
Sequenciamento genético vai ajudar a antecipar diagnósticos e oferecer tratamentos mais eficazes na rede pública de saúde britânica.
Por Paloma de Sá | GNEWSUSA
A partir dos próximos anos, todos os bebês nascidos na Inglaterra terão seu DNA sequenciado logo após o nascimento. O objetivo é identificar predisposição genética a centenas de doenças, muitas delas raras e de difícil diagnóstico, permitindo intervenções precoces e tratamentos mais eficazes.
A iniciativa faz parte do novo plano de modernização do NHS (Serviço Nacional de Saúde britânico), que prevê transformar o modelo atual, focado em diagnóstico e tratamento, para um modelo de saúde preventiva, baseada em informações genéticas. O governo britânico anunciou um investimento de £ 650 milhões (aproximadamente R$ 4,8 bilhões) em pesquisa genética até 2030.
De acordo com o Secretário de Saúde do Reino Unido, Wes Streeting, o uso de tecnologias como a genômica e a inteligência artificial (IA) vai permitir que o NHS “preveja doenças, em vez de simplesmente reagir a elas”, trazendo mais qualidade de vida à população e reduzindo a pressão sobre os hospitais e serviços de saúde.
Sequenciamento completo do genoma
O mapeamento genético será feito a partir de amostras de sangue coletadas no cordão umbilical logo após o parto. O sequenciamento permitirá avaliar riscos para cerca de 7 mil doenças genéticas — aquelas causadas por alterações em um único gene —, como distrofias musculares, doenças hepáticas e renais, entre outras.
Essa medida surge após um projeto-piloto iniciado em outubro de 2024, que analisou o DNA de 100 mil recém-nascidos. A triagem se concentrou em distúrbios genéticos que aparecem ainda na infância e que possuem tratamentos disponíveis.
Atualmente, assim como no Brasil, os bebês na Inglaterra passam pelo chamado teste do pezinho, que detecta apenas nove condições genéticas e metabólicas. No Brasil, esse exame oferecido pelo SUS verifica sete doenças, como fenilcetonúria, hipotireoidismo congênito, fibrose cística e doença falciforme.
Uma revolução na medicina preventiva
“O avanço da tecnologia nos permite oferecer cuidados de saúde personalizados. Nosso objetivo é intervir antes mesmo que os primeiros sintomas apareçam, ajudando as pessoas a viverem mais e com mais saúde”, declarou o secretário Wes Streeting.
O projeto também faz parte dos planos para fortalecer a base de dados genômicos do país, por meio da iniciativa Genomics England, que pretende reunir até 500 mil genomas de cidadãos britânicos até 2030. Isso transformará o Reino Unido em uma das maiores potências mundiais em medicina genômica.
Desafios além da tecnologia
Apesar do otimismo, especialistas alertam que o sucesso do programa depende da formação de profissionais capacitados. Segundo o geneticista Robin Lovell-Badge, do Instituto Francis Crick, em Londres, não basta apenas fazer os testes; é fundamental contar com uma equipe qualificada para interpretar os dados e orientar corretamente os pacientes e suas famílias.
“O desafio não é só gerar informações, mas garantir que elas sejam compreendidas e utilizadas de forma útil e responsável”, afirma o geneticista. Ele também expressou preocupação com a falta de profissionais especializados, como conselheiros genéticos, que são fundamentais para acompanhar os casos que envolvem predisposição a doenças hereditárias.
Um modelo que pode inspirar o mundo
A decisão do Reino Unido de integrar o sequenciamento genético à triagem neonatal sinaliza uma tendência global de adoção da medicina personalizada e preventiva. Enquanto isso, países como o Brasil ainda enfrentam desafios para ampliar os testes básicos de triagem neonatal pelo SUS.
Se for bem-sucedido, o modelo britânico poderá servir de referência para outras nações interessadas em utilizar a genética como ferramenta essencial na saúde pública do futuro.
- Leia mais:
Faça um comentário