
Modelo pioneiro desenvolvido pelo CNPEM é destaque internacional e promete revolucionar tratamentos e pesquisas dermatológicas.
Por Paloma de Sá | GNEWSUSA
Uma equipe de pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), localizado em Campinas, São Paulo, alcançou um feito inédito no Brasil: a criação de um modelo de pele artificial completo utilizando bioimpressão 3D. Este avanço foi recentemente publicado na Communications Biology, uma revista científica do grupo Nature, que detalhou o processo de fabricação e as potenciais aplicações do novo modelo, denominado Human Skin Equivalent with Hypodermis (HSEH).
O que torna esse modelo de pele inovador?
O grande diferencial do HSEH é a inclusão da hipoderme, a camada mais profunda da pele, composta por células adiposas. Até então, a maioria dos modelos de pele artificial focava apenas nas camadas superiores, como a epiderme e a derme. A presença da hipoderme é essencial para replicar com maior precisão a funcionalidade da pele humana, desempenhando papéis críticos na hidratação, regulação celular e resposta imunológica.
A pesquisa foi coordenada pela Dra. Ana Carolina M. Figueira, do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) do CNPEM, que destaca que o modelo com hipoderme oferece um ambiente mais próximo ao tecido humano real, permitindo a adesão, proliferação e diferenciação celular de maneira mais eficiente. “A inclusão da hipoderme não apenas replica a arquitetura da pele humana, mas também permite o estudo aprofundado de processos biológicos de forma mais precisa e ética”, explica Figueira.
Como o HSEH pode transformar a medicina e a pesquisa?
A pele artificial desenvolvida pelo CNPEM tem um potencial significativo para o tratamento de feridas e queimaduras, bem como para o desenvolvimento de novos medicamentos e cosméticos. Além disso, pode ser utilizada para a simulação de doenças de pele, como dermatites, sem a necessidade de testes em animais, oferecendo uma alternativa mais ética.
O primeiro estudo com o novo modelo já está em andamento em colaboração com pesquisadores da Holanda, visando analisar características da pele de pessoas com diabetes, que frequentemente enfrentam problemas de cicatrização, correndo risco de amputação.
Como é fabricada a pele artificial?
O processo de produção do HSEH leva aproximadamente 18 dias e utiliza uma combinação de células-tronco e células primárias. A bioimpressão 3D foi utilizada para criar uma estrutura de colágeno que serve como matriz para a interação das células, incluindo a hipoderme, que é frequentemente ignorada em modelos simplificados.
Impacto na redução de testes em animais
Uma das aplicações mais promissoras do HSEH é como substituto para testes em animais, especialmente na indústria de cosméticos e farmacêutica. O modelo permite avaliar a toxicidade e a resposta inflamatória de novos produtos com uma precisão muito próxima à fisiologia humana. Isso representa um avanço significativo, alinhando-se às políticas de bem-estar animal e práticas sustentáveis.
Além do CNPEM, o estudo teve colaboração de especialistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade do Porto, que contribuíram para a análise dos dados e otimização das técnicas de bioimpressão.
Reconhecimento e Prêmios
O CNPEM é amplamente reconhecido por suas iniciativas que buscam alternativas ao uso de animais em laboratório. Em 2022, a instituição recebeu o prêmio “Embrace – Conexões de Impacto” da Natura & Co pelo desenvolvimento da tecnologia Human-on-a-chip, que simula órgãos humanos para testes de toxicidade de ingredientes cosméticos sem o uso de animais. Esse projeto faz parte do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) e está integrado à Rede Nacional de Métodos Alternativos (Renama), coordenada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
O futuro da pesquisa de pele no Brasil
Com o desenvolvimento do HSEH, o CNPEM planeja expandir suas pesquisas, focando em enxertos de pele para tratamento de queimaduras e feridas crônicas. A tecnologia também abrirá portas para colaborações com instituições de pesquisa e indústrias que buscam alternativas éticas e eficazes para o desenvolvimento de novos tratamentos e produtos.
A construção desse modelo de pele completa coloca o Brasil ao lado de apenas seis outros países no mundo que dominam essa tecnologia, destacando-se como um centro de excelência na bioimpressão 3D e na engenharia de tecidos.
O novo modelo de pele artificial desenvolvido pelo CNPEM não só representa um avanço significativo para a medicina regenerativa e o desenvolvimento de novos tratamentos, mas também reforça o compromisso do Brasil com a ciência ética e inovadora.
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