
Coronel Marcelo Câmara é detido pela PF enquanto decisão do STF atinge também quem tenta contestar a versão de Mauro Cid.
Por Gilvania Alves|GNEWSUSA
Sem apresentar resistência, o coronel do Exército Marcelo Costa Câmara, que foi assessor direto de Jair Bolsonaro (PL), acabou levado mais uma vez pela Polícia Federal nesta quarta-feira (18). A ordem de prisão preventiva partiu do ministro Alexandre de Moraes, que voltou a endurecer medidas contra alvos de inquéritos relacionados à tentativa de impedir a posse de Lula em 2022.
Desta vez, não foi apenas a suposta quebra de restrições que colocou Câmara na cadeia de novo. Moraes abriu um novo inquérito para investigar o próprio advogado do coronel, Eduardo Kuntz, por questionar detalhes do acordo de colaboração premiada do tenente-coronel Mauro Cid — peça-chave das acusações que sustentam boa parte dos processos no STF.
No despacho, Moraes justificou sua decisão com o seguinte trecho: “O auto de investigação defensiva criminal nº 10405.11645/2023, juntado pelos advogados de Marcelo Costa Câmara, indica que o réu, por intermédio de seus advogados, tentou ‘a obtenção de elementos de informação complementares e destinados à construção de acervo probatório e instrutório’, consistindo, no caso concreto, na obtenção de informações sigilosas acerca do acordo de colaboração premiada do corréu Mauro César Barbosa Cid”.
Para a defesa, não houve ilegalidade. Kuntz relatou que foi procurado pelo próprio Cid através do Instagram, usando o perfil @gabrielar702, e explicou que apenas buscava entender se o acordo de delação teria sido obtido de forma forçada ou não: “para tentar verificar a legalidade do procedimento. Se foi tudo gravado, se houve pressão, o quão espontânea teria sido”. Ele também contou ter se reunido pessoalmente com Cid na Sociedade Hípica de Brasília para esclarecer pontos do depoimento.
A versão de Moraes, contudo, é de que o advogado teria ultrapassado o limite de suas atribuições e tentado acessar dados sigilosos. “As condutas noticiadas indicam que o réu e seu procurador tentaram obter os dados sigilosos relativos ao acordo de colaboração premiada, por meio de conversas realizadas pelo Instagram e por meio de contatos pessoais na Sociedade Hípica de Brasília, no período em que o réu Marcelo Costa Câmara estava preso”, afirmou o ministro.
Enquanto isso, a defesa do ex-presidente Bolsonaro também tenta anular o acordo de Cid, após revelações de trocas de mensagens que levantam dúvidas sobre a sinceridade do depoimento. Mesmo assim, Moraes rejeitou qualquer mudança na delação.
Para críticos, essas novas investidas do ministro mostram um Judiciário disposto a sufocar até mesmo tentativas de questionar provas que sustentam denúncias graves. Já para aliados de Câmara, as ações visam intimidar quem tenta expor contradições que poderiam mudar o rumo de processos que ainda nem chegaram a julgamento definitivo.
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