A Mauritânia, um país da África Ocidental localizado na costa atlântica, enfrenta desafios complexos que vão além de sua rica diversidade étnica. O país, que faz fronteira com o Senegal ao sul, Mali a leste, Argélia a nordeste e o Oceano Atlântico a oeste, abriga uma população composta por grupos árabes-berberes, como os Maure, e grupos negros africanos, como os Soninke, Wolof e Fulani.
Apesar da diversidade, a Mauritânia enfrenta problemas socioeconômicos, com uma economia baseada em recursos naturais como minério de ferro e petróleo, mas com altos níveis de pobreza e desigualdade social.
Um dos desafios mais preocupantes é a prática cultural conhecida como “leblouh” ou “gavage”, que força meninas a comerem excessivamente, muitas vezes contra a sua vontade, com o objetivo de engordá-las para o casamento. Essa prática, que pode ser considerada uma forma de abuso, é profundamente enraizada na sociedade mauritana, onde a obesidade feminina é vista como um sinal de beleza, riqueza e status social.
Meninas de 8 anos podem chegar a pesar 136 kg após o “leblouh”, e mulheres jovens podem chegar a pesar mais de 180 kg. Foto:Daily Mail.
A prática do “leblouh” geralmente se inicia na infância, quando meninas são forçadas a consumir grandes quantidades de comida, muitas vezes até o ponto de vomitar. De acordo com M’baye, ativista pelos direitos das mulheres e crianças na Mauritânia, “Se a menina vomitar, ela deve engolir o vômito”. Essa prática cruel visa engordar as meninas,com a crença de que a obesidade trará felicidade e status social. “Com a idade de 15 anos, ela vai parecer ter 30”, relata M’baye, descrevendo a aparência deformada que a prática causa.
Para acelerar o processo de engorda, as meninas são submetidas a métodos torturantes. Matronas utilizam cipós e varas para apertar as coxas das crianças, rompendo o tecido e causando dor intensa. Outros métodos incluem o “zayar”, duas varetas que são usadas para apertar os dedos das meninas que se recusam a comer ou beber, causando grande sofrimento.
A pratica do “leblouh” pode levar uma menina de 12 anos a atingir 80 kg, demonstrando o impacto devastador dessa prática na saúde física e mental das crianças.
Meninas são obrigadas a consumirem 16 mil calorias por dia para ficarem “atraentes” Foto: Reprodução / Daily Mail.
A dieta forçada inclui alimentos ricos em calorias, como leite de cabra, cuscuz e manteiga, em quantidades que podem chegar a 16.000 calorias por dia, mais do que quatro vezes a necessidade de um fisiculturista masculino.
Essa prática tem consequências sérias para a saúde das meninas, incluindo obesidade mórbida, diabetes, hipertensão, doenças cardíacas e problemas ósseos. Meninas de 8 anos podem chegar a pesar 136 kg após o “leblouh”, e mulheres jovens podem chegar a pesar mais de 180 kg, sobrecarregando seus corações e colocando suas vidas em risco.
Apesar dos riscos à saúde e das denúncias de organizações de direitos humanos, o “leblouh” continua a ser praticado na Mauritânia, refletindo a profunda influência de normas sociais e culturais que perpetuam a discriminação e o abuso contra as mulheres.
A prática é muitas vezes justificada pela crença de que mulheres obesas são mais atraentes para os homens e que um casamento com uma mulher gorda trará prosperidade para a família.
No entanto, a luta contra o “leblouh” tem ganhado força nos últimos anos, com organizações de direitos humanos e ativistas trabalhando para conscientizar a população sobre os perigos da prática e promover a igualdade de gênero.
O governo da Mauritânia, em colaboração com organizações de direitos humanos, tem demonstrado um compromisso crescente com a proteção dos direitos das mulheres. Isso inclui a implementação de programas de educação e saúde que visam combater o “leblouh” e outras formas de violência contra as mulheres.
Apesar dos avanços, a luta contra o “leblouh” ainda é um desafio, e a mudança cultural necessária para erradicar a prática exige um esforço contínuo de todos os setores da sociedade mauritana.
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