
Operação R1 revelou um esquema que manipulava o ENAMED, colocando em risco pacientes, hospitais e a formação de novos médicos
Por Ana Raquel | GNEWSUSA
A Polícia Federal prendeu oito pessoas neste domingo, 19 de outubro de 2025, durante a Operação R1, deflagrada em Juiz de Fora (MG), em ação conjunta com o INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) e a FGV (Fundação Getúlio Vargas).
A operação teve como objetivo desmantelar um sofisticado esquema de fraude em concursos de residência médica no país, com foco no ENAMED (Exame Nacional de Avaliação da Formação Médica) — prova usada para ingresso em programas de residência em todo o território nacional.
De acordo com a investigação, o grupo criminoso planejava manipular o resultado do exame por meio de transmissão de respostas via ponto eletrônico e uso de ‘laranjas’ — pessoas contratadas para fazer a prova no lugar dos verdadeiros candidatos. Cada aprovação fraudada custaria até R$ 140 mil, segundo a PF.
Origem e nome da operação
O nome “R1” faz referência ao primeiro ano da residência médica, etapa em que o profissional inicia a prática supervisionada e adquire habilidades essenciais, como o manejo de pacientes, diagnósticos clínicos e atendimento de emergências.
A escolha simboliza, segundo a PF, a importância de proteger o processo seletivo que define os futuros médicos especialistas do país.
Como o esquema funcionava
As apurações indicam que o grupo operava em duas modalidades de fraude:
1. Transmissão eletrônica das respostas:
Candidatos recebiam as respostas corretas por meio de pontos eletrônicos e microtransmissores escondidos na roupa.
Um grupo localizado em um hotel em Juiz de Fora era responsável por enviar os dados em tempo real, com base em um gabarito obtido de forma ilícita.
2. Uso de ‘laranjas’ e documentos falsos:
Outras fraudes eram realizadas com pessoas contratadas para substituir os candidatos durante a prova.
Esses indivíduos usavam documentos falsificados e também recebiam instruções via comunicação eletrônica.
A PF identificou que cada aprovação custava cerca de R$ 140 mil, valor pago apenas após a confirmação do resultado final. Parte do dinheiro era destinada à equipe técnica que operava o sistema de transmissão, e outra parte aos intermediários que recrutavam candidatos dispostos a fraudar o exame.
A ação policial
A Operação R1 mobilizou 24 agentes federais em ações simultâneas em Juiz de Fora e no Rio de Janeiro.
No hotel usado como base do grupo, três homens foram presos em flagrante, junto de equipamentos eletrônicos de alta tecnologia, usados para transmissão de dados.
Durante a aplicação da prova, cinco pessoas foram presas dentro das salas de exame — quatro homens e uma mulher.
Um dos candidatos investigados foi alvo de mandado de busca e apreensão em sua residência no Rio de Janeiro, também neste domingo.
Após as prisões, todos os suspeitos foram levados à Delegacia da Polícia Federal em Juiz de Fora, onde prestaram depoimento.
Eles passaram por exames de corpo de delito e foram encaminhados ao sistema prisional, onde permanecem à disposição da Justiça Federal.
Apreensões e perícia
Entre os materiais apreendidos estão microtransmissores, receptores de áudio, fones internos, cabos de comunicação e celulares.
Os equipamentos serão submetidos a perícia técnica para verificar a frequência utilizada, a origem dos sinais e a relação com os candidatos suspeitos.
A PF informou que o material apreendido pode ajudar a identificar outros participantes do esquema, incluindo candidatos que receberam as respostas e pessoas responsáveis pela elaboração técnica do sistema.
Crimes investigados
De acordo com nota divulgada pela corporação, os suspeitos poderão responder por:
• Fraude em certames de interesse público (art. 311-A do Código Penal);
• Organização criminosa (Lei nº 12.850/2013);
• Falsidade ideológica (art. 299 do Código Penal).
As penas somadas podem ultrapassar 20 anos de reclusão, caso todos os crimes sejam comprovados.
A investigação segue sob sigilo judicial, e novas diligências poderão ocorrer nas próximas semanas.
Importância do ENAMED e impacto da fraude
O ENAMED é aplicado nacionalmente e serve como instrumento de avaliação da formação médica, sendo requisito em muitos programas de residência.
A tentativa de fraude, segundo a PF, colocava em risco a credibilidade do processo seletivo e poderia permitir o ingresso de pessoas sem a qualificação necessária em hospitais e instituições de ensino.
A integridade do exame é vista como essencial para garantir a qualidade da assistência médica no país.
Por isso, a operação foi considerada estratégica e preventiva, impedindo que os resultados fossem comprometidos.
Posicionamento das instituições
Em comunicado oficial, o INEP e a FGV ressaltaram que vêm adotando medidas rigorosas de segurança, como checagem biométrica, monitoramento por câmeras e fiscalização presencial, para coibir fraudes em exames nacionais.
A Polícia Federal destacou que a Operação R1 integra um esforço contínuo de combate a crimes contra a administração pública e defesa da meritocracia em processos seletivos.
Próximos passos da investigação
As autoridades continuam analisando os dispositivos eletrônicos apreendidos e as movimentações financeiras dos investigados.
Os depoimentos colhidos até o momento indicam que o esquema pode ter ramificações em outros estados e ligação com grupos que atuaram em fraudes anteriores em vestibulares e concursos públicos.
O caso será encaminhado ao Ministério Público Federal (MPF), que poderá oferecer denúncia formal após o fim da análise pericial.
Os nomes dos suspeitos não foram divulgados, em respeito à Lei de Abuso de Autoridade e ao princípio da presunção de inocência.
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