Com baixa participação e clima de medo, governo Maduro tenta legitimar poder enquanto renova ameaça territorial ao país vizinho.
Por Gilvania Alves|GNEWSUSA
Com seções eleitorais vazias e sob forte vigilância militar, a Venezuela realizou no último domingo (25), uma votação regional amplamente rejeitada pela oposição e pela população. O processo, destinado à escolha de governadores e deputados estaduais, aconteceu em um ambiente de repressão, descrédito e tensões diplomáticas.
A convocação para o pleito não encontrou respaldo popular. Segundo dados do instituto Delphos, apenas 16% dos eleitores compareceram às urnas, evidenciando a desconfiança generalizada. O boicote foi incentivado pela líder opositora María Corina Machado, que criticou a legitimidade do processo. “Propaganda chavista”, afirmou.
Durante a jornada, o cenário nas ruas de cidades como Caracas, Maracaibo e San Cristóbal era de desmobilização. A apatia tomou conta dos centros de votação, onde o fluxo de eleitores foi praticamente inexistente, mesmo nos horários de maior movimento.
Em paralelo à tentativa de projetar estabilidade interna, Nicolás Maduro utilizou a data para reforçar um discurso hostil em relação à Guiana. Em declaração transmitida após votar, disse que o país vizinho precisará “aceitar a soberania da Venezuela” sobre o território de Essequibo, uma região disputada e estratégica por suas reservas de petróleo.
A fala teve repercussão imediata. O presidente da Guiana, Irfaan Ali, respondeu com dureza, classificando a movimentação do governo venezuelano como “uma ameaça” e “parte da propaganda chavista”.
Embora o regime já detenha amplo controle sobre o Legislativo e a maioria dos governos estaduais, novas estruturas simbólicas foram criadas. Mesmo sem jurisdição efetiva sobre a área em disputa, o governo venezuelano instituiu um Estado fictício em Essequibo e promoveu eleições para cargos regionais, numa tentativa de reforçar sua narrativa de soberania.
Além do boicote eleitoral, o período pré-votação foi marcado por um endurecimento da repressão. Cerca de 70 opositores foram presos nos dias anteriores, sob acusações de envolvimento em um suposto complô terrorista. Entre os detidos está Juan Pablo Guanipa, figura próxima a María Corina Machado.
A mobilização militar também foi intensa. Segundo o Ministério da Defesa, mais de 400 mil integrantes das forças de segurança foram destacados para atuar durante o processo. Apesar disso, o ministro Vladimir Padrino declarou que “nenhum incidente relevante” havia ocorrido.
Parte da oposição optou por seguir outro caminho. Um grupo dissidente, liderado por Henrique Capriles, decidiu participar da eleição como forma de ocupar espaços institucionais. A decisão, porém, contrasta com o sentimento predominante entre os que veem o processo como manipulado e ineficaz diante do aparato autoritário em curso.
A eleição do último domingo expôs, mais uma vez, a desconexão entre o regime e a realidade da população venezuelana, cuja resposta veio em forma de silêncio — e ausência.
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