Ilha nos EUA: milhões de serpentes ameaçam o ecossistema

A cobra-arbórea-marrom come animais que já estão mortos — um hábito incomum para as serpentes, que na maioria das vezes só comem presas que elas mesmas mataram. 
Por Tatiane Martinelli | GNEWSUSA


Cinco anos atrás, Haldre Rogers participou de uma celebração na ilha de Guam, um pequeno paraíso verde-esmeralda no vasto Oceano Pacífico. A festa, no entanto, foi abruptamente interrompida por um visitante inesperado.

Era uma noite avançada e, ao lado da festividade, um porco assado ainda emitia calor, mesmo que o fogo estivesse quase apagado. Os convidados se dispersaram por um momento, mas ao retornarem, encontraram uma curiosa forma marrom contorcida ao redor do porco — uma criatura escamosa, com pupilas verticais e um sorriso largo. A serpente devorava a carne do porco, engolindo pedaços inteiros de forma lenta e despreocupada.

Rogers, professora da Universidade Virginia Tech e especialista em ecologia de Guam há duas décadas, descreve a cena: “Era um porco considerável, ideal para uma grande celebração.”

O intruso, porém, não era bem-vindo: uma cobra-arbórea-marrom, uma espécie invasora que supõe-se ter chegado à ilha na década de 1940, provavelmente se escondendo em um navio mercante.

Antes da chegada dessa serpente, Guam era lar de uma rica variedade de aves nativas, que viviam tranquilamente nas densas florestas de calcário da ilha. Contudo, em apenas quarenta anos após a invasão, as cobras se tornaram predadores implacáveis, levando a extinção de 10 das 12 espécies de aves locais. Agora, as últimas duas sobreviventes residem em cavernas inacessíveis e áreas urbanizadas, longe do alcance das serpentes.

Atualmente, estima-se que haja cerca de dois milhões de cobras em Guam, mas a quantidade exata é um mistério. Essas serpentes se tornaram onívoras, consumindo tudo à sua vista: ratos, musaranhos, lagartos e, como na festa de Rogers, qualquer sobra de comida deixada por humanos.

“Elas não são seletivas”, comenta Henry Pollock, diretor da Southern Plains Land Trust, uma organização sem fins lucrativos que já se dedicou ao estudo da ecologia em Guam. “Podem até se alimentar umas das outras.”

Com a proliferação dessas cobras e as florestas mergulhadas em um silêncio assustador, sem o canto dos pássaros, Guam se tornou um exemplo triste de desastre ecológico. Contudo, os efeitos dessa invasão vão além do silêncio das florestas. O que se desenrola em Guam representa um laboratório evolutivo em ação.

Muitos dos que se beneficiam dessa nova realidade possuem oito patas, vários olhos e a sorte de viver em um ambiente onde aves com bicos afiados e esfomeados se tornaram uma memória distante.

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