
Estudo publicado na revista Vaccines revela que três candidatas vacinais, produzidas em escala industrial, induzem defesa do sistema imune contra cepas de alto risco, como o H5N1 e H5N8, reforçando a preparação do país para possíveis pandemias.
Por Paloma de Sá | GNEWSUSA
Pesquisadores do Instituto Butantan, em parceria com a USP e a Unicamp, deram um passo significativo na preparação contra futuras pandemias de gripe aviária. Três candidatas a vacina desenvolvidas no Centro Bioindustrial do Butantan demonstraram forte capacidade de induzir resposta imune em modelos animais quando combinadas com adjuvante e aplicadas em duas doses. Os resultados foram publicados no início de junho na revista científica Vaccines.
As vacinas foram produzidas com diferentes cepas do vírus influenza A:
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H5N1/duck/Vietnam (clado 2.3.2.1c): associada a casos fatais em humanos na Ásia;
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H5N8/Astrakhan (clado 2.3.4.4b): presente em surtos recentes no Brasil e com distribuição quase global;
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H5N1/Anhui: linhagem intermediária entre cepas já circulantes e variantes para as quais existem vacinas emergenciais.
O estudo mostrou que a formulação com o vírus H5N8/Astrakhan foi a mais promissora contra a cepa H5N1 do clado 2.3.4.4b, que vem causando surtos em aves no mundo e foi identificada recentemente em granjas do Rio Grande do Sul. Esse desempenho se deve à semelhança na proteína hemaglutinina (H5) entre as duas cepas.
Além de desenvolver o antígeno, o Butantan também criou o adjuvante IB160, que potencializou a eficácia da vacina. Segundo o pesquisador Paulo Lee Ho, autor principal do trabalho, a combinação mostrou-se essencial para obter uma imunidade robusta.
Com experiência na produção da vacina contra a gripe sazonal, o Butantan possui infraestrutura para fabricar a nova vacina em larga escala, caso seja necessária em situação de emergência. A proposta para iniciar estudos clínicos já foi submetida à Anvisa.
O vírus H5N1 do clado 2.3.4.4b, em circulação global desde 2020, já afetou milhões de aves e mamíferos, com registros ocasionais em humanos, mas ainda sem transmissão sustentada entre pessoas. Mesmo assim, os especialistas alertam que o risco de mutação exige preparação antecipada.
Para Paulo Lee Ho, a capacidade de produzir tanto o antígeno quanto o adjuvante no Brasil garante autonomia estratégica:
“Em caso de pandemia, o país terá condições de responder rapidamente, sem depender de importação de insumos críticos.”
As candidatas vacinais do Butantan já estão listadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como parte dos esforços internacionais para conter potenciais pandemias de influenza. O estudo seguiu rigorosos protocolos de qualidade e ética, contando com insumos obtidos por parcerias com o CDC dos Estados Unidos e o NIBSC do Reino Unido.
Com essa iniciativa, o Brasil reforça seu papel na rede global de vigilância e resposta a ameaças virais, aumentando a capacidade de reação não apenas para o território nacional, mas também para toda a América do Sul.
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