Estudo revela: para cada R$ 1 de lucro da indústria do tabaco, Brasil gasta 5 vezes mais com doenças causadas pelo fumo

Campanha “Sem Cigarro, Mais Vida” é lançada pelo Ministério da Saúde em alusão ao Dia Mundial Sem Tabaco.
Por Paloma de Sá | GNEWSUSA

Os lucros obtidos pela indústria do tabaco no Brasil contrastam fortemente com os custos gerados ao sistema de saúde pública. Um novo levantamento divulgado nesta quarta-feira (28) pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca) aponta que, para cada real arrecadado pelo setor, o país desembolsa cinco vezes mais com o tratamento de doenças diretamente relacionadas ao tabagismo.

O dado integra o estudo “A Conta que a Indústria do Tabaco Não Conta”, apresentado durante evento promovido pelo Ministério da Saúde na sede da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), em Brasília. A atividade marca as ações nacionais alusivas ao Dia Mundial Sem Tabaco, celebrado oficialmente em 31 de maio.

Durante a cerimônia, foi lançada a campanha nacional “Sem Cigarro, Mais Vida”, com foco em alertar a população — especialmente os jovens — sobre os perigos do tabagismo, em especial os associados aos cigarros eletrônicos e outros produtos com aditivos atrativos.

“O cigarro segue sendo um dos maiores desafios de saúde pública do nosso tempo. Ele adoece, mata, sobrecarrega o SUS e gera prejuízos econômicos significativos”, afirmou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha. “A luta contra o tabaco é uma responsabilidade de todos — governo, sociedade e setor produtivo.”

Prejuízo multiplicado: R$ 1 de lucro, R$ 5 em gastos públicos

Segundo a pesquisa, em 2019, a cada R$ 156 mil de lucro das fabricantes de cigarros no Brasil, estimava-se uma morte causada por doenças como infarto, AVC, câncer de pulmão ou DPOC atribuíveis ao tabagismo. Em valores médios, o custo direto de cada uma dessas mortes ao sistema de saúde foi calculado em R$ 361 mil, enquanto o custo total (direto e indireto) alcançou R$ 796 mil.

Isso significa que, para cada R$ 1 arrecadado pela indústria, o Brasil gasta R$ 2,30 apenas em despesas médicas. Quando somados os custos indiretos, como perda de produtividade e mortes precoces, o impacto total sobe para R$ 5,10.

“O lucro da indústria serve, muitas vezes, para atrair novos consumidores — principalmente jovens — enquanto o Estado arca com os custos do adoecimento e da morte”, alerta André Szklo, epidemiologista do Inca e coautor do estudo.

Gasto bilionário com doenças evitáveis

Dados complementares do Inca revelam que o Brasil gasta anualmente R$ 153,5 bilhões com os impactos do tabagismo. Esse valor equivale a 1,55% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Desse total, R$ 67,2 bilhões correspondem a custos diretos com tratamentos médicos, enquanto os R$ 86,3 bilhões restantes se referem a perdas econômicas decorrentes de mortes precoces, incapacitações e assistência informal.

A arrecadação federal com impostos sobre produtos de tabaco, por sua vez, ficou em R$ 8 bilhões em 2022 — valor que cobre apenas 5,2% do total do prejuízo estimado.

SUS amplia ações para combater o tabagismo

Com políticas públicas cada vez mais consolidadas, o Sistema Único de Saúde (SUS) tem ampliado significativamente o acesso ao tratamento do tabagismo. Dados do Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica (Sisab) apontam que, entre 2022 e 2024, o número de atendimentos em terapias cognitivo-comportamentais quase dobrou, saltando de 42,3 mil para 83 mil (+96,4%).

Outros avanços incluem:

  • Atividades coletivas: de 124 mil para 266 mil participantes (+114%);

  • Visitas domiciliares: de 1,28 milhão para 2,25 milhões (+75%);

  • Consultas clínicas: de 13,6 milhões para 14,4 milhões (+5,6%).

Tabagismo ainda mata 477 brasileiros por dia

Apesar dos avanços, o cigarro continua sendo responsável por uma tragédia silenciosa. Segundo o Inca, 477 brasileiros morrem diariamente por doenças ligadas ao tabagismo — totalizando cerca de 174 mil mortes evitáveis ao ano. Os principais fatores associados são DPOC, doenças cardíacas, câncer, AVC, diabetes tipo 2 e o fumo passivo, que por si só é responsável por cerca de 20 mil óbitos anuais.

Cigarros eletrônicos em foco

Os dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs), proibidos no Brasil desde 2009, tornaram-se o novo alvo da indústria do tabaco e da campanha do Ministério da Saúde em 2025. Estratégias de marketing, design atrativo e apelo tecnológico têm contribuído para o aumento do uso entre os jovens.

A Pesquisa Vigitel 2023 mostrou que 2,1% da população adulta já experimentou cigarros eletrônicos. A maior incidência está entre jovens de 18 a 24 anos, com 6,1% relatando uso.

Em resposta, a Anvisa publicou em 2024 a Resolução RDC nº 855, reforçando a proibição de venda, propaganda e importação desses produtos, considerados porta de entrada para a dependência da nicotina.

“A indústria se reinventa para formar novos dependentes. Nosso papel é proteger as novas gerações com medidas firmes”, declarou o diretor-geral do Inca, Roberto Gil.

Tratamento gratuito disponível no SUS

Atualmente, cerca de 9,3% da população brasileira declara ser fumante, segundo o Vigitel 2023. Para ajudar essas pessoas a abandonar o vício, o SUS oferece tratamento gratuito em todo o país, com suporte clínico, psicológico e medicamentos como adesivos de nicotina, goma de mascar e bupropiona.

Para acessar o serviço, basta procurar uma Unidade Básica de Saúde (UBS) ou entrar em contato com a secretaria municipal ou estadual de saúde.

Brasil segue como referência global

Reconhecido internacionalmente por sua atuação firme no controle do tabaco, o Brasil foi homenageado recentemente durante a 78ª Assembleia Mundial da Saúde (AMS/OMS), realizada em Genebra. O destaque foi a política de impostos saudáveis, agora incorporada à Reforma Tributária, que visa aumentar a taxação sobre produtos prejudiciais à saúde.

“A elevação de impostos sobre o cigarro é uma medida comprovadamente eficaz para reduzir o consumo, principalmente entre os jovens. E não há qualquer correlação direta entre aumento de tributos e o avanço do contrabando”, enfatizou Padilha.

Desde os anos 1980, o Brasil desenvolve políticas de combate ao tabagismo que incluem a proibição de publicidade, ambientes livres de fumaça e campanhas educativas, coordenadas pelo Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT), sob responsabilidade do Inca.

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