
Novo relatório das Nações Unidas propõe reformas urgentes para conter a poluição por plástico, cuja produção e descarte já comprometem a saúde humana, a segurança alimentar e os ecossistemas.
Por Paloma de Sá | GNEWSUSA
A poluição plástica atingiu níveis alarmantes em 2023, movimentando mais de US$ 1,1 trilhão no comércio global, sendo três quartos desse total constituídos por resíduos, segundo relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad). O documento, divulgado às vésperas das negociações em Genebra para um futuro tratado internacional sobre o tema, aponta riscos diretos à saúde das populações, sobretudo em países em desenvolvimento e regiões costeiras.
Plástico, saúde e crise planetária
A ONU alerta que o excesso de resíduos plásticos representa uma ameaça crescente à saúde pública, impactando desde a qualidade da água potável até a segurança alimentar. A exposição humana a microplásticos, aditivos químicos e resíduos tóxicos tem sido associada a diversos problemas de saúde, incluindo distúrbios hormonais, inflamações e doenças respiratórias.
Além disso, o relatório liga a poluição plástica à chamada tripla crise planetária: mudanças climáticas, perda de biodiversidade e poluição ambiental. A produção de plástico em 2023 chegou a 436 milhões de toneladas, sendo que 98% desse material tem origem em combustíveis fósseis, o que amplia as emissões de gases de efeito estufa e compromete os compromissos ambientais globais.
Tratamento desigual e barreiras ao progresso
Enquanto produtos plásticos derivados de petróleo são beneficiados por tarifas mais baixas no comércio internacional (média de 7,2%), suas alternativas sustentáveis – como bambu, papel, algas e fibras naturais – enfrentam tarifas médias de 14,4%, criando uma barreira injusta ao desenvolvimento de soluções menos nocivas à saúde e ao meio ambiente.
Essa desigualdade tarifária prejudica especialmente os países em desenvolvimento, que encontram dificuldades para competir no mercado global com produtos ecológicos. A Unctad destaca que a falta de incentivos e de padronização internacional também impede avanços na inovação e na produção de alternativas mais seguras para a saúde humana e ambiental.
Propostas para mudança estrutural
O relatório sugere reformas tarifárias, uso de tecnologias digitais para rastreamento de resíduos, e fortalecimento da economia circular como medidas urgentes para frear a crise do plástico. Também propõe alinhamento entre as normas comerciais e ambientais já existentes, como as da Organização Mundial do Comércio (OMC), a Convenção de Basileia e o Acordo de Paris.
Outro ponto crítico destacado é a ausência de um tratado internacional abrangente que regule a composição, produção e descarte dos plásticos. Os acordos existentes são fragmentados e ineficazes diante da escala atual do problema, iniciado na década de 1980 e agravado nas últimas décadas.
Caminhos para um futuro mais saudável
Apesar das dificuldades, o comércio global de alternativas ao plástico cresceu 5,6% em 2023, totalizando US$ 485 bilhões. Esse dado, segundo a Unctad, demonstra um caminho possível para economias mais verdes e menos tóxicas, desde que haja vontade política, cooperação internacional e investimentos em saúde e sustentabilidade.
A ONU conclui que, sem ação coordenada, os danos causados pela poluição plástica continuarão a comprometer a saúde humana e a agravar desigualdades, sobretudo entre populações vulneráveis. As próximas semanas serão decisivas para definir os rumos de um possível tratado global capaz de reverter esse cenário.
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