A operação de resgate em uma mina de ouro ilegal na África do Sul expôs um cenário trágico e gerou intensas críticas às autoridades. Até o momento, 78 corpos foram retirados da mina em Stilfontein, próxima a Joanesburgo.O resgate ocorre após meses em que a polícia teria bloqueado o acesso a alimentos e água, segundo denúncias de sindicatos.
Centenas de trabalhadores continuam presos a cerca de 2 km de profundidade, enquanto equipes de resgate buscam retirá-los, vivos ou mortos. Desde o início da operação, ordenada por um tribunal, 216 sobreviventes foram resgatados, muitos em condições críticas, e presos imediatamente por mineração e imigração ilegais.
Acusações de negligência estatal
A Federação Sul-Africana de Sindicatos criticou duramente a condução do caso, chamando a repressão de “horrível”. Em comunicado, o sindicato afirmou:
“Esses mineiros, muitos deles trabalhadores indocumentados e desesperados de Moçambique e outros países da África Austral, foram abandonados para morrer em uma das mais horríveis demonstrações de negligência deliberada do Estado na história recente.”
Trabalhadores resgatados de mina ilegal na África do Sul. Foto: Christian Velcich
Mametlwe Sebei, líder sindical que auxiliava os mineiros, relatou que a polícia teria iniciado ações para forçá-los a sair ainda em agosto, retirando polias usadas para transporte de suprimentos. “Alguns morreram rastejando por túneis inundados enquanto tentavam alcançar poços para sair”, disse Sebei.
Em resposta, a porta-voz da polícia, Athlenda Mathe, negou as acusações de bloqueio e declarou:
“Nosso mandato era combater a criminalidade, e é exatamente isso que temos feito. Ao fornecer comida, água e necessidades básicas a esses mineradores ilegais, a polícia estaria entretendo e permitindo que a criminalidade prosperasse.”
Impacto econômico e social
A mineração ilegal é uma prática comum na África do Sul, especialmente em minas abandonadas. Conhecidos como zama zamas, esses mineradores geralmente arriscam a vida em busca de ouro restante. Stilfontein, em particular, atraiu trabalhadores majoritariamente de Moçambique, Zimbábue e Lesoto, com apenas 21 sul-africanos entre os resgatados.
O Ministro de Mineração, Gwede Mantashe, defendeu a repressão como parte de uma estratégia para conter a mineração ilegal, que causou prejuízos de mais de US$ 3 bilhões no último ano. “É uma atividade criminosa. É um ataque à nossa economia por estrangeiros, principalmente”,afirmou o ministro no local.
Por outro lado, a Aliança Democrática, principal partido de oposição, pediu uma investigação independente, alegando que a operação “saiu do controle”.
Resgate angustiante
A operação de resgate, que já dura três dias, utiliza uma gaiola metálica capaz de transportar cerca de 12 pessoas ou cadáveres por vez. Cada viagem leva aproximadamente 45 minutos, segundo Mannas Fourie, CEO de uma empresa privada de resgate envolvida na missão.
Jessica Lawrence, do grupo Lawyers for Human Rights, descreveu a cena:
“Se você ficar nas laterais, poderá ver os corpos sendo retirados da jaula, e é incrivelmente angustiante.”
Homem recebe cuidados médicos após ser resgatado de mina ilegal na África do Sul. Foto:Ihsaan Haffejee.
Com apenas dois corpos identificados e devolvidos às famílias, o resgate continua em ritmo intenso. No entanto, as críticas à resposta estatal e as histórias de desespero nos túneis subterrâneos ressaltam as complexas questões sociais e econômicas que permeiam o caso.
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