Um desmoronamento no bairro Piratini, uma área nobre próxima ao centro de Gramado (RS), gerou grandes preocupações tanto para os moradores quanto para a economia local. Após a rua Henrique Bertoluci ceder na noite de domingo (12), a Defesa Civil recomendou o isolamento total da área devido ao risco de novos deslizamentos causados pelas chuvas intensas. Como resultado, 99,9% dos moradores evacuaram a área.
A situação se agravou quando a movimentação de terra afetou casas na rua Guilherme Dal Ri, situada metros abaixo da Henrique Bertoluci. Tapumes foram colocados para impedir o acesso de pessoas e veículos, mas Paulo César da Silva, um pedreiro de 52 anos, decidiu permanecer.
“A minha filha nasceu e se criou aqui. Então, tem muita história, né?”, comentou Paulo César da Silva, que mora na rua afetada. Ele atribui o desmoronamento a um projeto mal executado do asfalto da Henrique Bertoluci: “Cedeu o asfalto e empurrou a terra aqui. Porque aqui tava firme, só que, como cedeu lá, deu pressão e empurrou essa terra pra baixo”.
O pedreiro relembra o momento do desastre: “Estava próximo de casa quando ouvi um grande estrondo e senti uma trepidação no solo por volta das 20h30 de domingo. Mas estava muito escuro. No outro dia de manhã, vimos que era a casa da vizinha que tinha desabado”.
A área afetada apresenta casas claramente comprometidas, algumas se escorando umas nas outras, outras destroçadas e rachadas. Postes e fiações também foram derrubados.
“Depois que tirarem com a máquina essas casas aqui, vai dar pra morar tranquilo. Porque aqui tu pode ver que não é tão íngreme”, comentou Silva, esperançoso.
A imagem revela o estado devastador da casa do Sr. Paulo César da Silva, em Gramado (RS), após ser atingida pela enchente. Foto: Marcelo Ferraz.
Mais de 1,6 mil pessoas estão desalojadas e desabrigadas em Gramado. Enquanto os residentes das ruas Henrique Bertoluci e Guilherme Dal Ri, em uma região rica próxima ao centro, foram acolhidos por familiares e amigos, os abrigos municipais receberam pessoas de bairros mais afastados, como Várzea Grande e Três Pinheiros, que não tinham familiares disponíveis para ajudá-los.
A situação nos abrigos é desafiadora, com homens, mulheres, crianças e idosos compartilhando espaços com desconhecidos e aguardando ansiosamente a possibilidade de retorno às suas casas.
A crise também afeta o turismo, um dos pilares econômicos de Gramado. Cancelamentos de viagens e hospedagens entre maio e junho são frequentes. O aeroporto de Porto Alegre, principal ponto de chegada dos turistas, está desativado devido à enchente. Além disso, trechos das rodovias BR-116 e ERS-115 estão intransitáveis. Entre os dias 17 e 18 de maio, a cidade, que costuma registrar grande movimento em dias frios, esteve vazia.
A economia local já sente os efeitos. Em uma fábrica de chocolate, a vendedora contou que entre sexta e sábado, só tiveram dois clientes, um deles um vizinho que foi tomar um chocolate quente. Em uma fábrica de malhas, uma semana sem vendas fez a vendedora temer pelo emprego.
Paulo César da Silva, enquanto isso, expressou gratidão pela cobertura jornalística: “Não dá para jogar para debaixo do tapete. É preciso resolver os problemas com a urgência que cada necessidade exige”. A presença da reportagem, segundo ele, ajuda a destacar a urgência das soluções necessárias para enfrentar essa crise.
Faça um comentário