuízos, não sendo indenizados em valores equivalentes aos bens perdidos, e também no aspecto social.

O GNEWS USA teve a oportunidade também de entrevistar uma moradora do bairro Pinheiro, a qual preferiu não se identificar, e por essa razão será chamada de Viviane no decorrer da matéria.

 

Relatos de moradores

Viviane, hoje com 45 anos, residia desde a infância no Conjunto Divaldo Suruagy, que foi demolido em Março desse ano, em um apartamento adquirido pelos pais, o qual herdou e passou a morar com o marido e os filhos.

A moradora contou à redação que ficou em choque ao descobrir os riscos da região, e que estava em casa no dia do tremor inicial, em 2018. Segundo ela, a comunidade enfrentou diversas dificuldades, e que os moradores sentiram-se, em suas palavras, ridicularizados após o evento.

Um choque! Porque estávamos em casa no dia do tremor que deu início a essa saga. Não sei se você sabe, mas isso não começou agora. O que está acontecendo agora é o que foi avisado pela CPRM faz anos.“, contou a moradora.

Rachaduras no Conjunto Divaldo Suruagy em 2018/ Imagem da web.

Alta imobiliária x pessoas sem ter onde morar

Moradores de Maceió, que fechou o ano de 2022 em alta no mercado imobiliário, viram diante dos seus olhos a desvalorização de bairros grandes, e localizados na região central da cidade. Viviane contou que especulações exacerbaram os desafios enfrentados pelos moradores que, no desespero, começaram a deixar suas casas por medo.

As pessoas começaram a esvaziar o condomínio. Não saímos imediatamente porque não conseguimos um imóvel em seguida[…]. Começaram a acontecer saques, as pessoas entravam no condomínio para roubar. Várias vezes a polícia foi acionada

Perdas financeiras e psicológicas

O processo de realocação foi caótico, com desorganização e desentendimentos, resultando na dispersão de familiares e vizinhos. De acordo com Viviane, moradores souberam das notícias por meio dos veículos de comunicação.

“[..] ninguém admitiu que era um “tremor”, nem as causas do tremor. Fomos ridicularizados e parecia que todos nós éramos loucos. Na verdade caíram os preços em todos os bairros do entorno. E em seguida uma especulação imobiliária sem precedentes! O aluguel muito mais caro e as casas absurdamente caras!”, disse ela.

Todo o processo foi traumático, sendo cercado de roubos, invasões à imóveis abandonados e insegurança. Ainda hoje existem famílias na região, e as consequências da tragédia continuam.

O bairro foi sendo evacuado e fomos impedidos de vender os imóveis, por oferecer risco. Negociamos com a Braskem os imóveis e eles pagaram os preços que entenderam ser justos. Sem considerar os danos psicológicos, emocionais…”

 

Sobre indenizações

De acordo com a entrevistada e sua família, que precisaram deixar a residência em Fevereiro de 2019, a Braskem pagou compensações financeiras, mas os valores foram questionáveis.

Segundo o relato, a Mineradora pagou valor com base no preço de compra do imóvel, quando ela ainda tinha 6 anos.

“Os registros [de indenização] são baseados no tempo em que os imóveis foram entregues, quando eu tinha 6 anos de idade. O meu foi reformado, os moradores construíram garagens. Não sei quanto valia. Eles pagaram 180 mil, acrescido de um valor que não sei o nome, 20 mil. E recebi 200 mil no total.

Esse valor precisei dividir com a minha irmã. Porque no momento em que o inventário se tornou condição, eles mesmos repassam para as pessoas. R$200 mil não seriam suficientes para comprar NADA compatível.

Foto de casa após o solo ceder em Pinheiro.

Detalhou as dificuldades enfrentadas após a mudança, incluindo o financiamento de uma nova casa que será paga em 30 anos, distante de serviços essenciais. Problemas de saúde, traumas psicológicos e medo persistem.

Efeitos na saúde mental:

A vítima do ocorrido lembra ainda que a Polícia, ao ser acionada por furtos ou outras razões, chegava em sua vizinhança com mesmo sons das sirenes de alerta da Mineradora, o que gerou muito pânico entre os que permaneceram na área.

Precisei fazer acompanhamento psicológico, que eles ofereceram, mas só eu aceitei! Fui encaminhada ao psiquiatra, por eles. Tinha pesadelos TODOS os dias e não podia ouvir barulho de sirene e helicóptero. Faço tratamento para manter meu coração batendo no ritmo, porque tive problemas cardíacos por conta do stress prolongado. Foi o sinal que disseram que dariam, caso precisássemos esvaziar o bairro. Roubaram portas, telhas, espelhos, coisas e mais coisas!”, salientou Viviane.

Destaca a responsabilidade de governantes, órgãos ambientais e a falta de fiscalização. A história se estende além do Pinheiro, afetando toda a cidade. A mineração irresponsável, segundo a vítima, impacta toda a cidade, provocando ansiedade e insegurança. Viviane aponta a necessidade de ações responsáveis e penalidades severas.

 

Compromissos e Medidas Ambientais

No documento redigido por a Acioli em 2022, a engenheira alertou que a Braskem deveria seguir uma série de compromissos ambientais, incluindo encaminhar a Licença Prévia ao Ibama, renovar a licença se necessário, apresentar projeto básico ambiental e executar medidas preventivas, compensatórias e mitigadoras.

O estudo feito em 2022 com base em análise de dados disponível destaca a perda de biodiversidade, risco de incêndios florestais, cálculos de impacto em 60 dias (inerentes a data do estudo) e a execução de ações para programas ambientais específicos. O compromisso é necessário para evitar maiores desastres futuros.

Cenário atual

Ontem (30), agentes da Defesa Civil estiveram em Pinheiro para mais uma evacuação em caráter emergencial. Estimasse que hoje o solo afetado pela mineradora afunde 5cm a cada hora, e cerca 60 mil pessoas ainda vivem nos cinco bairros com alerta emergencial.

 

Sobre Nicole Cunha 228 Artigos
Nicole Cunha é jornalista e profissional com uma década de experiência em atendimento e formação em Gestão Comercial. É responsável no GNEWSUSA por informações do meio político e atualidades, com o objetivo de trazer conhecimentos de forma dinâmica e de simples compreensão.

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