Assembleia geral da ONU prepara 4ª cúpula sobre saúde mental e doenças crônicas

Evento previsto para setembro reunirá líderes mundiais em torno da prevenção, tratamento e financiamento de enfermidades crônicas e transtornos mentais; médica Magda Robalo defende mais investimento e combate ao estigma.

Por Paloma de Sá | GNEWSUSA

A Organização das Nações Unidas prepara o Quarto Encontro de Alto Nível sobre Prevenção e Controle de Doenças Crônicas, com atenção especial à promoção da saúde mental e do bem-estar. A cúpula está marcada para o dia 25 de setembro, durante a Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque.

Como parte dos preparativos, o presidente da Assembleia Geral, Philémon Yang, promoveu um debate interativo com representantes dos Estados-membros, especialistas e organizações da sociedade civil no início deste mês. O encontro teve como objetivo colher propostas e recomendações que servirão de base para a Declaração Política que será apresentada durante a reunião de alto nível.

Doenças que matam silenciosamente

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças crônicas são responsáveis por cerca de 43 milhões de mortes todos os anos — o que representa mais de 70% de todos os óbitos globais. Já os transtornos mentais afetam atualmente cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo, com destaque para os altos índices de depressão, ansiedade e suicídio, especialmente entre adolescentes.

A médica e ex-ministra da Saúde da Guiné-Bissau, Magda Robalo, participou como painelista do debate na ONU. Diretora-executiva da organização Mulheres na Saúde, Robalo é uma das principais vozes em defesa de políticas públicas mais humanizadas e preventivas.

“O tratamento das doenças mentais ainda é muito centrado em instituições hospitalares, quando o ideal seria fortalecer o apoio nas famílias, nas comunidades e investir mais em prevenção. Infelizmente, ainda enfrentamos muito estigma. Muitos não aceitam que estão deprimidos ou com algum transtorno, o que dificulta a busca por ajuda”, afirmou Robalo em entrevista à ONU News.

Desigualdades no acesso e falta de investimento

A médica também chamou atenção para os desafios enfrentados por mulheres africanas com câncer de mama. Segundo ela, apenas uma em cada cinco pacientes diagnosticadas sobrevive por mais de cinco anos, taxa muito inferior à observada em países desenvolvidos. Um dos principais entraves é o acesso limitado a serviços de diagnóstico, tratamento e vacinação — como a vacina contra o HPV, que ajuda a prevenir o câncer de colo do útero.

Para Magda Robalo, o problema não é apenas de infraestrutura, mas de prioridade política:
“De modo geral, as doenças não transmissíveis e os transtornos mentais recebem muito pouco financiamento. A maioria dos recursos ainda se concentra em doenças infecciosas como HIV, tuberculose e malária. Embora sejam, sim, importantes, os dados mostram que haverá aumento significativo nos casos de doenças crônicas como diabetes, hipertensão, câncer e deficiências diversas.”

Um compromisso global renovado

As três edições anteriores do Encontro de Alto Nível — realizadas em 2011, 2014 e 2018 — estabeleceram metas claras: reduzir em um terço as mortes prematuras por doenças crônicas até 2030 e promover a saúde mental como um direito essencial. A nova cúpula buscará reforçar esses compromissos diante dos novos desafios e dados alarmantes apresentados por especialistas.

O presidente da Assembleia Geral da ONU, Philémon Yang, destacou que as contribuições do debate atual serão fundamentais para orientar o documento político que guiará as ações dos países nos próximos anos.

A expectativa é que o encontro de setembro, que ocorre paralelamente à reunião anual com chefes de Estado e governo, represente um marco no reconhecimento global da importância da saúde mental e da prevenção de doenças não transmissíveis — temas muitas vezes negligenciados nas políticas de saúde pública.