
Projeto visa prevenir complicações da infecção por Zika durante a gestação e proteger futuras gerações em caso de novos surtos da doença no Brasil.
Por Paloma de Sá | GNEWSUSA
O Instituto Butantan iniciou o desenvolvimento de um medicamento inovador baseado em anticorpos monoclonais com potencial de prevenir infecções por Zika vírus, especialmente em gestantes. O projeto marca um avanço estratégico na prevenção de doenças causadas por arbovírus, com foco na saúde materno-infantil.
A iniciativa usa como base um anticorpo desenvolvido pela Universidade Rockefeller, nos Estados Unidos, sob liderança do médico e imunologista brasileiro Michel Nussenzweig. O anticorpo humano, com alto potencial de neutralização do vírus, foi licenciado para o Butantan e está em fase de adaptação para produção farmacêutica em escala.
Produção nacional e foco preventivo
O diretor do Instituto Butantan, Esper Kallás, afirma que a produção será realizada em uma linhagem celular experimental desenvolvida no próprio laboratório da instituição. O objetivo é transformar esse anticorpo em um medicamento seguro e eficaz, principalmente para grávidas residentes em regiões afetadas por surtos de Zika.
“Estamos investindo na produção de anticorpos monoclonais em escala industrial para viabilizar os estudos clínicos. Esse projeto é uma ferramenta de preparação para futuros surtos, como o que enfrentamos em 2015 e 2016”, explica Kallás.
Durante a epidemia de Zika no Brasil, mais de 4.500 crianças nasceram com microcefalia, uma condição neurológica grave relacionada à infecção materna pelo vírus. O país chegou a declarar emergência em saúde pública, com 213 mil casos prováveis em 2016.
Entenda o funcionamento dos anticorpos monoclonais
Os anticorpos monoclonais (mAb) são proteínas produzidas em laboratório que imitam a resposta imunológica do corpo humano. No caso do Zika, o anticorpo identificado por Nussenzweig mostrou excelente capacidade de bloquear a infecção em testes com modelos animais. Publicado na prestigiada revista PNAS, o estudo revelou que a aplicação profilática em macacas grávidas reduziu significativamente a viremia e protegeu os fetos contra danos neurológicos.
A linhagem celular usada na produção do anticorpo foi criada no Laboratório de Biofármacos do Butantan, sob coordenação da pesquisadora Ana Maria Moro, e agora passa por modificações genéticas para prolongar sua permanência no organismo – uma medida essencial para garantir a proteção ao longo da gestação com uma única dose.
“O ideal é que esse anticorpo atue durante todo o período de risco gestacional, com aplicação logo no início da gravidez”, detalha a cientista.
Caminho até os estudos clínicos
Apesar dos avanços laboratoriais, os testes clínicos ainda não têm data definida para começar. A fase inicial envolverá voluntários saudáveis, seguida por estudos com pessoas infectadas, sempre com atenção rigorosa à segurança, especialmente no caso das gestantes. O Butantan prevê a aplicação de metodologias de infecção humana controlada, como já ocorre em centros de pesquisa nos Estados Unidos, para avaliar a proteção real do mAb em situações simuladas de exposição ao vírus.
“Comprovando-se a segurança e a eficácia, poderemos submeter o dossiê completo à Anvisa e avançar para uso emergencial, caso haja necessidade”, afirma Kallás.
Ferramenta complementar às vacinas
O diretor do Butantan ressalta que o anticorpo monoclonal não substitui as vacinas em desenvolvimento, mas serve como uma estratégia complementar, especialmente útil em situações de exposição imediata ou para populações que não estejam plenamente imunizadas.
“Mesmo as vacinas mais eficazes não garantem proteção total. O anticorpo pode ser uma alternativa imediata para proteger gestantes que vivem em áreas de risco e não tenham acesso rápido à imunização”, completa.
Zika permanece uma ameaça latente
Embora os casos de Zika tenham diminuído desde o pico epidêmico, o vírus segue circulando no Brasil, sobretudo em regiões com clima quente e presença do mosquito Aedes aegypti. A recente epidemia de dengue em 2024, que ultrapassou 6,5 milhões de casos prováveis e causou mais de 6 mil mortes, serviu de alerta para a possibilidade de novos surtos de arboviroses, incluindo o Zika.
Com esse novo projeto, o Instituto Butantan reforça sua missão de atuar não apenas no enfrentamento de crises sanitárias atuais, mas também na antecipação e preparação para futuras emergências, com soluções tecnológicas voltadas à proteção da saúde humana.
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