Com acordos internacionais, instituto amplia parque fabril e inicia transferência de tecnologia para produzir vacinas de RNA mensageiro e imunizantes contra o vírus sincicial respiratório, além de medicamentos biotecnológicos para doenças graves
Por Paloma de Sá| GNEWSUSA
O Instituto Butantan deu mais um passo histórico em direção à inovação na saúde pública brasileira. O governo federal aprovou quatro Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs) que permitirão ao instituto produzir medicamentos avançados contra o câncer e a esclerose múltipla, além de novas vacinas de RNA mensageiro e contra o vírus sincicial respiratório (VSR) — um dos principais causadores de infecções respiratórias graves em crianças.
Os acordos, firmados com as farmacêuticas MSD, Sandoz, Pfizer e Moderna, preveem a transferência completa de tecnologia e a produção local dos imunobiológicos no parque industrial do Butantan, em São Paulo. Todo o material produzido será destinado ao Sistema Único de Saúde (SUS), o que promete ampliar o acesso da população brasileira a terapias e vacinas de ponta.
Tecnologia nacional e acesso ampliado
O programa de Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo busca incorporar novas tecnologias ao parque fabril nacional, reduzindo a dependência de importações e fortalecendo a soberania sanitária do Brasil.
Entre os medicamentos contemplados estão o pembrolizumabe, utilizado no tratamento de diferentes tipos de câncer, e o natalizumabe, indicado para casos de esclerose múltipla. Ambos são anticorpos monoclonais, terapias altamente específicas produzidas em laboratório que reconhecem e combatem células doentes com precisão.
Segundo o diretor de Parcerias Estratégicas e Novos Negócios do Butantan, Tiago Rocca, parte da infraestrutura necessária já está disponível no instituto, mas haverá ampliação da fábrica de Produção de Anticorpos Monoclonais (PAM).
“Trata-se de uma transferência completa de tecnologia. Já temos linhas de formulação, envase e controle de qualidade, mas será preciso expandir a capacidade produtiva de Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) para atender aos novos projetos”, explicou Rocca.
Vacinas inovadoras: VSR e mRNA
A parceria com a Pfizer viabilizará a produção nacional da vacina contra o vírus sincicial respiratório (VSR), responsável por grande parte dos casos de bronquiolite e pneumonia em bebês.
Estudos clínicos internacionais mostram que o imunizante apresentou 81,8% de eficácia em recém-nascidos nos primeiros três meses de vida, quando aplicado em gestantes durante a gravidez.
De acordo com o Boletim InfoGripe, até outubro de 2025 o VSR foi responsável por mais de 42% dos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) registrados no país.
Já o acordo com a Moderna garantirá a transferência da tecnologia de RNA mensageiro (mRNA), utilizada nas vacinas mais modernas contra a Covid-19. Essa parceria permitirá ao Butantan dominar uma das plataformas mais avançadas da biotecnologia mundial, abrindo caminho para o desenvolvimento de novos imunizantes e terapias genéticas.
“Ter o domínio da tecnologia de mRNA é estratégico. Com ela, poderemos criar vacinas atualizadas contra cepas do coronavírus e até desenvolver produtos voltados para outras doenças virais e autoimunes”, destacou Rocca.
O instituto já possui estrutura para formulação e envase e planeja construir o Centro de Processamento de Recombinantes (CPR), dentro do Centro Multipropósito de Vacinas (CPMV), dedicado ao desenvolvimento desses novos imunobiológicos.
Medicamentos de alto impacto para o SUS
O pembrolizumabe, fruto da parceria com a MSD, é indicado para o tratamento de melanoma, câncer de pulmão e câncer de mama triplo negativo, entre outros tipos. Essa será a primeira vez que uma indústria brasileira produzirá o medicamento localmente, o que reduzirá custos e ampliará o acesso dos pacientes do SUS a terapias de alto valor.
“A produção nacional vai tornar o tratamento mais acessível. Como o pembrolizumabe é indicado para diversos tipos de câncer, conseguimos ganho de escala e maior eficiência produtiva”, afirmou o diretor do Butantan.
A parceria com a Sandoz prevê a produção do natalizumabe, medicamento utilizado no tratamento da esclerose múltipla, doença autoimune que afeta o sistema nervoso central. O acordo é o segundo firmado entre o Butantan e a empresa suíça — o primeiro foi para o desenvolvimento do adalimumabe, usado contra artrite reumatoide e outras doenças inflamatórias.
Inovação e soberania sanitária
Com as novas PDPs, o Butantan se consolida como referência em biotecnologia e inovação na América Latina, reforçando sua missão de garantir acesso universal a medicamentos e vacinas de qualidade.
Atualmente, o instituto já mantém parcerias produtivas para vacinas de HPV, hepatite A e dTpa (tríplice bacteriana acelular) e desenvolve novos imunizantes contra dengue, gripe aviária, influenza para idosos e raiva.
O avanço das novas parcerias com MSD, Pfizer, Moderna e Sandoz coloca o Brasil entre os poucos países capazes de produzir localmente terapias biotecnológicas e vacinas de RNA mensageiro, fortalecendo o SUS e reduzindo a dependência de insumos estrangeiros.
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